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Entre rimas e versos, tem muita história

18 de janeiro de 2016

Professora utiliza músicas brasileiras de diferentes ritmos e décadas para traçar percursos históricos do País

 

 

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Pricilla Kesley, do Todos Pela Educação

Corpo humano, operações matemáticas, ditadura militar e cartografia do Brasil foram alguns dos saberes trabalhados nas aulas de história da professora Alessandra Bremm na turma do 4° ano da Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Delfina Loureiro, em Lagoa Vermelha (RS). Tudo ao som de muita música brasileira, numa combinação que deu vida ao projeto “Do Samba ao Funk”, premiado, em 2015, pela Fundação Victor Civita (saiba mais aqui).

No ano letivo de 2014, Alessandra tinha uma proposta aparentemente simples: trabalhar a história da música brasileira. Porém, a iniciativa foi além de um registro passivo de informações. A música foi o fio condutor das atividades interdisciplinares dos estudantes por uma rede de diversos saberes. Interdisciplinar e intertextual, o projeto revelou às crianças que nenhum conhecimento está isolado no mundo e que estudar história pode ir além dos livros.

 

Ponte musical

Em 2014, o hit do momento era “Beijinho no ombro”. Das formaturas universitárias, aos aniversários familiares, o single da funkeira Valesca Popozuda estava na ponta da língua. Na escola Professora Delfina não era diferente. “Meus alunos sempre cantavam funks no recreio ou dentro da sala de aula. Ali eu vi uma oportunidade de trabalhar com música de um modo diferente”, explica Alessandra.

A fim de redirecionar essa inclinação musical para a aprendizagem, a professora idealizou uma sequência de tarefas envolvendo os principais estilos musicais do país – do samba ao funk –, de modo a estabelecer “uma ponte entre o passado e o presente”, conforme pontua a educadora.

Atenta à interdisciplinaridade, Alessandra fez um diagnóstico por meio da produção escrita sobre preferências do universo do entretenimento musical. Logo a educadora notou o interesse das crianças concentrado no funk e conhecimento limitado de outros estilos. Diante disso, ela partilhou com os estudantes uma proposta de trabalho: pesquisar diversos ritmos musicais em diferentes épocas do Brasil, ler e analisar textos, confeccionar material temático e socializar o conhecimento com a escola.

Recebido com entusiasmo pela turma, o projeto teve início com uma pesquisa, cujo objetivo era descobrir quais estilos musicais povoaram a infância dos pais dos alunos. O material coletado deu dicas a Alessandra sobre o contexto cultural da turma e ajudou a estabelecer a abrangência histórica do projeto, fixado no período entre 1910 e a atualidade.

Falando de música

Para abarcar 100 anos de histórica musical, a educadora planejou levar a garotada ao laboratório de informática da escola. Mas um problema de infraestrutura interrompeu os planos de Alessandra e, sem acesso à rede, a estratégia da educadora mudou de rumo.

Ela compilou uma série de materiais sobre artistas e músicas para trabalhar em classe com os estudantes, entre eles: vídeos, apresentações em PowerPoint e textos de formatos diversos, a ideia era quanto mais variedade de linguagens, melhor.

Durante três meses, as crianças eram recepcionadas com a missão de descobrir novas músicas e artistas, o que, como Alessandra pôde comprovar rapidamente, inspirou e motivou os alunos. “Eles se envolveram desde o começo e fizeram com que o trabalho fosse produtivo e criativo”, lembra. Sucesso em classe, fora da sala, Alessandra sentia que os demais professores questionavam a metodologia. “Eles achavam estranho eu passar vídeos todos os dias. Mas eu não estava só ocupando tempo, eu tinha um objetivo pedagógico”, explica a educadora. “Os professores resistem a esse modelo de trabalho porque ele exige muito empenho. Eu não sabia tudo de música, tive que pesquisar”.

A dedicação deu resultado. Alessandra realizou com os estudantes aquilo que batizou de “imersão musical”. Nessa etapa, que durou boa parte do projeto, os estudantes assistiram a vídeos e apresentações e anotaram as informações mais importantes para arquivar em um envelope.

Cavaquinho, violão e guitarra

Descortinadas as origens históricas, ritmos já conhecidos foram transformados aos olhos dos estudantes. O sertanejo, por exemplo, foi estudado em suas três fases: sertanejo de raiz, sertanejo romântico e sertanejo universitário. As descobertas musicais foram pontuadas pelas observações das características culturais, geográficas e históricas dos compositores e artistas.

Com o samba não foi diferente. As imagens em preto e branco dos primeiros sambistas brasileiros deixaram as crianças maravilhadas. Além de compreender a mistura de ritmos que deu origem ao samba – ritmos africanos e modinhas de salão –, os alunos tiveram a oportunidade de observar limitações técnicas do início do século passado como a inexistência da televisão ou de computadores em um dos muitos exercícios de resgate histórico.

Grandes nomes do samba desfilaram pela sala de aula: Adoniran Barbosa, Pixinguinha, Noel Rosa, Paulinho da Viola e Martinho da Vila. Do cavaquinho para o violão, a professora também apresentou aos estudantes a bossa nova e a MPB (Música Popular Brasileira). Com as músicas de Caetano Veloso e Gilberto Gil, foram trazidos ao debate temas como a ditadura militar e o exílio.

Com o rock dos anos 80, a turma exercitou a capacidade de estabelecer relações entre cultura e os momentos históricos. Com músicas como “Que país é esse?” e “A canção do senhor da guerra”, ambas da banda Legião Urbana, as crianças estabeleceram pontes entre notícias sobre conflitos armados e crises políticas atuais às letras das canções. “Esse foi um dos exercícios interdisciplinares, mas o projeto foi interdisciplinar em todos os momentos”, revela.

Sob o auxílio da música, a turma fez uma viagem por diversos campos do saber. Houve produção escrita; leitura de diversas linguagens (vídeos e textos de vários formatos); em matemática, trabalhou-se com anos e idades; na geografia, houve a utilização de mapas do Brasil para localizar cidades de origem dos músicos; com a música “O Pulso”, da banda Titãs, a turma discutiu ciências com a temática de prevenção e doenças; e, por fim, em história, os estudantes observaram os contextos culturais, principais invenções de cada época e características políticas. “As letras das músicas são documentos históricos, eu quebrei o currículo formal dos Anos Iniciais e trabalhei essas fontes de uma maneira que ficou mais fácil para as crianças entender história”, explica.

Escritos e desenhos

Os últimos ritmos a ser estudados foram o Axé, dos anos 90, e o Funk que, apesar de ter nascido nos Estados Unidos, se popularizou no Brasil nos anos 2000 e segue fazendo grande sucesso na modalidade que aborda a ostentação e o consumo. Sendo o Funk o ritmo de preferência dos alunos, Alessandra se deteve em exercícios de interpretação de letras como “O bonde passou” e “Plaquê de 100”, respectivamente dos cantores MC Gui e do MC Guimê, fazendo uma comparação com a análise da música “Não quero dinheiro”, do cantor Tim Maia.

 

Na finalização do projeto, os alunos fizeram o resgate do material arquivado ao longo das aulas e colocaram em prática o conhecimento adquirido por meio da produção de uma linha do tempo da história da música. O resultado foi um cartaz de 3 metros de comprimento contendo, em colagens, os destaques musicais de cada década.

 

Para aprimorar ainda mais a produção textual dos alunos e partilhar com a comunidade o resultado do projeto, Alessandra propôs uma atividade diferente: a criação de histórias em quadrinho para expor curiosidades sobre artistas e músicas brasileiras de diferentes épocas. Em tirinhas de seis quadrinhos, eles fizeram pequenos informes como “Saiba mais sobre o Funk”, contando a raiz soul desses ritmos, e “Você conhece Carmem Miranda”, revelando que a cantora e atriz brasileira tem uma estrela na calçada da fama. “Foi um bom exercício para revisar escrita e datas. Fizemos cópias que ficaram no acervo da biblioteca e muitos professores usaram os gibis em aulas”, explica.

Ser professor: uma coisa importante

“O prêmio foi importante pelo reconhecimento do meu trabalho. No dia a dia da sala de aula, o educador não tem essa consideração”, diz Alessandra sobre a emoção de ter sido eleita uma dos Educadores Nota 10.

Formada em pedagogia pela Universidade de Passo Fundo, a professora revela que a vocação para a Educação não veio de um dom, mas sim do contato com a sala de aula. “No primeiro dia de estágio do meu magistério, eu me encontrei. Nas aulas eu me sentia muito bem, eu sentia que aquilo [dar aulas] era uma coisa importante a fazer”, alegra-se.

Sobre um educador que a tenha inspirado, a memória de Alessandra traz a imagem da professora da 4ª série (hoje 5º ano) do Ensino Fundamental. “Ela era muito segura e isso passava para a gente”, conta. “Segurança ao ensinar é uma das coisas que eu busco e isso vem com experiência e preparo. Não adianta entrar na sala de aula sem dominar a matéria, é preciso saber o que você quer que os alunos aprendam”, afirma.

Amante da leitura e escrita, Alessandra conta que gosta de ensinar todas as disciplinas, mas é em língua portuguesa que ela se realiza. Paixão que extrapolou a sala de aula e levou a educadora à escrita de três livros, dois sobre Educação e um romance. “Eu sou meio autodidata”, ri. “Apesar de me identificar mais com língua portuguesa, gosto de todas disciplinas e também de trabalhar com projetos. Essa é a estratégia que tira o aluno da passividade o o transforma em protagonista”, afirma.

Fonte: Todos pela  educação 


Assista ao vídeo e conheça melhor o projeto

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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