Professores sofrem com baixos salários, falta de uma política constante de qualificação e ausência de materiais de apoio. Nível de ensino cai e contribui para que alunos, sem conseguir aprender, desistam

Paloma Oliveto e Mariana Flores
Da equipe do Correio Braziliense

Ronaldo de OliveiraCB
Cleide, na escola Extrema Boa Sorte, em Brejo do Piauí: no início do ano, nenhum dos 10 alunos da 3ª série sabia ler

Breno FortesCB
Aubetiza (de blusa cinza): apenas o sonho de criança a faz persistir
 
A única sala de aula da escola Extrema Boa Sorte, no município de Brejo do Piauí, a 423km de Teresina, tem quatro alunos. A professora diz que eram 10, mas dois largaram os estudos e os outros há tempos não aparecem. “Quando cheguei aqui, no início do ano, nenhum deles sabia ler, mesmo estando na 3ª série”, conta Cleide dos Santos, 43 anos — professora há 19. Sem material didático de apoio, a docente, que não tem curso superior, tenta alfabetizar as crianças. Para isso, ganha R$ 420 mensais.

“Não é possível alcançar uma educação de qualidade sem a valorização do professor”, diz a presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Juçara Maria Dutra Vieira. O pequeno investimento nos profissionais favorece a evasão escolar. Sem aprender, muitos alunos abandonam os estudos para trabalhar.

“Escola é negócio chato. Eu chegava na aula e não conseguia ler nada, ficava gaguejando”, conta Jeferson Siqueira Cavalcante Filho, 17 anos, morador de Quipapá, no Ceará. Em maio, deixou a escola, quando estava na 5ª série. Hoje, trabalha limpando mato, serviço pelo qual ganha cerca de R$ 10 por dia. “Eles perdem as esperanças e vêem que não conseguirão muito da vida”, reconhece Cleocilene dos Santos Nunes, 35 anos, orientadora educacional no Colégio Estadual Joaquina Maria da Silva, em Esperantina, norte do Tocantins. Na cidade de 8.112 habitantes, 54,6% da população depende do Bolsa Família. Ainda assim, as taxas de abandono escolar aumentaram desde 2001 (leia quadro).

“Os sistemas públicos deveriam assumir a formação dos professores. O Ministério da Educação começou a discutir políticas de formação envolvendo universidades públicas. É importante que o governo federal comece a se preocupar com o assunto, mas precisaríamos de algo de grande porte, com previsão de recursos e de continuidade, pois as necessidades históricas da educação são muito grandes”, diz a presidente da CNTE.

De acordo com Juçara Maria Dutra Vieira, os baixos salários são um dos principais fatores que afetam a produtividade dos profissionais de educação. “Com salário baixo, é impossível atingir objetivos como dedicação exclusiva e cursos de atualização”, alega. No país, como não há isonomia salarial para professores, o piso varia conforme estados e municípios. Em Teresina (PI), por exemplo, um educador de ensino básico recebe R$ 535,54 para lecionar durante 40 horas semanais. Já em Florianópolis (SC), o valor passa para R$ 1.792,08.

Ponto de partida
Para o professor Célio da Cunha, assessor especial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), aumentar o salário dos professores é o ponto de partida na busca pela qualidade do ensino. “É preciso tornar a profissão de docente atrativa, estimulando os jovens a seguirem a carreira”, diz. Caso contrário, alega, ninguém mais vai querer freqüentar os cursos superiores de licenciatura.

Aubetiza Pereira, 34 anos, só investe na profissão porque este sempre foi seu sonho. Desde criança, se esforçou para terminar os estudos e fugir do analfabetismo que rondava sua família. Conseguiu terminar o ensino médio e atualmente faz curso superior de pedagogia em Araguatins, próxima a Buriti do Tocantins, onde mora com o marido e a filha de 3 anos. No final do mês, recebe salário de R$ 400.

Hoje, a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados deverá votar o projeto de lei do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) que estabelece um piso salarial unificado para professores da rede pública. A proposta, que já saiu da pauta várias vezes, tramita em conjunto com um projeto do Poder Executivo, pelo qual todos os educadores devem receber, no mínimo, R$ 850 mensais. “Se houver o mínimo de boa vontade das bancadas, esperamos que seja realmente votado”, diz Juçara Maria Dutra Vieira. O presidente da comissão, deputado Gastão Vieira (PMDB-MA), garante que haverá votação: “É certeza absoluta”, diz.

Prêmios
O deputado, que já foi secretário de educação do Maranhão, diz que a questão salarial não deve ser a única a ser discutida. “Depois da aprovação do piso, defendo que as gratificações tenham como fundamento a produtividade, medida por sistemas de avaliações sérios e independentes. Se o professor se sair bem, ganha um prêmio. Se for mal, leva um puxão de orelhas.”

Aubetiza se esforça para tentar melhorar o currículo, mas as condições da escola não cooperam para estimular os alunos. Localizada às margens da rodovia que cruza a cidade, a Escola Municipal Amiguinhos de Jesus possui apenas duas salas, em péssimo estado de conservação, assim como as mesas e cadeiras. No banheiro, não há energia elétrica nem água encanada. As crianças não praticam esportes e as brincadeiras são feitas no pátio de terra vermelha. Na tentativa de barrar a evasão, Aubetiza vai à casa dos alunos para recuperar os faltantes. “Alguns têm dificuldade de acompanhar as aulas porque não vêm todos os dias, os pais não têm preocupação de mandar a criança para a escola, porque eles também não tiveram estudo. A gente acaba tendo que ir buscar na casa”, conta.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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