Substância criada em laboratório altera produção de hormônios, elimina metástases e diminui a quantidade de proteína no sangue

Rodrigo Craveiro
Da equipe do Correio Braziliense

Até 2011, uma pílula comprada na farmácia e tomada diariamente fará desaparecer tumores que se desenvolveram na próstata e se disseminaram para outros órgãos. Se não tivesse partido do médico Johann De Bono, oncologista do Institute of Cancer Research — com sede em Londres —, a previsão seria considerada fruto da mente de algum lunático. De Bono e 15 cientistas do renomado centro de pesquisas britânico descobriram que a substância sintética acetato de abiraterona conseguiu tratar o câncer de próstata em 80% dos pacientes, alguns deles praticamente desenganados pela medicina. Além de eficaz, a droga mostrou-se segura e bem menos agressiva que a quimioterapia.

Os resultados da primeira fase dos testes clínicos foram publicados na edição de ontem da revista científica Journal of Clinical Oncology. Líder do estudo, De Bono disse ao Correio que prefere o termo “remissão” à palavra “cura”, apesar de reconhecer o impacto da pesquisa. “Nossa droga conseguiu encolher e fazer sumir tumores que haviam se espalhado para o fígado e os ossos”, afirma o estudioso. “O acetato de abiraterona controla o câncer onde quer que ele esteja.” Também reduz de modo dramático o nível de PSA — proteína fabricada pela glândula e considerada indicador do câncer.

Produzida pelo Cougar Biotechnology, laboratório sediado em Los Angeles (Estados Unidos), a droga inibe a produção do citocromo P (CYP) 17, enzima que desempenha papel-chave na síntese dos hormônios sexuais androgênio e estrogênio. “O acetato de abiraterona combate essas enzimas no próprio tumor”, explica De Bono. “A droga altera a produção dos hormônios masculinos em todo o corpo”, acrescenta o britânico. Ao atuar na CYP 17, a substância bloqueia os hormônios que levam à progressão da doença. Grosso modo, ela “condena” as células cancerígenas a morrerem de fome.

Os medicamentos atuais interrompem a produção testicular e não provocam impacto no câncer. “A abiraterona causa maiores remissões entre pacientes cujos tumores eram resistentes a todos os tipos de tratamento”, comenta De Bono. “Como os tumores de próstata são abastecidos por hormônios dos testículos, o que fizemos foi remover as sementes de crescimento do câncer.”

Pesquisa
Os cientistas acompanharam 104 pacientes com idade média de 69 anos, entre dezembro de 2005 e fevereiro de 2007. Todos resistiam à idéia de castração e administração de antiandrogênios, substâncias que abrandam sinais sexuais masculinos. “A taxa de resposta variou de 70% a 80%, baseada na medição de PSA”, afirma De Bono. Os especialistas consideram uma redução de 30% no nível da proteína como importante para a sobrevida. Em 20% dos pacientes, a contagem de PSA caiu 90%. Entre 70% e 80% dos pacientes, ela diminuiu em 30% . De 60% a 70% dos doentes apresentaram redução maior que 50%. Em alguns casos, voluntários estão há 30 meses sem sinal do câncer. Pelo menos 250 doentes tiveram resultados semelhantes.

A ciência e entidades civis mantêm resistência em considerar o avanço uma revolução terapêutica. “É um desenvolvimento incrível, que tem sido avidamente antecipado”, afirmou à emissora britânica BBC John Neate, da organização The Prostate Cancer Charity. David Webb, especialista em farmacologia pela University of Edinbugh, concorda: “Essa substância parece promissora, mas estamos nos primórdios do desenvolvimento clínico”.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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