Educação
Yes, nós somos bilíngües

Fonte: Revista Veja

Alfabetizar as crianças em dois idiomas é uma
opção que causa ansiedade aos pais. A boa
notícia é que começar cedo é o melhor




Fabiano Accorsi
Crianças em escola bilíngüe de São Paulo: sete horas de aula por dia


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Quadro: Mais cedo, melhor

Matricular os filhos em uma escola bilíngüe é uma opção atraente para muitas famílias e que se justifica pela crescente inserção da economia brasileira no mundo globalizado. Desde 2005 foram abertas quarenta novas escolas de alfabetização simultânea em dois idiomas no país – um aumento de 25% em dois anos. De acordo com os dados do Ministério da Educação (MEC), nesse mesmo período o número de escolas convencionais em nada se alterou. A escolha do inglês como segundo idioma é avassaladora e chega a 90%. Os pais que decidem matricular os filhos em escolas bilíngües têm eles próprios um domínio básico ou elementar do inglês. Eles querem que os filhos cresçam falando inglês com mais naturalidade e eficiência.

A administradora de empresas Gabriela Ferreira paga para os filhos mensalidades de 2 000 reais, o dobro das cobradas em escolas convencionais. Diz Gabriela: Sei que com o inglês perfeito meus filhos estarão mais preparados para concorrer a um bom emprego no futuro. Felipe, de 8 anos, e Bruno, de 10, filhos de Gabriela, freqüentam escola bilíngüe desde os 2 anos. Eles falam inglês no automático, conta a mãe. Esse automatismo é resultado da exposição precoce a idiomas estrangeiros, uma boa opção quando feita com os cuidados necessários para que a criança não desenvolva aversão ao aprendizado, algo bem mais comum do que se possa imaginar. Os estudos sobre o funcionamento do cérebro infantil sugerem que são basicamente dois os benefícios da imersão intensa em um idioma estrangeiro no começo da vida escolar. O primeiro deles é que essa constitui a fase mais favorável à aquisição de uma segunda língua sem sotaque, pois justamente nesse período de crescimento acelerado o cérebro está formando suas estruturas nervosas básicas. Depois disso, o processo se torna gradativamente mais doloroso. Uma pesquisa feita por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) com adultos que haviam travado contato prolongado com o inglês em tenra idade mostra a diferença. Esses adultos conseguiam distinguir com naturalidade as minúcias de pronunciação e separar palavras de sons quase idênticos para os ouvidos pouco treinados – como bed (cama) e bad (mau).

Tornar-se fluente em um idioma estrangeiro é a segunda habilidade grandemente favorecida pelo aprendizado precoce. Uma pesquisa da NYU, a Universidade Nova York, feita com imagens do cérebro em funcionamento, explica as razões desse fenômeno. O estudo revela que o contato assíduo com uma língua estrangeira na infância ajuda a armazenar as palavras e a gramática do idioma aprendido em uma região do cérebro contígua à que comanda a fala. Assim é menos trabalhoso acionar o idioma armazenado naquela região e o cérebro gasta menos energia para fazê-lo. A fala flui, então, naturalmente. Um adulto pode alcançar a mesma fluência da criança no uso de um idioma estrangeiro? Pode, mas essa habilidade estará sempre condicionada ao uso freqüente do idioma aprendido tardiamente, que, ao contrário do que ocorre no cérebro da criança, estará armazenado em uma região neuronal menos conectada com a fala. Explica o psicólogo canadense Fred Genesee, uma autoridade no assunto: Até serem pronunciadas, as palavras estrangeiras precisam percorrer uma distância muito maior no cérebro de quem iniciou já adulto o aprendizado de uma segunda língua. São descobertas que, segundo mostram as pesquisas, não devem servir de desestímulo a quem tem filhos que, aos 5 ou 6 anos de vida, jamais pisaram em um curso de inglês, francês, espanhol ou outro idioma estrangeiro. O próprio Genesee relativiza as coisas ao valer-se de um estudo no qual comparou os diversos métodos de aprendizado de uma segunda língua. Ele concluiu que, depois de um intercâmbio de um ano em um país estrangeiro, jovens que até então sabiam apenas o inglês elementar costumam equiparar-se a outros que passaram por escolas bilíngües. A única diferença é que, algumas vezes, o inglês que resulta da experiência é ligeiramente mais carregado no sotaque.

Fabiano Accorsi
Na família Paiva, os filhos foram alfabetizados em duas línguas, ao estilo de países bilíngües, como o Canadá

Como em toda relação pai e filho, muitas vezes a ansiedade paterna em formar desde o berço um campeão de tênis ou um poliglota não é correspondida na forma de resultados práticos. A dona-de-casa Yara de Castro, 32 anos, ajuda a ilustrar essa situação. Com apenas 2 anos, sua filha, Marcella, já fazia a primeira incursão no inglês, matriculada em uma pré-escola bilíngüe de São Paulo. Aos 8, depois que diagnosticou o desembaraço da filha no aprendizado do inglês, a mãe colocou-a na escola Miguel de Cervantes, onde a segunda língua é o espanhol. Ela sonhava, assim, fazer de Marcella uma criança trilíngüe. O resultado ficou aquém do esperado. Diz a mãe de Marcella: Suas frases às vezes soam como uma salada de idiomas.

Um erro freqüente em algumas das escolas bilíngües brasileiras é submeter as crianças a uma maratona que inclui a alfabetização em duas línguas ao mesmo tempo – prática que os especialistas repudiam por uma razão objetiva: em quase todos os casos, o excesso atrasa a escrita nos dois idiomas. Tais escolas deveriam copiar o que há décadas dá certo em países com mais de uma língua oficial, como Canadá e Cingapura. Nas escolas desses países, primeiro se alfabetizam as crianças na língua mais difundida na cidade onde elas vivem, para só depois de um ano lhes apresentar a cartilha na segunda língua local. Foi assim no Brasil com os filhos da dona-de-casa Anete Paiva – e funcionou. Yasmin, 14 anos, Luca, 9, e Juan, 6, lêem bem em português e inglês.

A experiência em escola bilíngüe também proporcionou aos irmãos Paiva algo que seus pais buscaram para si, o contato mais próximo não apenas com o idioma, mas com a cultura do país estrangeiro. As crianças alfabetizadas em escolas com dois idiomas estudam em média sete horas por dia. Segundo os especialistas, é tempo mais do que suficiente para que aprendam o segundo idioma como em um processo de osmose, naturalmente – e com pouco ou nenhum sofrimento. É certamente esse o caso de estudantes afiados no inglês, como os que ilustram as páginas desta reportagem. Aos 10 anos, Bruno Ferreira resume o pensamento dos colegas: Inglês para a gente é divertimento.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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