mariscos nas praias, tivessem construído esses montes, ao descartarem seus restos sempre no mesmo lugar. Para a arqueóloga Tania Andrade Lima, professora no Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do CNPq, ao empilhá-los sistematicamente, a intenção dos coletores supõem-se que fosse a de criar espaços de moradia mais secos e arejados, livres de insetos e com uma visão mais estratégica das redondezas.
Esses grupos de pescadores e coletores longe de serem pequenos e simples, e viverem em constante movimento, de acordo com a pesquisadora, na verdade teriam alcançado níveis mais elevados de complexidade social e política, até então considerados exclusivos de sociedades agrícolas capazes de produzir excedentes.
No interior dos sambaquis são encontrados vestígios de fogueiras, armas de caça e pesca, ferramentas, restos alimentares como as conchas, ossos de peixes, mamíferos, aves e répteis, e, também, de vegetais, como coquinhos. Além desses materiais, os pesquisadores recuperaram evidências de práticas rituais, como sepultamentos e oferendas. Em alguns deles, são encontradas sofisticadas esculturas feitas em pedra e em osso, que contrastam com a simplicidade dos demais objetos, mostrando que os sambaquis, além de locais de moradia, foram também lugares para a prática de rituais.
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Nos sambaquis de Santa Catarina aparecem com mais freqüência essas esculturas de animais em pedra e em osso, os chamados zoólitos. Trata-se de uma arte elaborada, dificilmente encontrada entre caçadores e coletores, que requer indivíduos particularmente talentosos para a sua execução. Sua distribuição sugere a existência de um centro de produção no norte do estado, na região de Joinville, e outro no sul, na região de Laguna, ambas áreas com alta concentração de sambaquis, e onde estão situados os de maior porte.
O apogeu desses grupos parece ter ocorrido em torno de 4.000 e 3.000 anos atrás, com base nas datações radiocarbônicas existentes, e daí em diante seu declínio gradativo parece ter sido resultante de uma combinação de fatores, entre eles, a coleta imprevidente dos mariscos que tanto apreciaram e consumiram com intensidade, que inviabilizou sua reposição nos números necessários, determinando seu esgotamento. A chegada, também, à costa de grupos agricultores oriundos do interior, economicamente mais fortes por produzirem seu próprio alimento, tecnologicamente mais avançados e socialmente melhor estruturados, que tanto podem tê-los absorvido, quanto dizimado. No momento da conquista pelos europeus, eles já não existiam mais e não foram observados pelos primeiros colonizadores no Século XVI.