Você fala a minha língua?
Xeu jeitu di ixkreve parexe cum exe? Quero dizer: seu jeito de escrever parece com esse, cheio de xis, letras trocadas, palavras abreviadas? Para quem usa a internet direto, e vive postando mensagens em blogs, no Orkut e conversando pelo MSN, provavelmente a resposta é xim! (ops!), sim! Se esse é o seu caso, fique atento para
não exagerar na dose. Nas escolas, além de tirar pontos nas provas,alguns professores já fazem atividades em sala para evitar que os alunos reproduzam a linguagem cifrada fora da rede. E os exageros dessa língua virtual já são até polêmica entre quem tem menos de 20 anos.
Liberada na internet, essa linguagem (quase incompreensível para muitos) tem sido debatida nos colégios. Os professores acham normal que os adolescentes escrevam naum em vez de não, tah em vez
de tá e vc no lugar de você, desde que isso não ultrapasse os textos virtuais.
- A norma culta não permite esse tipo de grafia e na pressa tem aluno que abrevia palavras, por exemplo, e perde pontos. Mas não podemos negar que essa é uma linguagem rápida, que facilita a comunicação e estimula a escrita. Só temos de ficar atentos para saber se o erro foi por empolgação ou por dúvida na grafia - diz Muna Omran,
professora de literatura e redação da Escola Dínamis, que este ano ançou um desafio aos alunos do 2 ano. - Pegamos textos na internet e pedimos que os alunos traduzam-nos para a língua formal. O objetivo é levar o aluno à reflexão.
Luiza Torelly, vestibulanda do Centro de Educação e Cultura (CEC),admite que de tanto usar a internet tem dúvidas na hora de escrever.
 - Uso internet desde os 12 anos. Às vezes fico confusa com palavras
ridículas e me sinto meio analfabeta - exagera Luiza, de 17 anos, que mesmo assim não abre mão de usar a tal linguagem quando está na rede. - Não dá para escrever certinho. Incomoda. Parece velho.
Incomodado mesmo ficou Daniel Pinheiro, que já perdeu pontos numa prova de história por usar abreviação. Hoje ele ainda conversavirtualmente, mas evita exageros:
- Nada contra. Só cansei de escrever errado - diz Daniel, de 17 anos,
aluno da Dínamis.
Quando o aluno não percebe que precisa se controlar, Nanci Araújo,
coordenadora do Colégio Stockler, diz que é obrigação da escola mostrar que não pode passar do limite:
- Muitos alunos estão errando a grafia das palavras, a concordância
das frases por causa da internet. Tem de tomar cuidado para não
perder o domínio básico da língua.
Julia Tostes e Paola Marinho, por exemplo, usam a internet
diariamente e escrevem abreviado, inclusive nos cadernos da escola.
Mas acham exagero escrever tudo com x e vivem se policiando.
- No 3 ano não dá mais para escrever tão errado, por causa do
> vestibular. Nas provas da escola, leio e releio tudo - diz Julia, aluna do CEC, cuja direção proibiu o uso de Orkut e MSN nos computadores da escola, pois alunos ocupavam os terminais e deixavam na fila quem queria estudar.
Mas essa língua não tem aparecido no vestibular. O coordenador do concurso da UFRJ, Luiz Otávio Langlois, diz que nunca ouviu reclamações dos corretores das provas. Beatriz Barreto, coordenadora
da banca de redação da PUC, acha que os estudantes sabem quando podem ou não usar a linguagem de internet.
- Também dou aula no Santo Inácio e vejo que os alunos têm problemas ortográficos, mas discordo de que seja culpa da internet.Para quem já está na faculdade, resistir à facilidade de escrever em código também é difícil, até para alunos de letras. Davi Pinho, do 2º período da Uerj, que o diga:- Quando digito um trabalho tenho que reler com muita atenção, pois acabo usando muita abreviação. No computador é sempre mais difícil de
se controlar.
O X da polêmica virtual
A polêmica sobre o uso desmedido dessa linguagem virtual já chegou à rede. No Orkut, por exemplo, existem várias comunidades do tipo Eu odeiu genti ki iskrevi axim (com 84.511 membros) ou outras que defendem a escrita tatibitate, como a Ixklevu axim xim i daih? (com apenas 127). Será que essa língua do x seria apenas uma nova língua do p? Ou tem chance de ter palavras incorporadas ao português. O filólogo Evanildo Bechara diz que é difícil fazer futurologia sobre sso, pois essa é uma linguagem da moda e, como todo modismo, passa ou sofre alterações:
- Já abreviamos palavras. Mas esse tipo de linguagem não é suficiente para traduzir os anseios dos homens. À medida e que evolui, eleprecisa de formas de comunicação mais complexas. Helena Granitoff, por exemplo, diz que parou de usar linguagem de internet, mesmo online. Fez isso com medo de errar nas provas da escola. Pedro Henrique Fernandes, que estuda com Helena na Escola
Dínamis, conta que usa esse tipo de escrita, mas com moderação.Apesar disso, acha que a linguagem virtual poderá substituir a formal:
- É um processo lento.
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira, diretora da Faculdade de Educação
da Uerj, explica que a linguagem virtual tem a mesma função da gíria.É rápida e, por ser inusitada, é muito sedutora para os adolescentes.Sobre a possibilidade de essa escrita alternativa um dia substituir a língua formal, Eloiza acha pouco provável, pois até para escrever em código é preciso dominar a escrita estendida.

 http:oglobo.globo.comjornalSuplementosMegazine167512645.asp




Fonte: O Globo , 5abril2005

Categoria pai: Seção - Notícias

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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