A Secretaria Estadual da Educação de São Paulo distribuiu a escolas um
livro com conteúdo sexual e palavrões, para ser usado como material de
apoio por alunos da terceira série do ensino fundamental (faixa etária
de nove anos).
A gestão José Serra (PSDB) afirmou ontem que houve falha na escolha,
pois o material é inadequado para alunos desta idade, e que já
determinou o recolhimento da obra.
O livro (Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol) é recheado
com expressões como chupa rola, cu e chupava ela todinha. São 11
histórias em quadrinhos, feitas por diferentes artistas, que abordam
temas relacionados a futebol -algumas usam também conotação sexual. A
editora Via Lettera afirma que a obra é voltada a adultos e
adolescentes.
A pasta distribuiu 1.216 exemplares, que seriam usados como material
de apoio para a alfabetização dos estudantes, dentro do programa Ler e
Escrever (uma das bandeiras do governo na educação).
Nesse programa, os estudantes podem usar o material na biblioteca, na
aula ou levar para casa. O livro começou a ser entregue na semana
passada.
É o segundo caso neste ano de problemas no material enviado às
escolas. A Folha revelou em março que alunos da sexta série receberam
livro em que o Paraguai aparecia duas vezes no mapa.
Os erros revelam um descuido do governo na preparação e escolha dos
materiais, afirmou a coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp,
Angela Soligo.
Há um constante ataque do governo contra os professores e a formação
deles. Mas o governo coloca à disposição dos docentes ferramentas
frágeis de trabalho, disse Soligo.
Posição oficial
A reportagem solicitou entrevista com o secretário da Educação, Paulo
Renato Souza. A pasta, porém, só divulgou uma nota, que não esclarece
como é feita a escolha dos livros.
Sobre a responsabilidade pelo erro, disse apenas que abriu uma sindicância.
O governo afirma que este livro é apenas um dos 818 títulos
comprados e que os 1.216 exemplares da obra representam 0,067% do
1,79 milhão de livros colocados à disposição das crianças. Diz ainda
que faz um grande esforço para estimular o hábito da leitura.
O gerente de marketing da editora Via Lettera (responsável pelo
livro), Roberto Gobatto, afirmou que apenas atendeu ao pedido de
compra (no valor de cerca de R$ 35 mil) feito em novembro, na gestão
de Maria Helena Guimarães de Castro na pasta da Educação.
Não sabíamos para qual faixa etária seria destinada. Se soubéssemos,
avisaríamos a secretaria, disse Gobatto.
Na história mais criticada por professores que tiveram contato com a
obra, o cartunista Caco Galhardo faz uma caricatura de um programa de
mesa-redonda de futebol na TV.
Enquanto o comentarista faz perguntas sobre sexo, jogadores e
treinadores respondem com clichês de programas esportivos, como o
atleta tem de se adaptar a qualquer posição.
Quem escolheu não leu o livro, diz cartunista
O cartunista Caco Galhardo, autor da história mais criticada do livro
por professores, disse que a obra não era destinada a alunos. Caco é
quadrinista da Folha. (FT)
FOLHA - A sua história era para crianças de nove anos?
CACO GALHARDO - Imagina. É uma HQ [história em quadrinhos] justamente
para não ir para escola. Há um movimento de se colocar quadrinhos nas
aulas, porque é uma linguagem acessível para a molecada. Fiz uma
adaptação do Dom Quixote que foi para várias escolas. Mas os caras têm
de ter critério para ver qual quadrinho colocar. Nessa eu tirei sarro
de uma mesa-redonda.
FOLHA - Sabe como foi parar nas escolas?
GALHARDO - O cara que escolheu não leu o livro.
Sindicância vai apurar quem escolheu obra
A Secretaria de Estado da Educação determinou ainda na semana passada
(dia 15) o recolhimento imediato da publicação Dez na área, um na
banheira e ninguém no gol. É importante esclarecer que o livro é
apenas um dos 818 títulos, comprados de 80 editoras, para apoiar o
programa Ler e Escrever, voltado a reforçar a alfabetização de
crianças.
Apenas 1.216 exemplares do título foram efetivamente distribuídos às
escolas, o que significa 0,067% do 1,79 milhão de livros colocados à
disposição das crianças como material de apoio nas salas de aula. O
governo faz grande esforço para estimular o hábito da leitura pelas
crianças, pois isso favorece muito o aprendizado.
O livro citado seria utilizado por alunos da terceira série, mas sua
escolha foi um erro, pois o material é inadequado para alunos dessa
idade. A falha foi apontada pelos coordenadores pedagógicos do
programa Ler e Escrever tão pronto receberam os primeiros exemplares
do livro na semana passada.
A Secretaria da Educação instaurou uma sindicância para apurar as
responsabilidades pelo processo de seleção dos livros, que tem prazo
de 30 dias para ser concluída.
Responsáveis por distribuição de livro com palavrões serão punidos, diz Serra
O governador José Serra (PSDB) afirmou nesta terça-feira (19) que vai
punir os responsáveis pela distribuição de livros de apoio com
palavrões. As obras continham expressões não apropriadas para alunos
da terceira série do ensino fundamental, na faixa etária de nove anos.
Abrimos sindicância e os responsáveis serão punidos, pois cometeram
algo muito grave, disse Serra em entrevista ao programa de televisão
SP TV.
O governador classificou o episódio como muito grave. É menos grave
ter um erro de impressão do que um livro que tenha problemas de
conteúdo como esses, disse Serra.
A fala do tucano é uma referência ao episódio da distribuição de
livros de geografia para alunos da 6ª série do ensino fundamental com
erros em mapas, ocorrido em março deste ano, na gestão Serra.
Os livros traziam um mapa com dois Paraguais e ainda erros de
digitação. Isso não é um erro que alguém possa ignorar. Ninguém acha
que tem dois Paraguais. Acho que houve algum problema de impressão,
mas acho que secretaria deveria revisar os materiais, afirmou o
governador na época.
De acordo com o governador, os 1.216 exemplares com problemas devem
ser recolhidos e, diz Serra, muitos deles nem chegaram ao contato das
crianças.
O livro contém 11 histórias em quadrinhos produzidas por diversos
cartunistas. Uma das mais criticadas por especialistas, de autoria de
Caco Galhardo, traz uma caricatura de um programa de mesa-redonda de
futebol na TV. Enquanto o comentarista faz perguntas sobre sexo,
jogadores e treinadores respondem com clichês de programas esportivos,
como o atleta tem de se adaptar a qualquer posição.
Folha de S.Paulo, 19 maio 2009.