REFLEXÕES SOBRE ANALFABETISMO E ALFABETISMO FUNCIONAL
Stella Maris Bortoni-Ricardo
Vera Aparecida de Lucas Freitas
Veruska Machado Ribeiro
Maria do Rosário Rocha Caxangá
Cláudia Schmeiske
Marli Vieira Lins
Maria Alice Fernandes de Sousa
Maria da Guia Taveiro Silva
(Universidade de Brasília)
Resumo: O objetivo deste artigo é apontar as diferenças entre os conceitos de analfabetismo e analfabetismo funcional. O texto inicia-se discutindo o entendimento de tais conceitos seguidos de dados censitários sobre a questão do analfabetismo no Brasil. Desenvolve-se mostrando alguns exemplos sobre o tema em questão. Conclui destacando a necessidade da alfabetização para todos os indivíduos integrantes da sociedade moderna.
Palavras-chave: analfabetismo e alfabetismo funcional; analfabetismo absoluto; analfabetismo no Brasil; usos sociais da escrita.
Introdução
As diferentes maneiras de aferir o analfabetismo no Brasil têm produzido diferentes resultados ao longo dos anos. Até a década de 1940, o formulário do Censo do IBGE definia o indivíduo como analfabeto ou alfabetizado perguntando-lhe se sabia assinar o nome. Para a época, desenhar o nome era suficiente para suprir exigências culturais e políticas como votar ou assinar um contrato de trabalho.
A partir daquela época, começa a surgir uma leve preocupação com os usos sociais da escrita. Já não basta saber apenas escrever o nome. O IBGE passou a tomar como base a auto-avaliação dos respondentes, já que, no Censo, lhes é perguntado se sabem ler ou escrever um bilhete simples ou, simplesmente, se sabem ler e escrever. Soares (2004, p. 56), apresenta algumas questões a respeito da impropriedade dessa pergunta:
Diante da pergunta, a pessoa pode dizer que sim, por envergonhar-se de dizer que não; ou pode dizer que não, por temer que lhe apresentem um “bilhete simples” e lhe peçam para lê-lo...
Em cada domicílio, um indivíduo responde por todos que ali habitam, ou seja, um indivíduo avalia a habilidade de todos os outros de “ler um bilhete simples”...
O que pode ser considerado um “bilhete simples”? É um bilhete com poucas palavras? Ou coordenadas, sem subordinadas? Com apenas palavras de uso comum?
Até a década de 1990, essa pergunta serviu para determinar o analfabetismo absoluto – pessoa que não passou pela escola e que, portanto, não sabe decodificar as letras. Esse tipo de analfabeto diminuiu bastante nas últimas décadas, porém ainda há cerca de 15 milhões em nosso país (IBGE, 2000).
Nesse contexto, nota-se a necessidade de apontar a diferença entre o conceito de analfabetismo e o conceito de analfabetismo funcional.
Os conceitos de analfabetismo e de alfabetismo funcional
O termo alfabetismo funcional costuma ser utilizado para designar a capacidade de se utilizar a leitura e a escrita para fins pragmáticos, em rotinas diárias e no trabalho, sendo, muitas vezes, colocado em contraposição a uma concepção mais tradicional e acadêmica, relacionada a práticas de leitura com fins estéticos e à erudição. Destaca-se que o termo analfabetismo funcional foi utilizado também para designar um meio termo entre o analfabetismo absoluto e o domínio pleno e versátil da leitura e da escrita.