Nova ortografia*

 

Carlos Alberto Faraco**

 

O governo brasileiro ainda não definiu o cronograma de implantação da nova ortografia decorrente do Acordo Ortográfico assinado pelos países de língua oficial portuguesa em 1990 (ver nosso artigo “Mudanças ortográficas no horizonte” neste mesmo site). Deve, no entanto, fazê-lo em breve.

O FNDE já estabeleceu (talvez prematuramente) que os livros didáticos que serão distribuídos às escolas em 2010 pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) deverão estar já na nova ortografia.

Nos demais casos (concursos, vestibulares e edições em geral), vai haver, necessariamente, um período de transição durante o qual as duas ortografias serão aceitas. Até que este prazo vença, teremos tempo para nos adaptar às mudanças (que são poucas). Elas podem ser assim resumidas:

 

A – Supressão de acentos

 

1.     não use mais o trema: linguiça, tranquilo, cinquenta, sequestro;

2.     não use mais o acento agudo para marcar os ditongos abertos oi e ei

em palavras paroxítonas: paranoia, paranoico, boia, jiboia, assembleia, ideia, plateia;

3.     não acentue mais as duplas oo e ee: voo, enjoo, abençoo, leem, creem, deem;

4.     não acentue mais as seguintes palavras:

- para (verbo parar);

- pera (fruta);

- polo (substantivo: polo Norte, polo industrial);

- polo (substantivo – um tipo de falcão);

- pelo (substantivo – o pelo do gato);

- pelo e pela (verbo pelar);

- pela (substantivo – um tipo de bola e de jogo);

- pero (substantivo – uma variedade de maçã);

5.     não acentue mais o u e o i tônicos em palavras paroxítonas quando precedidos de ditongo: baiuca, feiura;

6.     não acentue mais o u tônico de verbos como averiguar, apaziguar, arguir: averigue, apazigue, arguem;

7.     a palavra forma (ô) pode ser grafada com ou sem o acento circunflexo (forma ou fôrma).

 

 

B – Hífen

 

1.     no caso de palavras formadas por prefixação, só se usa o hífen nos seguintes casos:

 

·        o segundo elemento começa com h:

super-homem, semi-hospitalar, sub-humano;

 

Exceção: manteve-se a regra atual que descarta o hífen nas palavras formadas pelos prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial (desumano, inábil, inumano).

 

 

·        o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com a mesma vogal:

contra-almirante, supra-auricular, auto-observação, micro-onda, infra-axilar;

 

Exceção: manteve-se a regra atual que descarta o hífen com o prefixo co- (mesmo quando o segundo elemento começa com o): cooperação, coobrigação, coordenação, coadministração, coparticipação, coprodutor.

 

 

·        o prefixo é pré-, pós-, pró-:

pré-primário, pré-fabricado, pós-graduação, pós-moderno, pró-europeu, pró-reitor;

 

·        o prefixo é circum- ou pan- e o segundo elemento começa com vogal, h, m ou n:

circum-adjacente, circum-mediterrâneo, circum-navegação, pan-americano, pan-helenismo, pan-mítico.

 

2.     fica abolido o hífen:

 

·        quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas:

antirreligioso, contrarregra, antirrugas, infrassom, antissemita, microssistema, minissaia, contrassenso;

 

Exceção: manteve-se, neste caso, o hífen quando os prefixos terminam com r –  hiper-, super-, inter-:

hiper-requintado, hiper-rancoroso, inter-racial, inter-regional, super-realista

 

·        quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente:

antiaéreo, agroindustrial, hidroelétrica, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, extraescolar.

 

Observação

O Acordo estipula que não se usa mais o hífen em palavras compostas em que se perdeu o senso de composição e cita paralamas e mandachuva. O texto do Acordo, porém, não arrola todos os casos em que isso vai ocorrer, o que constitui um problema para a implantação da nova ortografia.

 Conseqüência: para resolver esta dúvida, temos de aguardar a publicação do Vocabulário Ortográfico Comum que deverá ser organizado, sob supervisão do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (da CPLP- Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), por uma comissão com representantes da Academia das Ciências de Lisboa, da Academia Brasileira de Letras e de entidades congêneres dos outros países.

Enquanto aguardamos o Vocabulário Ortográfico, passe a grafar paralamas e mandachuva.

 

 

C – Letras maiúsculas

 

Se compararmos o disposto no Acordo com o que está definido no atual Formulário Ortográfico brasileiro, vamos ver que houve uma simplificação no uso obrigatório das letras maiúsculas. Elas ficaram restritas a:

·        nomes próprios de pessoas (João, Maria), lugares (Curitiba, Rio de Janeiro), instituições (Instituto Nacional da Seguridade Social, Ministério da Educação) e seres mitológicos (Netuno, Zeus);

·        a nomes de festas (Natal, Páscoa, Ramadão);

·        na designação dos pontos cardeais quando se referem a grandes regiões (Nordeste, Oriente);

·        nas siglas (FAO, ONU);

·        nas iniciais de abreviaturas (Sr. Cardoso, Gen. Mello, V. Ex.ª)

·        e nos títulos de periódicos (Folha de S. Paulo, Gazeta do Povo).

Ficou facultativo usar a letra maiúscula nos nomes que designam os domínios do saber (matemática ou Matemática), nos títulos (Cardealcardeal Seabra, Doutordoutor Fernandes, Santasanta Bárbara) e nas categorizações de logradouros públicos (Ruarua da Liberdade), de templos (Igrejaigreja do Bonfim) e edifícios (Edifícioedifício Cruzeiro).

______________

*Artigo publicado na coluna do autor no site da rádio CBN-Curitiba (www.cbncuritiba.com.br)

 

**Professor Titular (aposentado) de Língua Portuguesa da Universidade Federal do Paraná.  Email: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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