Entrevista com a professora Áine Hyland, Vice-Presidente do Conselho de Pesquisa Irlandês
Por Cíntia Magalhães
Em entrevista, a professora Áine Hyland, vice-presidente do Conselho de Pesquisa Irlandês para as Ciências Sociais e Humanas, definiu alguns passos para a implementação de uma reforma educativa bem sucedida a partir da experiência da Irlanda e de outros países. No dia 13 de agosto, a professora apresenta o Caso da Irlanda no primeiro do ciclo de três Seminários intitulados Educação no Século XXI: modelos de sucesso, promovidos pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
Áine Hyland aposentou-se recentemente como o professora da Educação e da vice-presidência da Universidade de Cork na Irlanda. Durante 25 anos, chefiou e foi membro de inúmeras Comissões de Educação na Irlanda. É membro do Programa Institucional de Avaliação da Associação Européia das Universidades, e coordena também uma rede de instituições de educação superior do Programa Institucional de Liderança da Fundação de Carnegie para o Avanço do Ensino e da Aprendizagem.
Quais são os critérios para avaliar uma reforma educativa bem sucedida? Como sabemos que um país implementou uma boa reforma? Como se identifica se um país está no caminho para uma boa reforma educativa?
Os critérios para a reforma necessitam ser ajustados pelo governo que está empreendendo a reforma e deve ser apropriado ao estágio de desenvolvimento daquele país. A primeira etapa na reforma educacional é realizar um exame “fact-finding” (busca dos fatos) da situação existente, de forma honesta e transparente. Quais estatísticas educacionais estão disponíveis considerando a participação em vários níveis da educação - básica, secundária e superior? O que estas estatísticas nos diz sobre a participação pelo gênero; posição por exemplo urbanarural; status sócio-econômico; fundo étnico (se relevante), etc?
O que eles nos dizem sobre a qualidade da educação fornecida - o tamanho das classes; o fundo educacional dos professores; o salário dos professores comparado ao de outras profissões? O atrativo da carreira de professor? A qualidade e a auto suficiência da infra-estrutura educacional - edifícios, transporte, tecnologia, etc.? Envolvimento dos pais; empregabilidade dos graduados, etc? A segunda etapa é ajustar um alvo realístico sob diversos aspectos, por exemplo: participação de alunos nos váriados níveis; tamanho das classes em cada nível; reforma do curriculum; treinamento dos professores, etc. Nós referimos, às vezes, a estes como alvos ESPERTOS – SMART TARGETS.
ESPECÍFICO: dizem exatamente o que você pretende.
MENSURÁVEL: você pode provar que os alcançou.
ALCANCE: você pode alcançá-los em poucas semanas seguintes.
REALÍSTICO: são sobre as ações que você pode comprovar.
TEMPO RELACIONADO: têm fins do prazo.
A terceira etapa é monitorar o progresso em uma base sistemática - pelo menos anualmente.
De acordo com os critérios acima, quais países implementaram reformas educativas bem sucedidas recentemente? O que estas reformas têm em comum? Que lições podem ser extraídas por outros países?
Nenhum país pode ser complacente no que se refere à qualidade de seu sistema educacional. Os ganhos a curto prazo podem facilmente ser corroídos se um país não for continuamente vigilante. A reforma educativa não é um assunto rápido e fácil. Os padrões requerem monitoria constante e um país deve estar pronto para mudar o direcionamento se uma medida da reforma não provar ser bem sucedida. Os países onde se vê a melhoria educacional contínua são os países Escandinavos da Europa, como por exemplo a Finlândia, Suécia e Noruega. Nestes países, o governo investe uma proporção elevada do PIB na educação e a qualidade da força de classe dos professores é elevada. Estes países também foram cometidos à elevada qualidade da educação por muitas décadas - e trabalharam continuamente para assegurar-se de que esta qualidade fosse mantida e melhorada o quanto possível.
Você tem uma experiência vasta mundialmente. Há diferenças em como os países em desenvolvimento focalizam ou devem focalizar suas reformas educativas? Se sim, quais são estas diferenças?
Sim - há diferenças. Por exemplo, alguns países investiram em reduzir o tamanho das classes e acreditam que as classes pequenas conduzem aos padrões elevados. Evidências de pesquisa sugerem que abaixo de um determinado tamanho - por exemplo 30 alunos por professor, o tamanho da classe não é particularmente significativo, exceto em áreas em desvantagem social e durante os primeiros anos de escolaridade. Portanto, os países como a Irlanda, que não investiram em reduzir o tamanho das classes abaixo de 30, também podem atingir bons resultados em alfabetização.
O investimento da Irlanda em educação, como uma proporção do PIB, está de acordo com o conceito da OECD - e ainda está entre os países de alto desenvolvimento em termos de alfabetização. Entretanto, os salários dos professores na Irlanda, especialmente os salários dos professores em classes júniors da educação básica, são elevados por padrões da OECD. Também professores em todos os níveis, incluindo da pré-escola, em escolas Irlandesas são graduados no ensino superior e bem formados.
Os indicadores de qualidade educacional no Brasil são péssimos. Em um país tal como o nosso, como deve se formular um projeto para a reforma educativa? Existem lições sobre o que deve ou não deve ser feito? Há uma melhor maneira de começar? Faz sentido estabelecer prioridades, se sim, quais seriam?
A primeira etapa deve admitir que os indicadores são pobres e necessitam ser melhorados. Organizando este seminário, o Brasil deu um primeiro passo importante. Honestidade e transparência em admitir que há um debate a ser dirigido são características também importantes. Publicidade pode ajudar a destacar as discussões e ganhar a sustentação pública para a reforma. Nesta consideração, a sustentação dos meios pode ser útil. Na Irlanda nós temos alguns correspondentes excelentes em educação (isto é repórteres) em nossos jornais nacionais, que se asseguram de que a educação permaneça na pauta e que o público seja bem informado. Isto aplica uma pressão sobre os políticos para iniciarem e darem suporte à reforma educativa. Faz muito sentido estabelecer prioridades e ajustar alvos e identificar mecanismos para acertar estes alvos. Se as reformas requererem o investimento financeiro, a escala deste investimento necessita ser identificada.