Brasil fica em 72º em ranking de educação
Folha de S.Paulo
O relatório anual da Unesco Educação Para Todos, divulgado ontem em Nova York, coloca o Brasil na 72ª posição num índice de desenvolvimento com 125 países que avalia o grau de cumprimento das metas traçadas na Conferência Mundial de Educação, no Senegal, em 2000. O país aparece em bloco intermediário, com índice considerado médio, uma posição atrás do Paraguai e uma à frente da Síria.
Qualidade
O que mais prejudica o desempenho do país no índice são as altas taxas de repetência e evasão no ensino fundamental, que refletem negativamente no cálculo da taxa de estudantes que iniciaram o ensino fundamental e conseguem chegar ao menos até o quinto ano.
Além da taxa de sobrevivência escolar até o quinto ano, o indicador compara também a escolarização no ensino fundamental, a taxa de analfabetismo adulto e a igualdade de gênero na educação.
O indicador varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, mais perto está o país de atingir as metas da Unesco. O índice total do Brasil (levando em conta todos os quatro indicadores) é de 0,905, considerado médio pela Unesco. Os países com melhor desempenho são Reino Unido, Eslovênia e Finlândia, todos com índice de 0,994. Das 125 nações comparadas, 47 apresentaram índice alto (acima de 0,950), 49 ficaram com os considerados médios e 29 tiveram índice baixo (abaixo de 0,850). O pior é Chade, com índice de 0,428.
O índice de acompanhamento das metas da Unesco é divulgado anualmente desde 2003. O Brasil apareceu pela primeira vez no relatório de 2005, divulgado em 2004. Na ocasião, o país apareceu com índice de 0,899. A posição no ranking não se alterou: continuou sendo a 72ª, com a única diferença que, naquele ano, foram 127 países comparados, em vez dos 125 do relatório deste ano.
Para o consultor em educação João Batista Araújo e Oliveira, o péssimo desempenho do país em questões de qualidade da educação não é novidade. Quando o indicador é de quantidade, o país costuma ir bem. Quando é qualidade, no entanto, o atraso fica evidente, diz.
De fato, essa não é a primeira pesquisa internacional a colocar o país em uma péssima colocação quando se avalia a qualidade. O Brasil é sempre um dos últimos colocados, por exemplo, nos exames do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), prova da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico que compara o desempenho de estudantes entre países.
O problema da repetência também já foi destacado num outro relatório da Unesco divulgado neste ano. Esse documento mostrou que o país tinha indicadores nesse quesito piores do que países extremamente pobres, como Camboja, Haiti ou Ruanda. Quanto maior a repetência, maior a probabilidade de evasão escolar.
O Brasil é citado no relatório divulgado ontem em Nova York como um dos países com sérios problemas de repetência, especialmente na primeira série do ensino fundamental. Segundo o Inep, órgão do MEC, 29% dos alunos repetiram a primeira série do ensino fundamental em 2003, e é justamente nessa série inicial em que o problema é mais grave.
O relatório, porém, faz menções positivas ao Brasil ao citar os programas de transferência de renda para os mais pobres, como o Bolsa Escola (criado no governo FHC) e o Bolsa Família (ampliação do Bolsa Escola feita no governo Lula).
O texto do relatório cita estudos brasileiros que mostram que esses programas tiveram efeito positivo na escolaridade de crianças mais pobres e na diminuição do trabalho infantil.