Brasília expandida
Metrópole de fato

Área de influência da capital transcende, e muito, as 29 regiões administrativas do DF e as 22 cidades do Entorno. Estudo do IBGE indica que ela é referência para 9,6 milhões de pessoas em 298 municípios

Diego Amorim
Da equipe do Correio

Fotos: Paulo H. CarvalhoCBD.A Press
Os primos Mateus e Daniel Freitas, ambos de nove anos, são de Buritis, em Minas, e alimentam a imagem de Brasília como referência de cidade grande
 
Os moradores de Arinos e de Buritis, no interior de Minas Gerais, não puxam o “r” nem dizem tanto “uai” como os legítimos mineiros. A maioria, por sinal, nunca pisou em Belo Horizonte. Quando se pensa em estudo, trabalho, compras, saúde, lazer ou até serviços simples como o desbloqueio de um celular, o caminho das pedras é a rodovia BR-020. “Nossa capital é Brasília”, define o comerciante Ronei Calazans, 36 anos, nascido e criado na Buritis de pouco mais de 20 mil habitantes, a 215km de Brasília.

Ronei pega a estrada com a mulher e os dois filhos pelo menos uma vez a cada dois meses. Para o comerciante e quase todo mundo que vive naquela cidade quente e acolhedora, Brasília é vista assim: um lugar próximo, onde tem de tudo. Ronei, por exemplo, recorre a ela quando quer fazer uma consulta médica com algum especialista, quando quer levar as crianças para passear no zoológico e no shopping ou até quando quer fazer as compras do mês. “Se o cara for bom de compra, sai mais barato fazer a feira lá”, dá a dica o buritiense — como é chamado quem nasce em Buritis.

A região de influência da capital do país vai muito além das 29 regiões administrativas do Distrito Federal e das 22 cidades do Entorno. Brasília é referência para mais de 9,6 milhões de pessoas que vivem em 298 municípios. Estudo divulgado no último dia 10 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela como, principalmente, boa parte de Goiás, do noroeste de Minas e do oeste da Bahia dependem da capital federal, que saiu da sombra de Goiânia e obteve vida própria ao se consolidar como base de uma área de influência na região central do país.

Nas três primeiras edições do estudo intitulado Regiões de Influência das Cidades — em 1972, 1987 e 2000 —, o poder de Brasília explicava-se pelo fato de ser o centro político e o palco das decisões administrativas do país. Desta vez, ao lado do Rio de Janeiro, a cidade recebeu o título de metrópole nacional e assumiu o status de capital em todas as dimensões. “Agora ela só está atrás de São Paulo. E essa importância não é mais somente pela forte presença do governo federal”, analisa a geógrafa e técnica do IBGE, Evangelina de Oliveira.

A rede urbana de Brasília ganhou fôlego com o avanço do setor empresarial. O IBGE observou que várias empresas sediadas na cidade estão espalhadas por outras regiões. Das 12 grandes redes de influência elencadas pelo instituto, Brasília é a que possui o mais alto PIB per capita: R$ 25,3 mil. Junto com São Paulo — o único conjunto urbano considerado grande metrópole nacional —, a capital federal exerce influência nas redes de Cuiabá (MT) e de Porto Velho (RO). Cidades distantes mais de 600km, como Barreiras e Bom Jesus da Lapa, na Bahia, também aparecem na área influenciada (veja mapa).

O trabalho do IBGE foi realizado ao longo de 2007. Para estabelecer as regiões de influência, levou-se em conta três fatores: a subordinação das cidades à gestão federal, o impacto empresarial e econômico da localidade e a oferta de produtos e serviços. Técnicos do IBGE instalados em 4.625 municípios — dos 5.564 existentes — responderam a questionários específicos que ajudaram a definir as redes urbanas. Dos municípios analisados, 298 dependem diretamente de Brasília. É o caso de Buritis e Arinos, ambos em Minas, onde o Correio esteve na última semana.


Pólo de atração consolidado
Marley Aguiar, de Arinos (MG), fez mestrado na capital federal
 

Brasília, de alguma forma, faz parte da vida de quem vive em Buritis e Arinos (MG). A dona-de-casa Zilma José Joaquim, 40 anos, nasceu na também mineira Unaí, cresceu em Buritis, mas todo mês vem ao DF. “Aqui não temos muito a ver com BH (Belo Horizonte), não. Qualquer coisinha, a gente se manda para Brasília”, diz a mulher, que há dias está sem celular porque quer mudar de operadora. Para tanto, precisa ir a Brasília. “Não se consegue fazer isso aqui. Nem mesmo consertar uma máquina digital. Não existe mão-de-obra especializada.”

Em Arinos, a população de cerca de 18 mil habitantes também está ligada, e muito, a Brasília. A estudante Dallyana Mendes, 20 anos, é arinense de coração e, se pudesse, não saía da cidade nunca. Desde 2006, ela vive com uma tia no Guará (DF), onde cursa pedagogia. Mas todo fim de semana volta para casa. Só não faz a mesma escolha de Dallyana o jovem arinense que não tem condições de se manter na capital. “A sorte de Arinos é estar perto de Brasília. Se não, seria mais uma cidade esquecida”, pondera Dallyana, que, quando terminar o curso, pretende retornar à terra natal para não sair mais. “Minhas raízes estão aqui”, justifica.

De acordo com o IBGE, as capitais concentram cerca de 70% dos cursos de pós-graduação. É por isso que a professora arinense Marley Aguiar, 42 anos, não teve outra saída a não ser procurar um mestrado em Brasília. Aos 16 anos, ela conheceu a capital federal, a 240km dali. Apaixonou-se pelo o que viu e, ao contrário de Dallyana, agora sonha em sair do interior de Minas para ser servidora pública em Brasília. Por enquanto, é obrigada a contentar-se com a visita mensal à cidade por conta do mestrado. “Minha ‘mineirice’ ficou para trás”, afirma Marley, que dá aulas em uma escola estadual de Arinos.

Os primos Mateus e Daniel Freitas, ambos de 9 anos, têm sangue mineiro, são de Buritis. E também alimentam a imagem de Brasília como referência de cidade grande. Os dois estudam e, nas horas vagas, trabalham de engraxate nas ruas. Matheus nunca saiu da cidade onde nasceu. Cresce ouvindo falar em Brasília. “Tem um vereador que mora lá. E vem aqui para ganhar voto. Meu irmão também já foi lá”, conta. Daniel foi a Brasília uma vez, quando quebrou o braço. Mas era pequeno, não lembra de nada. Morre de vontade de voltar. “Quero ir ao cinema!”, revela.

 


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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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