Os críticos brasileiros do Acordo Ortográfico geralmente apóiam seus argumentos na condenação a   modos de falar, que se vêm consolidando na língua. São argumentos puristas, como os que podemos ler no artigo abaixo. Entretanto, o Acordo Ortográfico nada tem a ver com as mudanças que estão ocorrendo ,  principalmente na modalidade oral da língua portuguesa no Brasil, tais como novas expressões, novas palavras; novas regências de verbos, etc. É natural que ocorram tais mudanças.  O Acordo é uma medida de política lingüística que visa a facilitar a circulação de textos impressos entre os países lusófonos, favorecendo, dessa forma, o letramento nesses países.  Leiam também o artigo do Prof. Carlos Alberto Faraco nesta página. (Stella Bortoni) 

Deixem a língua em paz!

Fábio Rabello *

A reforma ortográfica da língua portuguesa, desta vez, não é apenas mais uma manutenção pela qual o idioma precisa passar, feito automóvel velho numa retífica de motores. O idioma, diferentemente daquilo que nos foi mostrado pela mídia, está funcionando bem e não precisa de intervenções sem nexo, como as que se pretende. O problema todo está em querer tratar os desajustes dele pelo avesso. Explico. Se não temos domínio mínimo do idioma, então, reforme-o! Não seria mais inteligente reformar os falantes dele?

Os anunciantes, por exemplo, deixaram de vender bancos de couro. Agora, só existem “bancos em couro”, “panelas em aço”, e por aí afora. O modismo tomou conta do País. Abandonamos, por conta própria, a preposição “de” e a substituímos pela “em”, muito mais elegante aos ouvidos daqueles que aprenderam, a partir de 1970, Comunicação e Expressão no lugar da Gramática. Um período de pouco menos de 40 anos foi suficiente para formar uma geração de analfabetos funcionais, que, agora, se vêem amparados por uma reforma que possa atender às suas absurdas necessidades. Logicamente, não é só a gramática que faltou à geração passada. O País fez uma opção. Em vez de se criarem condições para que a massa tivesse acesso aos quesitos mínimos da formação escolar, rebaixaram-se as exigências para atingi-los.

Daí surgiram modismos perturbadores, como a expressão “colocar”. Ninguém mais opina, nem afirma, muito menos fala. Todo bom brasileiro, agora, só “coloca”. “Posso fazer uma colocação?”, “como ele colocou, ele vai colocar o país em ordem”. E o que dizer dos gerúndios impróprios, tão irritantes mas que deixam o falante deles cheio de orgulho? “No que posso estar te ajudando?”, diz a mocinha da loja.

Uma restauração eficaz da língua é, obviamente, inviável. Façamos, então, opção pela educação sólida, não por uma inútil reforma. A língua é a identidade de uma nação. Preservá-la é sinal de patriotismo, condição essencial para que um país prospere. O ditador soviético Stalin pode ser usado como exemplo-síntese da estreita relação entre pátria e língua. Passada a atribulada fase na URSS, ele disse: “Fizemos a revolução, mas preservamos a bela língua russa!”

Aqui está acontecendo o contrário. De Cabral aos nossos dias, não fizemos nenhuma grande revolução. Que tal, então, descontarmos toda a letargia da história brasileira na bela língua portuguesa?

* PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA E REDATOR

Fonte: JB online

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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