No caso que estamos retratando, não foi numa manjedoura que o mito começou, foi numa boate mesmo
Affonso Romano de SantAnna
Tivemos que atravessar 2009 anos para, enfim, ver estampada nos jornais esta notícia:
Domingo, 29 de março de 2009
http:www.affonsoromano.com.br
“Madonna se cansou de Jesus”.
O leitor crente dirá: “Não acredito!”
Podes crer, cara, é isso aí.
Outro jornal continua:
“Sem Madonna, Jesus cai na farra com modelo no Rio”. E mostra o jovem Jesus com uma discípula portentosa, que teria se jogado sobre ele com fé irremovível.
As notícias continuam relatando a força que Jesus exerce sobre o mulherio, assinalando que houve uma festa nas imediações de Canaã ou Ipanema na qual “as mulheres todas se atiravam sobre ele”.
Abalado em sua fé, o cristão pós-moderno continua a folhear os jornais, apócrifos ou não, e depara com mais este versículo:
“Pai de Jesus opina sobre o namoro com Madonna”.
(– E agora, José?)
No conteúdo da notícia, vai descobrir que “a mãe de Jesus acha que Madonna sequestrou o filho”.
(– Virgem Mãe de Deus!)
Como na estória bíblica, todo esse imbróglio começou também em dezembro. Ou seja, o natal do namoro de Madonna, a deusa do rock, com Jesus, iluminado modelo num país do Terceiro Mundo, começou justo no mês em que se celebra o natal daquele outro menino lá de Belém.
No caso que estamos retratando, não foi numa manjedoura que o mito começou, foi numa boate mesmo.
(– É isso aí, bicho! E bota bicho nisso!)
Há, porém, controvérsias sobre como o episódio bíblico & profano teria se iniciado. Alguns acham que um emissário divino teria dito: “Mulher, eis aí o teu filho”. Madonna, então, caiu de boca no jovem modelo brasileiro.
Os mais incrédulos acham que foi tudo uma jogada habilíssima de marketing. Ou seja, quando sacaram que havia, naquela noite estrelada de dezembro em que Madonna reinava, um menino chamado Jesus, concluíram que era predestinação mercadológica. Sobretudo porque o menino, além de se chamar Jesus, tinha o sobrenome de Luz. Jesus da Luz era demais! Era o cumprimento de uma profecia. Não havia dúvida, uma estrela os guiava. Em breve, em toda a Galileia, e depois nos tabloides sensacionalistas de Londres, a paixão de Madonna e Jesus seria assunto transcendental.
Meu amados irmãos! Tivemos que viver 2009 anos para finalmente perceber que aquela dualidade que já foi motivo de romance e fllme, entre Maria e Madalena, a santa e a pecadora, é coisa do passado. A Madonna de nossos dias é santa e prostituta, é beata e perversa, é sublime, sádica e tão incestuosa que trouxe Jesus também para o seu seio.
Liguei a televisão e vi parte desse evangelho pós-moderno se desdobrar. Jesus ia andando junto à praia, e um repórter, com a tenacidade de filisteu, corria atrás dele, implorando: “Jesus, fale alguma coisa!”. E Jesus mudo, se desviando, se ocultando. “Jesus, faça um milagre!”, bradava o outro.
“Milagre”, penso eu, o milagre já foi feito. Quem tem olhos veja, dizem as escrituras. A mídia é o lugar do milagre contemporâneo. Ela cria Jesus. Ela sustenta Madonna. E é também o Gólgota de alguns.