Os noveleiros vão saber de quem  estou falando. É de Dona Norminha, personagem de Dira Paes, na novela Caminho das Índias. Dona Norminha tem feito sucesso. Em parte, credite-se esse sucesso à excelente interpretação da atriz, a mãe dos “Dois filhos de Francisco”. Compõe o papel com muita competência e tem o physique du rôle.  Já ouvi rumores de que vai posar para a  Playboy.

Mas o próprio personagem é estimulante. Na literatura, há famosas e fascinantes adúlteras. Há aquelas com um trágico fim, como a Madame Bovary de Flaubert; há as que compensam  a frustração de um casamento morno com as aventuras excitantes, como  A Bela da Tarde, do filme de Buñuel, representada pela verdadeiramente bela Catherine Deneuve; há as que se protegem sob o manto da dúvida mortal: são ou não adúlteras? A mais conhecida dos brasileiros é Capitu, de Machado de Assis, a dos olhos de ressaca.  E há as inocentes, vítimas de maledicência e armação malévola. É o caso  da Desdêmona de Othelo, para mim a melhor tragédia de Shakespeare. E há ainda a famosa Lady Chatterley, que busca os carinhos do jardineiro porque o marido aristocrata ficou impotente em um acidente. D.H. Lawrence, o autor, desafiou os pruridos vitorianos da sociedade britânica do século XIX com essa obra.

Mas a Dona Norminha... Ah, a Dona Norminha!  Desfila deslumbrante pela Lapa, ao som de sua trilha sonora, o forró de Gorgival Dantas, “Você não vale nada, mas eu gosto de você, os seus decotes generosos e sua saia que, de tão colada, mal a deixa mover as pernas num balanço sincopado.   Tem um bom marido, que cumpre bem com a função de marido, apaixonado que é pela sua mulherzinha. Ele é guarda de trânsito, de boa paz, quer manter sua esquina sem problemas ou tumultos. Mas o tumulto maior é mesmo a passagem de Dona Norminha, que está sempre transitando por lá, para avistar o adolescente, filho da vizinha, que ela se empenhou em seduzir. Não satisfeita, procura agora seduzir outro jovem, o pobre Tarso, milionário e esquizofrênico.

Em entrevista recente, Dira Paes disse que toda mulher esconde dentro de si uma Dona Norminha, que aparece juntamente com a ebulição de seus hormônios, por volta dos trinta anos, idade do clímax da sensualidade feminina.  Acho até que ela tem razão. Mas o que move Dona Norminha não é somente o furor uterino, nem tampouco uma possível negligência do marido. Norminha precisa sentir-se cobiçada, paquerada, alvo de todos os olhares por onde passa. Olhares cúpidos dos homens; olhares invejosos de outras mulheres.  Sua carência de atenção é infantil, embora seus métodos para atraí-la estejam longe de ser os de uma criança.

Não hesita em dar ao marido remédio para dormir, com o leite quente. Isso depois que já se sente bem saciada em sua atração por ele. Enquanto ele dorme, ela vai à caça. Quase sempre bem sucedida. Já filmou cenas na gafieira e na praia, mas o seu locus, por excelência, é a rua.

Mulheres bonitas e sensuais passeando pelas ruas são uma constante no imaginário nacional, refletido no nosso cancioneiro: “Mulher casada que anda sozinha, é andorinha, é andorinha.” diz a marchinha de carnaval. Já o grande  Dorival Caymmi cantava:

A vizinha quando passa
Com seu vestido grená
Todo mundo diz que é boa
Mas como a vizinha não há
Ela mexe coas cadeiras pra cá.
Ela mexe coas cadeiras pra lá.
Ele mexe com o juízo
Do homem que vai trabalhar.

São bem conhecidas também as piadinhas de paquera nas ruas: “O cachorrinho tem telefone?”; “Você é a nora que minha mãe pediu a Deus”;  “Você é muita areia pro meu caminhãozinho, mas eu faço duas viagens”.

Embalada por todo esse folclore, lá vai a Dona Norminha. Ah, a Dona Norminha !

 

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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