Jovens, ensino médio, ensino profissional e mercado de trabalho no Brasil

Entrevista com o economista e articulista da revista Veja, o Prof. Cláudio de Moura e Castro 

Formado em Economia pela UFMG, com mestrado pela Universidade de Yale, Claudio de Moura e Castro iniciou no programa de doutoramento na Universidade da Califórnia em Berkeley, terminando na Universidade de Vanderbilt (em Economia). Ensinou nos programas de mestrado da PUCRio, Fundação Getúlio Vargas, Universidade de Chicago, Universidade de Brasília, Universidade de Genebra e Universidade da Borgonha em Dijon. Trabalhou no IPEAINPES e foi coordenador técnico do Programa ECIEL, passando em seguida a diretor-geral da CAPES. Foi também secretário executivo do CNRH IPEA. No exterior, foi Chefe da Divisão de Políticas de Formação da OIT (Genebra), economista senior de Recursos Humanos do Banco Mundial, passando para o BID como chefe da Divisão de Programas Sociais. Ao aposentar-se do BID em fins do ano 2001, assumiu a posição de presidente do Conselho Consultivo da Faculdade Pitágoras. Autor de mais de trinta e cinco livros e mais de trezentos artigos científicos, é articulista da revista Veja. 

Cláudio de Moura e Castro será o primeiro conferencista do 2º Seminário do Ciclo de Seminários Internacionais Educação no Século XXI: modelos de sucesso, promovido pela Comissão de Educação e Cultura (CEC) da Câmara dos Deputados, que será realizado no dia 17 de setembro, a partir das 8h, no Auditório Nereu Ramos da Casa. Em entrevista, o professor antecipou um pouco do que será a sua palestra.

1. Onde estão os jovens brasileiros de 15 a 25 anos? Os que estão na escola estão onde deveriam? 

Muitos estudam, muitos trabalham. Mas é enorme a proporção dos que estudam e trabalham, desde os 15 anos. A partir de 20 anos, menos de 20% não trabalham. Ou seja, o curso superior (e boa parte do médio) é feito simultaneamente a algum trabalho. Sendo a escola muito pouco exigente, o trabalho não chega a atrapalhar. Não deveria ser assim, em um mundo ideal. Estudar deveria ser atividade de tempo integral. 

2. Dos alunos que ingressam no ensino médio, apenas cerca de 40% o concluem. O que acontece com o elevado contingente de jovens que inicia, mas não conclui o ensino médio? 

40% concluem na idade certa. Mas há o dobro de alunos no médio, por conta dos mais velhos. Na verdade – e isso pode ser dito para todos os níveis – os alunos brasileiros custam muito a abandonar a escola. Eles se atrasam, atrasam, mas costumam ir ficando. 
Voltando à sua pergunta, quem não termina o médio sofre uma forte penalidade em termos do seu salário. Ou seja, além do conhecimento trazido pela escola, como os melhores empregos exigem o médio completo, há um prêmio para quem o termina, pois adquire o direito de acesso a tais empregos. 

3. A maioria dos países do mundo possui um sistema diversificado de ensino médio, com uma proporção significativa de alunos matriculados em cursos voltados para o ingresso no mercado de trabalho. No Brasil a quase totalidade dos alunos e do ensino médio volta-se para a preparação para a Universidade. Estaria o mundo errado e o Brasil na direção correta? 

Qual a probabilidade de 30 países da OECD estarem errados e somente o Brasil certo?

4.Em seus trabalhos sobre formação profissional o senhor menciona a importância do ethos, ou seja, do ambiente da escola profissional como um fator determinante para o sucesso de cursos profissionais. É possível criar esse ethos em escolas públicas governamentais como as que temos no Brasil? Como essas idéias podem contribuir para a modelagem de novos tipos de ensino médio, a semelhança do que vem ocorrendo no resto do mundo desenvolvido? 

O problema é menos ser público ou privado ou ser ou não dominada pelo ethos do ensino acadêmico. Em uma escola, respira-se o ar do grupo que a domina. Em uma escola acadêmica, todos valorizam os assuntos intelectuais e o que vai junto com eles. A prática é quase sempre vítima do pedantismo e do preconceito contra coisas imediatamente aplicáveis ou que requeiram o uso das mãos. Assim sendo, quando o ensino profissional está em uma escola acadêmica, o primeiro que acontece é o preconceito contra os professores de oficina. Nota-se imediatamente o preconceito contra as empresas, contra o mercado e por aí afora. Aprender uma profissão é ser convertido à sua religião. É esposar os seus valores e princípios. Se isso tudo é massacrado na escola onde mandam os escribas, não há como aprender a profissão. 

5.Recentemente a imprensa divulgou um relatório do Conselho Nacional de Educação que denuncia a falta de mais de 200 mil professores de ensino médio, especialmente nas áreas das exatas. Alguns analistas observam que, ao contrário, faltam é alunos para o ensino médio, especialmente alunos qualificados. Como o senhor analisa esse aparente paradoxo? Afinal, faltam professores? 

Esse número de 200 mil reaparece a cada momento. A pergunta é de onde veio? Como foi calculado? É para substituir os professores mal formados que aí estão? É para continuar com um sistema onde há um número enorme de repetências, aumentando a necessidade de professores? Seja como for, faltam bons professores de ciências e não sabemos como formá-los, qualquer que seja o seu número.
 

Categoria pai: Seção - Entrevistas

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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