Valor Econômico
Que lições podemos aprender a partir destas experiências para melhorar a qualidade da educação brasileira?
Naércio Menezes Filho é professor titular (cátedra IFB) e coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) e professor da FEA-USP.
Nesta semana tivemos
O segundo, promovido pela Fundação Lemann, trouxe o professor Martin Carnoy, da Universidade de Stanford, para o lançamento de seu livro, que compara os sistemas educacionais brasileiro, chileno e cubano (A Vantagem Acadêmica de Cuba). Que lições podemos aprender a partir destas experiências para melhorar a qualidade da educação brasileira?
O livro do professor Carnoy tenta explicar por que os alunos cubanos têm um desempenho tão superior ao dos demais países latino-americanos nos exames internacionais de proficiência. O ponto principal é que Cuba fez uma opção pelas crianças, ao invés de privilegiar os adultos. Isso tem várias implicações.
Em primeiro lugar, há vários anos a saúde e a educação das crianças são prioridades absolutas no país. Em contrapartida, inexistem oportunidades de emprego e liberdade de expressão para os adultos. Assim, o sistema cubano não permite que as preferências dos professores e dos funcionários das escolas cubanas tenham importância no modo como as escolas são dirigidas e na maneira como as aulas são ministradas.
Como o sistema é totalmente centralizado, a supervisão e o controle sobre o desempenho dos professores na sala de aula é muito forte. Em Cuba, os cursos de formação de professores são exigentes e muito voltados para as práticas de ensino. Além disto, os professores têm que seguir um currículo nacional, sem muito espaço para criatividade.
Como o salário é extremamente reduzido para todas as ocupações, em Cuba não faz muita diferença ser professor, advogado ou engenheiro, o que faz com que muitos dos melhores alunos do ensino médio optem por serem professores. Por fim, os professores que não conseguem fazer com que seus alunos aprendam, mesmo após um período de treinamento, têm que parar de dar aulas e procurar outra profissão (cortar cana, por exemplo).
Há uma preocupação muito grande com a prática na sala de aula. Os alunos cubanos permanecem pelo menos seis horas diárias na escola. Filmagens em salas de aula mostram que eles passam mais tempo fazendo exercícios individuais, enquanto os brasileiros passam muito tempo fazendo trabalhos em grupo e tendo aulas expositivas. Além disto, o professor brasileiro passa um tempo considerável tentando fazer com que os alunos sentem nas carteiras e se concentrem na aula.
No caso de Nova York, os progressos em termos de aprendizado estão sendo obtidos rapidamente a partir de um sistema educacional praticamente falido. Segundo o estudo divulgado, entre 2006 e
As principais medidas estão relacionadas com o ambiente institucional e a organização do sistema escolar. Em primeiro lugar, privilegiou-se a autonomia escolar e a diminuição dos elos burocráticos, o que faz com que o secretário possa comunicar-se rapidamente com os gestores das escolas.
O papel dos diretores é fundamental e os novos diretores do sistema de Nova York, recrutados entre os melhores profissionais existentes, são cobrados diretamente pelo desempenho do aluno e recompensados quando os alunos efetivamente aprendem. Quanto isto não ocorre, a secretaria de educação pode demitir toda a equipe escolar e até mesmo reabrir a escola com um novo nome.
Para implementar estas medidas, foi feita uma negociação intensa com os sindicatos de professores, que acabaram concordando com grande parte delas.
Assim como em Cuba, acompanhar o desempenho do professor dentro da sala de aula é fundamental. Nova York preocupou-se em apoiar o professor, ensinando-o a como melhorar suas aulas. Isto exige a presença de tutores dentro da sala de aula, para evitar que o professor faça o que bem entender quando fecha a porta da sala.
O diretor da escola tem que estar comprometido com o aprendizado, ao invés de ser apenas um gestor preenchendo relatórios para os órgãos burocráticos. Além disto, surgiu a ideia dos coordenadores de pais de aumentar a participação dos pais na vida escolar, que é fundamental para melhorar o aprendizado dos alunos. Por fim, os problemas de violência na escola, que tanto preocupam os diretores brasileiros, foram enfrentados através de estreita colaboração da escola com a polícia.
Que lições podem ser aprendidas a partir dessas experiências para o caso brasileiro? A primeira lição é colocar as crianças em primeiro lugar. Obviamente, seria indesejável implementar as medidas de controle e supervisão dos professores à força, como é feito no sistema cubano de ensino. Afinal, a liberdade de expressão e de opinião são fundamentais para a nossa democracia.
A saída é negociar com os sindicatos de professores e também com os membros do Legislativo e Judiciário, para que eles entendam que o aprendizado das crianças tem que ser a prioridade da nossa sociedade. Algumas vezes, mudanças na legislação são necessárias para alcançarmos este objetivo, mesmo que tenhamos que acabar com alguns direitos adquiridos.
Em termos de políticas educacionais, as lições são claras: precisamos formar melhor nossos professores e entender o que eles fazem na sala de aula, através de uma supervisão efetiva e focada no aprendizado dos alunos.
Como não podemos aumentar os salários de todos os professores, devido às restrições orçamentárias dos Estados e municípios (nem diminuir os salários das outras profissões), o ideal é introduzir um sistema de remuneração que recompense os melhores profissionais ao longo da carreira, tanto no caso de diretores como no caso dos professores.
Isto fará com que os alunos mais talentosos, que acreditam no seu potencial e que gostam da profissão, tenham a possibilidade de alcançar um bom padrão de vida como professor do ensino básico.