A Fundação Getulio Vargas e o Ibope acabam de jogar mais luz sobre as mazelas do ensino no Brasil. A FGV pôs por terra o mito de que a evasão escolar é motivada pela demanda por trabalho e renda. Pouco mais de um quarto (27,1%) dos jovens de 15 a 17 anos afirma ser essa a razão de abandonarem as salas de aula, enquanto 40,3% simplesmente admitem não se sentirem atraídos pelos estudos. Já o instituto de pesquisas ouviu 2.022 pessoas com mais de 16 anos em todo o país para saber quais são, na opinião deles, os principais problemas da educação. Não se pode dizer que aqui houve surpresas: a desmotivação dos professores pelos baixos salários (19%); a falta de segurança e a penetração de drogas nas escolas (17%); o número insuficiente de unidades de ensino (15%) e de professores (12%); e a falta de qualificação dos docentes (11%).
Ao mesmo tempo, o ministro da Educação, Fernando Haddad, comemorou na semana passada o fato de o Brasil estar próximo de investir no setor 6% do PIB (soma das riquezas produzidas no país). Na opinião dele, mantido o ritmo atual, o percentual — que é a meta do Plano Nacional de Educação (PND) — será alcançado no próximo ano. O crescimento é uma realidade. De 2000 para 2007, o investimento anual por aluno da rede pública passou de R$ 1.574 para R$ 2.335. Em relação ao PIB, de 3,9% para 4,6%. Significa que, embora a pretensão de liderança no subcontinente, só agora estamos alcançando nossos sócios do Mercosul, se não na qualidade do ensino, ao menos no volume de recursos a ele destinados em relação ao PIB. A questão está em transformar os gastos maiores em melhorias concretas. Nesse sentido, o estudo da FGV e a pesquisa do Ibope podem funcionar como bússolas para orientar a mudança.
Especialistas não apontam a falta de dinheiro, mas a má gestão dos recursos financeiros e humanos como principal causa das mazelas da rede pública de ensino brasileira. Anos letivos, por exemplo, costumam começar sem número suficiente de professores. Que aluno se motivará se no primeiro dia de aula já não houver quem lhe ensine uma ou mais matérias? Pior: a resposta a essa deficiência costuma ser dada com uma solução tapa-buraco: a contratação de professores temporários, que, em geral, são transferidos com constância e não criam vínculo com as comunidades escolares. Mais: em fevereiro, uma escola estadual da capital de Alagoas tinha 2 mil alunos matriculados e apenas 500 carteiras escolares. Outra, municipal, chegou ao cúmulo de adotar um rodízio, em que as séries ímpares (1ª e 3ª) funcionavam num dia e as pares (2ª e 4ª) noutro.
Este ano, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) destinará R$ 5,1 bilhões às escolas; R$ 10 bilhões estão reservados para salário-educação. Além disso, o Orçamento da União prevê R$ 2 bilhões para gastos em mobiliário, ônibus escolar e reforma de colégios e R$ 1,5 bilhão a serem diretamente entregues aos diretores. Mas o Ministério da Educação nem sequer é devidamente informado sobre a situação das escolas país afora. Falta coordenação de esforços. Dessa forma, continuará longe o dia em que o Brasil terá um sistema de educação pública ideal, de preferência em tempo integral.