Quando o presidente Lula decidiu transformar a Bolsa-Escola em Bolsa Família, seus auxiliares foram alertados de que os efeitos seriam negativos, por três razões.
Primeiro, trocando a palavra escola, tirava-se a educação da cabeça dos beneficiários. Quando recebiam a Bolsa- Escola, eles pensavam: recebo a bolsa porque meus filhos estão na escola; se deixarem de estudar, não recebo. Agora, com a Bolsa Família, pensam: recebo a bolsa porque sou pobre; se sair da pobreza, não recebo.
Segundo, com a gestão transferida para o Ministério do Desenvolvimento Social, o programa passou a ser instrumento de apoio social, e não de mudança pela educação. Não se pode cobrar de um ministério, cujo papel é assistir aos pobres, a responsabilidade de vincular assistência com a freqüência às aulas.
Terceiro, misturou-se um programa educacional com programas assistenciais, como vale-gás e bolsa-alimentação. Ficou difícil separar as famílias que têm das que não têm direito de receber a Bolsa-Escola. A solução foi transformar a Bolsa-Escola em um apêndice, pago por criança e com valor insignificante, o que piorou a situação.
A Bolsa Família pode até diminuir a miséria entre os beneficiários, mas não elimina a pobreza do Brasil. Diminui a pobreza momentânea, mas não constrói um País rico, pois não reduz a dependência. Isso, só com uma revolução na educação. A Bolsa- Escola era parte dessa revolução.
Os efeitos se concretizaram, mas os alertas foram ignorados. Cada vez que há uma crise na economia ou no tráfego aéreo, o presidente reúne seus conselheiros. Mas a tragédia educacional permanece, sem que haja um gesto seu. Porque ela inviabiliza o futuro, mas não reduz os índices de popularidade nem tira votos.
Nesse sentido, o presidente acerta: do ponto de vista eleitoral, a Bolsa Família é melhor do que a Bolsa-Escola. | |