O professor deve ganhar mais?

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Jaime Pinsky
Historiador, professor titular aposentado da Unicamp, diretor da Editora Contexto, é autor de vários livros, entre os quais O Brasil tem futuro?
Afinal, professores ganham mal ou são bem remunerados? A julgar por algumas notícias, pululando ao mesmo tempo em diferentes órgãos de imprensa, a questão salarial do professor é um falso problema. Para alguns arautos da modernidade educacional, a própria questão das verbas da educação seria um falso problema, de fácil resolução por bons administradores e economistas (a educação seria assunto sério demais para ser entregue a educadores).

Com todo o respeito aos tecnocratas, não me parece que o problema seja tão simples de resolver (afinal, um economista dirigiu a educação brasileira por oito anos e, a julgar pelos resultados, não parece que tenha feito trabalho tão brilhante), embora esteja de acordo com a necessidade de que deva ser pensado com a cabeça aberta, sem dogmas. É inegável que ineficiência administrativa e métodos ultrapassados de gestão (fáceis de observar no dia-a-dia das escolas e dos órgãos governamentais) são obstáculos para a transformação da educação que temos para aquela que queremos, mas há outros problemas além desses.

É fundamental que tanto autoridades educacionais, quanto os professores na sala de aula, introjetem o fato de que, para o bem e para o mal, sobrou pouco espaço para a escola que informava, para o mestre que possuía o monopólio do conteúdo. Antes da era da informação da sociedade, autoridades, pais e professores decidiam em conjunto (e à revelia dos alunos) o que, quando e como se deveria ensinar. A seriação de informações colocadas à disposição do educando definia quando ele ia conhecer, por exemplo, o corpo humano e questões ligadas à sexualidade.

Hoje, com a televisão e a internet, a criança e o jovem pesquisam os assuntos que lhes interessam, quando lhes interessam e da forma que lhes interessam, à revelia dos pais, das autoridades educacionais, da sociedade e dos professores. Noutras palavras, é o jovem que determina, a partir de estímulos sociais e biológicos, o volume e o ritmo de informações que deseja receber.

A nova realidade exige um professor diferente do que existia há 50 anos. Agora ele não tem mais o monopólio de informação e, quando tenta (e isso ainda é freqüente) atuar como fonte, fracassa miseravelmente, perdendo a atenção da classe, já que não pode concorrer com outras mais modernas, coloridas e sofisticadas colocadas à disposição dos jovens de hoje.

Isso significa que o professor não tem mais papel na sociedade moderna, que todo o sistema educacional está fadado ao fracasso? Ao meu ver, não. Cabe ao professor transformar-se, assumir que não lhe cabe mais simplesmente informar, mas explicar, estabelecer conexão entre o universo cultural dominado pelo aluno e o patrimônio cultural da humanidade. Cabe ao professor ser culto para ter condições de mostrar a rica herança que todos os seres humanos carregamos àqueles estudantes que adquiriram, fora da escola, informações desconexas, insuficientes para situa-los, como seres históricos, responsáveis, agentes e não simplesmente pacientes.

Agora chegamos ao segundo ponto. Para ter uma base cultural que lhe permita realizar suas novas funções a contento, esse professor precisa estudar, ler muito, ver bons filmes. Não pode transformar a docência numa atividade burocrática, feita sem objetivos e sem entusiasmo. Não dá para sair de uma sala e entrar noutra, falar para corpos sem rosto, ver hostilidade e indiferença e reagir com indiferença ou hostilidade. As crianças e jovens precisam da escola, mas não da escola chata, sem atrativos. O professor precisa se requalificar para poder educar.

A questão não é só salarial. De acordo, mas também é salarial. Poucos conseguem realizar leituras proveitosas após uma jornada tensa de 50, 60 horas por semana. O mais razoável seria pagar o suficiente para que professores não precisem acumular aulas em excesso. Mas não é só. Todo professor precisa, por exemplo, ter sua biblioteca particular, por menor e mais selecionada que seja.

Que tal o MEC, junto com as secretarias estaduais e municipais, patrocinarem a formação de uma biblioteca de formaçãoatualização dos professores da escola pública fundamental e média no Brasil inteiro? Não para a escola, mas para cada professor. É um absurdo professores não terem uma pequena biblioteca em casa. Sem o professor motivado, bem remunerado e altamente qualificado, nunca teremos uma educação pública de qualidade.


 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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