Quem são esses brasileiros analfabetos residentes no DF?
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Novo Híbrido de livro e vídeo gera controvérsia No mês de setembro/2009, as visitas a este site somaram 4,04 GB. Novo em 'Entrevistas' - Martin Carnoy Um retrato de sala de aula http://www.youtube.com/watch?v=Z00jjc-WtZI&feature=player_embedded# Ouça 'Volver a los 17', de Mercedes Sosa e Milton Nascimento Novo em 'Artigos' Conheçam Ardi, nossa tetaravó Ardipithecus http://media.folha.uol.com.br/educacao/2009/10/01/enem-prova-2_dia.pdf RESENHA BORTONI-RICARDO, S. M. (2008). O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Parábola Editorial. 135p. (Série Estratégias de Ensino, 8) Resenhado por: Adail Sebastião Rodrigues-Júnior Universidade Federal de Ouro Preto A introdução à terceira edição do The Sage Handbook of Qualitative Research,
feita por Denzin e Lincoln (2005), problematiza a fundamentação
histórica da pesquisa qualitativa, orientada por paradigmas
sociológicos e antropológicos. A ideia central que orientou grande
parte das discussões em torno da pesquisa qualitativa e seus métodos
mais comuns (observação, participação, entrevista, etnografia,
colaboração, etc.) sustentava uma visão imperialista e colonizadora, de
cujas bases, nos idos anos 20 e 30 do século passado, emergiam práticas
de observação e interpretação da cultura do “outro”. Estudos de Boas, Mead, Bateson, Malinowski, entre outros, inauguraram, por assim dizer, essa perspectiva de análise da outridade, de um ponto de vista urbano e civilizado. É
curioso perceber nas colocações de Denzin e Lincoln que o paradigma
qualitativo orientou-se por esse posicionamento inicial e que somente
nas décadas de 1980 e 1990 a pesquisa qualitativa atingiu determinado
auge, por ter-se revelado uma abordagem que investigava as relações
humanas em contextos variados. Nessas mesmas décadas, a pesquisa
qualitativa, mais especificamente seu método de perquirição conhecido
como etnografia, recebeu atenção significativa de
educadores, dentre eles Frederick Erickson e Judith L. Green, nos
Estados Unidos da América, e Ben Rampton e Brian Street, no Reino
Unido. Embora seguindo perspectivas distintas, esses pesquisadores,
legatários de teóricos como John Gumperz, Erving Goffman, Dell Hymes, e
dos próprios fundadores da disciplina, fundamentaram a pesquisa
qualitativa como uma abordagem que não apenas investigava comunidades
diferentes, mas sobretudo que vertia olhares para as comunidades
urbanas, sendo a escola uma dessas comunidades. No Brasil, uma das representantes dessa vertente é a professora Stella Maris Bortoni-Ricardo. Seu livro, O Professor Pesquisador,
é um exemplo de que a pesquisa qualitativa salta das prateleiras de
livrarias e bibliotecas, presa em livros e relatórios de pesquisa em
forma de monografias, teses e artigos, para a vida cotidiana do mundo
escolar. A figura central desse movimento é o professor da escola
regular, que ora assume o papel de um pesquisador em formação. O livro
de Bortoni-Ricardo, como bem posto, mostra ao professor que é possível
realizar pesquisa em sua sala de aula, na comunidade escolar da qual
participa, enfatizando o processo de aprendizagem, por meio de três
questões fundamentais: i) o que está acontecendo aqui agora? ii) o que
as ações que estou observando significam para os sujeitos nelas
envolvidos? iii) que relações existem entre as ações do microcosmo
escolar e as ações sociais mais amplas? Em
busca de respostas para essas três perguntas, Bortoni-Ricardo dividiu
seu livro em introdução e onze capítulos. Na introdução, a autora
define, de modo claro e completo, a concepção de pesquisa em sala de
aula e seus dois paradigmas: o positivismo e o interpretativismo,
afirmando que a pesquisa qualitativa insere-se no rol dos estudos
interpretativistas. Essa discussão lança luz sobre pontos fundantes das
duas perspectivas, sem, no entanto, resvalar na verbosidade comum dos
manuais de pesquisa. Isso porque é visível, ao longo da obra, a
preocupação magna da autora em atingir a proposta de orientação de
professores acerca das nuances da pesquisa. O
capítulo 1, “Postulados do paradigma positivista”, tece comentários
sobre a construção histórica desse postulado, desde Auguste Comte, no
século 19, até Popper e Kuhn, no século 20. Além dessas discussões, os
capítulos trazem comentários que ilustram as discussões aventadas,
separados em quadros com transcrições de aulas proferidas pela autora a
seus alunos da Universidade de Brasília. Vê-se, portanto, que o livro O Professor Pesquisador parte também de experiências docentes da autora. Dando
continuidade ao paradigma positivista, o capítulo 2, “Exemplo de
pesquisa quantitativa experimental”, traduz uma inquietação constante
de Bortoni-Ricardo, qual seja, exemplificar, ao longo do livro,
aspectos teoricamente apresentados. Nesse capítulo, a autora discute as
reações de falantes de português brasileiro à concordância verbal
não-padrão, com base em sua dissertação de Mestrado. Conceitos-chave,
como, por exemplo, senso comum, saliência, dialeto padrão e não-padrão,
variância, entre outros, ilustram para o leitor os passos metodológicos
de uma pesquisa de base empiricista. Ao analisar informantes
universitários e supletivistas, Bortoni-Ricardo conclui que “a
distinção entre os dois dialetos ocorre significativamente mais entre
falantes universitários do que entre falantes do curso supletivo” (pp.
25-6). O
capítulo 3 do livro de Bortoni-Ricardo, “Postulados do paradigma
interpretativista”, explora a idéia de que a observação do mundo e dos
fenômenos que nele se dão está diretamente vinculada às práticas
sociais, e seus significados, dos indivíduos. Correlacionando essa
afirmativa à realidade da escola, a autora pontua o seguinte: O
docente que consegue associar o trabalho de pesquisa a seu fazer
pedagógico, tornando-se um professor pesquisador de sua própria prática
ou das práticas pedagógicas com as quais convive, estará no caminho de
aperfeiçoar-se profissionalmente, desenvolvendo uma melhor compreensão
de suas ações como mediador de conhecimentos e de seu processo
interacional com os educandos. Vai também ter uma melhor compreensão do
processo de ensino e de aprendizagem (pp. 32-3). A
autora acrescenta ainda que o termo “interpretativismo” guarda, em si,
um conjunto de métodos e práticas típicos da pesquisa qualitativa,
citando, entre vários, a etnografia e a observação participante. Dado
seu interesse de “entender, interpretar fenômenos sociais inseridos em
um contexto” (p. 34), a pesquisa qualitativa encontra no método
etnográfico um conjunto de procedimentos que busca desvelar realidades
implícitas, muitas vezes imersas na cotidianidade de ações sociais não
facilmente perceptíveis ao olhar de quem participa ativamente dessas
ações. Para exemplificar a etnografia, Bortoni-Ricardo elege os
trabalhos de dois grandes antropólogos, Malinowski e Mead, que
fundamentaram os preceitos da etnografia como lógica de investigação.
Além disso, a autora expande suas discussões para explorar o conceito
de “competência comunicativa” (p. 39), cunhado por Dell Hymes,
sociolinguista e antropólogo norte-americano. Com esses apontamentos, a
autora prepara o campo para orientar a personagem principal de sua
obra: o professor enquanto docente e pesquisador de sua prática
pedagógica. Esse, portanto, é o tópico do próximo capítulo. No
capítulo 4, “O professor pesquisador”, Bortoni-Ricardo elucida que à
pesquisa interpretativista interessa o detalhamento de uma situação
específica e não à criação de leis universais. A inobservância desse
critério leva, muitas vezes, a interpretações equivocadas no momento de
análise dos dados gerados por observações, entrevistas e notas de
campo. Tendo como base o trabalho seminal de Shirley Brice-Heath
(1983), em seu livro Ways with words, Bortoni-Ricardo
discute a noção de “andaime”, originalmente proposto pelo psicólogo
Jerome Bruner e amplamente utilizado em pesquisas educacionais
orientadas por uma perspectiva vygotskyana. É curioso perceber que a
autora consegue traduzir claramente conceitos às vezes complexos, a fim
de que o professor-leitor de sua obra consiga internalizar tais
conceitos e observá-los em sua própria vivência pedagógica. Assim
fazendo, a autora conclui que o professor pesquisador, além de usuário
do conhecimento produzido em pesquisas, é, essencialmente, um gerador
de conhecimentos dos problemas que experiencia cotidianamente, no
contexto escolar, equivalendo, portanto, a um pesquisador de sua
própria ação e de seus colegas. Após
esclarecer o papel do professor-pesquisador, Bortoni-Ricardo tece
comentários esclarecedores acerca das “Rotinas da pesquisa qualitativa
(capítulo 5), da “Coleta e análise de dados” (capítulo 6) e dos “Elos
entre asserções e dados” (capítulo 7). Nessa tríade, a autora demonstra
a rotina do desenvolvimento de uma pesquisa, orientada por objetivos
claramente expostos em um projeto de pesquisa, por observação minuciosa
e trabalho de campo detalhado e, sobretudo, pela colaboração entre
pesquisador e professor pesquisado. Exemplos de como lidar em contexto
de pesquisa, que olhar verter para esse ou aquele fenômeno e como
interpretá-lo abundam nesses três capítulos. Entrar em campo sem
perguntas exploratórias previamente definidas compromete a capacidade
de observação do pesquisador, “pois quem não sabe o que procura não o
percebe quando o encontra...” (p. 73). Mantendo
sua inquietação, Bortoni-Ricardo oferece exemplos de projetos de
pesquisa sobre os procedimentos da pesquisa qualitativa apresentadas
nos capítulos anteriores. O capítulo 9, “Projeto de pesquisa
qualitativa”, apresenta uma pesquisa ampla, na vertente etnográfica de
estudos sociolinguísticos educacionais, acerca das rotinas
interacionais em sala de aula, com ênfase em protocolos interacionais
ou sequências interacionais presentes no trabalho pedagógico. O
capítulo 10, “Pré-projetos de pesquisas qualitativas”, ilustra ainda
mais as discussões aventadas, oportunizando ao professor pesquisador o
contato com temas de pesquisa qualitativa educacional, e seus
procedimentos, preparando-o para a formalização de temas investigativos
por meio de projetos de Mestrado stricto sensu. Por
fim, o capítulo 11, “O paradigma de redes sociais para a análise
qualitativa”, discute aspectos fundantes da análise de redes sociais,
procedimento muito útil em pesquisas educacionais. No entanto, senti
falta de exemplificações, como feito ao longo do livro, que tivessem
relação direta com eventos escolares. Bortoni-Ricardo lançou mão de sua
pesquisa de doutorado, cujo tema é a análise sociolinguística de uma
comunidade de migrantes rurais radicados em Brasília. Apesar de
interessante, o exemplo destoa do padrão apresentado pela autora em seu
livro, ou seja, exemplos reais ocorridos em encontros sociais no âmbito
escolar. Para
finalizar essa resenha, apresento duas sugestões. A primeira, de ordem
editorial, seria a criação, para a segunda edição do livro, de um
glossário com os termos-chave elencados ao longo da obra e sua
localização no texto, tais como, “experimentação”, “indução”,
“afirmações ontológicas”, “fato”, “valor”, “raciocínio científico”,
“conceito de saliência”, “etnografia”, “observação participante”,
“pesquisa-ação”, “estudo de caso”, “andaime”, “turno de fala”, dentre
vários termos. O glossário facilitaria a busca pelo termo-chave e seria
um meio de o leitor, em especial o professor pesquisador, revisitar os
conceitos estudados e correlacioná-los à sua própria realidade. A
segunda sugestão, de ordem crítico-pessoal, é que todos os
profissionais e pesquisadores envolvidos com a educação leiam o livro O Professor Pesquisador.
Bortoni-Ricardo conseguiu reunir nessa obra o critério científico e a
prática pedagógica, interligando o pesquisador ao objeto pesquisado e
demonstrando que a pesquisa é parte inerente do ser humano, por ser
este um agente social rodeado de práticas que incessantemente o
convidam ao escrutínio. Referências: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (2005). Introduction: the discipline and practice of qualitative research. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (orgs.). The Sage Handbook of Qualitative Research. 3ed. Thousand Oaks, London, New Delhi: Sage. pp. 1-32. HEATH, S. B. (1983). Ways with Words: language, life, and work in communities and classrooms. Cambridge: Cambridge University Press.