Praias e pipas

 

O que eu gosto mesmo de fazer nesta praia de Piatã é caminhar descalça, na areia molhada, deixando que as ondas se aproximem, cubram e descubram  os meus pés, no seu incansável vai-e-vem.  Vou caminhando e mirando o horizonte, onde às vezes se divisa um navio cargueiro, ou um barco de pesca, que vêm de Sergipe, rumo ao sul.

Eu tinha cerca de sete anos quando vi o mar, pela primeira vez, no Rio de Janeiro.  Naquelas montanhas  frias da Serra da Mantiqueira, no Sul de Minas, onde nasci, nós crianças nos questionávamos como era possível chegar perto do mar e não enxergar a outra margem.  Nossa referência eram os rios, mais propriamente o Rio Verde, que cruza  São Lourenço e que inundava a cidade em época de muitas chuvas e grandes enchentes.  Mas nada era tão grandioso quanto o mar, exceto Deus, como nos ensinava Casimiro de Abreu: “Eu me lembro, eu me lembro, era pequeno e brincava na praia. O mar bramia...” Mamãe me explicava o que queria dizer ‘bramia’, depois que eu recitava todo o poema para ela conferir  se eu o tinha memorizado corretamente.

Ia me esquecendo.  Além de caminhar, olhando o horizonte, gosto também de ver meninos soltando pipas. Pipas me fascinam. Gosto tanto que construí uma aula completa sobre a descrição de processos como tipo textual, baseando-me  nos procedimentos  usados na montagem de pipas, no livro para professores que escrevi junto com Maria Alice Fernandes de Sousa, Falar, ler e escrever em sala de aula (Parábola Editorial, 2008).

Tenho boas lembranças com pipas. Já empinei uma até em praia de muitas pedras e pouco sol, às margens do Lago Eriê, em Ohio. Em inglês, o nome é ‘kite’, Não sei se há outras denominações. Em português temos várias, que mudam conforme a região. O primeiro nome que aprendi foi papagaio. Só vim a chamar papagaio de pipa depois de adulta. E pandorga, só conheço de literatura.

Pipas são um brinquedo internacional, muito popular  em Cabul, no Afeganistão, como aprendemos no livro best seller e no  filme homônimo, recente. E têm tradição aristocrática. O menino Alberto Santos Dumont gostava de empinar papagaios no sítio Cabangu, inicialmente na fazenda de café de seu avô materno e depois na fazenda de seu pai.  Benjamin Franklin inspirou-se nas pipas com que brincava para construir o primeiro pararraio. 

Hoje de manhã, andando pela praia vi crianças empinando pipas de muitas cores e formas, e fui repetindo para mim mesma: Eu me lembro, eu me lembro, era pequena e corria pelas ruas ou pelos campos, evitando os fios elétricos, os eucaliptos e as araucárias, que impedissem meu papagaio de alçar vôo. E não é isso que a gente faz a vida toda: fugir dos obstáculos que nos impedem de alcançar os céus?

PS  No meu texto de ontem mencionei um passarinho de plumagem branca,chamado louva-deus, como o inseto.  Eu estava passando à frente a informação que obtive de um nativo. Hoje fui conferir com outros nativos. O nome correto é lavadeira, e é um passarinho bendito porque já lavou as roupas de Nosso Senhor. O que vi hoje era branco com a cabecinha preta. O de ontem tinha a cabeça vermelha. Talvez nem fosse uma lavadeira.... Já que passarinhos soltos na natureza me deixam tão feliz, seria bom eu começar a aprender um pouco de ornitologia.

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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