Estava fazendo compras e de repente bati os olhos numa bandejinha de pinhão, na gôndola de nozes, castanha de caju e outras  assemelhadas. Não hesitei. Peguei a bandejinha, que parecia ser a última.  Já no caixa, enquanto eu passava os itens comprados um senhor olhou para o pinhão e me perguntou: _ Será que estão bons?

_ Não sei dizer, mas vou arriscar levar  e cozinhá-los. O senhor também gosta de pinhão? Por acaso é do Paraná?

Aqui no Centro-Oeste pouca gente conhece pinhão. Às vezes é servido nas festas juninas, mas  muitos não sabem sequer o nome  desse fruto do pinheiro .

_ Não sou do Paraná, não _ ele respondeu.  Mas é que eu sou do Sul de Minas, e lá também comemos muito pinhão. Só que aqui é difícil encontrar.

_ Pois é, eu também estava acostumada a comer pinhão na minha infância. Sou do Sul de Minas também. Nem sei se a araucária é nativa de lá, ou se foi levada do Paraná e prosperou naquelas montanhas frias da Mantiqueira.

_ A senhora, de onde é?

_ De  São  Lourenço, mas  convivi com pinheiros em muitas cidades, principalmente em Maria da Fé.

_ Pois eu sou de Ouro Fino. Também é região fria e na minha casa minha mãe cozinhava muito pinhão.

_ Ouro  Fino? “Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino...” É a da música, né? _ Ele confirmou, não sem antes me perguntar por alguns conhecidos dele em São Lourenço. Alguns donos de hotéis.

Assim somos nós, neste exílio voluntário em Brasília. Quem mora aqui gosta da cidade, mas não esquece suas raízes.  Assim que me mudei para este Planalto Central, era acometida de  verdadeira nostalgia quando olhava para o horizonte, aberto, amplo,  céu muito azul , e vislumbrava  o infinito, sem que as vistas esbarrassem nas  montanhas.  Eu sentia falta delas. Agora já me acostumei, mas quando vejo  araucárias enfeitando  jardins, algumas ainda pequenas, outras já maduras e altas, tenho saudades das veredas de pinheiros, por onde caminhava para ir de minha casa, em área rural ,  até a escola. E os pinhões! Mais do que os sequilhos, o doce de abóbora, o biscoito de polvilho, eles me fazem retornar no tempo e sentir saudade daquela culinária caseira, sem muitos requintes, mas de muitos sabores. Especialmente o do pinhão cozido com uma pitada de sal. Quem nunca provou, não sabe o que está perdendo.

 

Brasília, 25 de abril de 2009

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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