*Com alterações, Exame Nacional do Ensino Médio se tornaria seleção
unificada para instituições de todo o País
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SÃO PAULO - O Ministério da Educação propõe nesta quarta-feira, 25, aos
reitores das universidades federais que o vestibular seja substituído por um
novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O estudante faria, em qualquer
Estado, teste com validade nacional e escolheria curso e instituição segundo
a nota obtida.
Atualmente, cada universidade realiza seu processo seletivo com provas e
datas diferentes. No novo formato, o Enem abordaria mais disciplinas e teria
mais questões - hoje são 63 de múltipla escolha e redação. O exame incluiria
questões dissertativas e objetivas, além de poder cobrar uma parte
específica, direcionada a áreas como ciências, para candidatos a Medicina.
Alguns cursos poderiam fazer uma segunda fase.
A proposta é semelhante à forma de seleção do Programa Universidade para
Todos (ProUni). Nele, o aluno escolhe curso e instituição com base na nota
do atual Enem, com mínimo de 45 pontos. As linhas gerais que o MEC propõe
também são semelhantes ao que ocorre nos Estados Unidos. Lá, cada
universidade determina a quantidade de pontos no teste, chamado Scholastic
Assessment Test (SAT), para que o candidato possa ter chances de ingressar
na instituição. O exame é nacional e cobra inglês, matemática e redação. Com
a pontuação mínima, o candidato passa por entrevista e envio de currículo.
Mobilidade
A mudança, se aceita pelos reitores, será válida só para as federais e
permitirá que um aluno tente várias instituições ao mesmo tempo, sem ter que
fazer vários vestibulares. Além disso, permitirá que um candidato do Acre
estude em São Paulo e vice-versa, aumentando a mobilidade. Hoje, para que
isso aconteça, o aluno precisa sair de seu Estado para fazer o vestibular no
local determinado pela universidade escolhida.
Apesar de o MEC ter passado a ideia de que os reitores das federais já
concordaram em ter o Enem pelo menos como uma primeira etapa dos
vestibulares, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais
de Ensino Superior (Andifes) diz que o assunto nem mesmo começou a ser
debatido. O tema até agora não está na pauta dos reitores. Vamos ouvir a
proposta do ministro (Fernando Haddad) e analisá-la, diz o secretário
executivo da Andifes, Gustavo Balduíno. O ministro reúne-se hoje com os
reitores em Brasília.
Uma das resistências é o atual formato do Enem, considerado pouco abrangente
quando comparado à seleção feita pelas federais. O modelo final do novo Enem
não está definido. Ontem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep) ainda trabalhava em uma proposta para apresentar aos
reitores. O princípio que Haddad pretende adotar prevê uma prova que analise
competências e habilidades, como o Enem, e não só conteúdos, como o atual
vestibular.
O ministro reclama que as atuais seleções não avaliam se o aluno aprendeu, o
que reflete na qualidade do ensino médio. A mudança pode levar à aproximação
com o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos,
que mede as mesmas habilidades do Enem, com mais conteúdo.
As universidades têm autonomia para definir seu processo seletivo, por isso
o MEC precisa do apoio delas para conseguir implantar a proposta. A prova
nacional, porém, não agrada a todos. Em São Paulo, reitores da Unifesp,
UFSCar e UFABC se reuniram para discutir, entre outros temas, a
possibilidade de um vestibular único para as três federais paulistas.
*O Estado de S.Paulo*, 26 mar. 2009.