Festa de Iemanjá, controle de natalidade et al.

Caminhando hoje de manhã pela praia, observei que o mar já tinha devolvido algumas flores oferecidas à Iemanjá, no seu dia. Reza a tradição que a orixá devolve os presentes que não lhe agradarem. Mas meu pensamento, de fato, estava preso a assunto mais terreno. Por isso, me aproximei de um salva-vidas para perguntar se ele conhecia  a proveniência da maioria dos frequentadores da praia de Piatã.  Desde que cheguei aqui ando  intrigada com a presença de muitas crianças na praia, de todos os tamanhos e idades, até bebês sendo amamentados.  Expliquei  ao  salva-vidas que eu buscava informações para escrever um texto no meu site. Ele, muito solícito, me informou que um bom número de pessoas que vêm tomar sol e banho de mar nessa praia são moradores de bairros um pouco distantes. Grande parte vem a pé, nos fins-de -semana, porque a tarifa de R$ 2,20  do ônibus urbano é  despesa que pesa em  seu  orçamento familiar,  principalmente se as crianças já forem crescidinhas , sujeitas portanto  a pagar passagem.

Li, não faz tempo, uma crônica do Veríssimo  em que ele falava da preocupação de governos de países industrializados com a taxa minguante  de crescimento populacional, particularmente entre as abonadas classes de prestígio, já que entre as minorias o problema não costuma apresentar-se.

No Brasil a PNADIBGE   _ Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio _ , divulgada em 2008, indicou um razoável declínio da taxa de natalidade, que ainda não é negativa, como em alguns países europeus, mas que vem desenhando uma curva descendente. 

Esse é um fenômeno bem brasileiro, refleti, quando tomei conhecimento  dos resultados da PNAD.  A própria sociedade tomou em suas mãos a responsabilidade de planejar a família, já que quantidade, nesse particular, funciona em detrimento da qualidade de vida. Pesou, naturalmente, na tendência, o crescimento do processo de urbanização, que tem como corolário uma maior exposição dos brasileiros à cultura letrada. Se estamos longe de atingir um letramento universal no país, pelo menos nossa população já tem maior acesso a informações relativas a bem-estar e saúde.

Durante o século XX,  mais de uma vez o governo ensaiou  adotar uma política de controle de natalidade, mas sempre encontrava resistência, em especial  da CNBB da Igreja Católica.

São tão próprias da cultura brasileira a aversão ao confronto e a filosofia do  “Deixar como  está para ver como é que fica”, que não houve muito empenho em se adotar uma política explícita de indução ao planejamento familiar. As iniciativas ficaram por conta do setor de saúde pública e até de algumas instituições internacionais que atuam no Terceiro Mundo, como organizações norte-americanas,  dos anos pré-W Bush.

Seja como for, o fato é que houve mudanças significativas na constituição e no tamanho das famílias brasileiras.  No Distrito Federal, onde a estratificação social é  muito identificável espacialmente, mais talvez que em outras regiões metropolitanas,  há uma correlação negativa, que se percebe a olho nu, entre a renda per capita ou o IDH ( Índice de Desenvolvimento Humano) e a taxa de nascimentos, quando se comparam as regiões administrativas.  Nos bairros onde residem as famílias de classe média e  média alta, há muito poucas crianças.  Já nas áreas de assentamento recente, que receberam residentes egressos de invasões, as ruas são cheias de crianças e há grande quantidade de escolas para recebê-las.

Voltando à criançada que brinca nas areias de Piatã,  agora sei que não vem dos condomínios próximos à orla.  São de Suçuarana, ou Mata Escura, e outros bairros situados além da Avenida Paralela,  que abrigam populações de baixa renda. Só não sei se essas crianças têm escolas e bom atendimento de saúde. Tenho perguntado a muitas se estão estudando. Afirmam que sim, mas no momento estão de férias. Isso inclui as que oferecem o acarajé ou a passarinha  (iscas fritas de fígado bovino)  das barracas das baianas que trabalham na praia,  ou as que vendem  saquinhos de seriguela  . Tomara que estejam dizendo a verdade.

 

 

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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