Precisamos reformar a escola pública e fazer
com que ela funcione, ao invés de acreditar que
uma privatização salvaria a educação brasileira

 

Quando se fala sobre os problemas da educação brasileira - e especialmente quando dizemos que até mesmos as escolas particulares não conseguem escapar totalmente das deficiências do sistema público, que forma seus professores - alguns costumam aventar a idéia de que todo o sistema educacional seja privatizado. A lógica é simples: se a escola particular é melhor do que a pública - ou menos ruim, ou um pouco melhor do que a pública, como ditar o viés do leitor - e, ainda pior, se parte do problema da escola particular é justamente causada pelas carências da escola pública ao formar a geração seguinte de professores, então o país ficaria melhor se toda a rede de ensino fosse privatizada.

A lógica tem o seu buraco, e o seu termo técnico é falácia de composição. Explico com exemplo. Você descobre um caminho novo para um lugar. Ao invés de demorar meia hora, pelo caminho novo você chega em dez minutos, porque através desse caminho o trânsito flui. Aí você chega à conclusão de que esse caminho é melhor do que o antigo. Mas ele não é intrinsicamente melhor. Ele é apenas melhor porque só você o conhece. Quando todos o conhecerem, o caminho novo fica engarrafado e perde o seu mérito. A aparente superioridade desse caminho novo é apenas uma função de sua exclusividade.

A grande vantagem do ensino privado sobre o público é sua capacidade de selecionar

Ocorre algo semelhante com o ensino particular. Sua grande vantagem sobre o ensino público é sua capacidade de selecionar. Em primeiro lugar, como vimos no artigo da semana passada, 80% da diferença de performance entre alunos da escola pública e particular é explicável pela diferença de status socioeconômico da família do aluno. Em segundo lugar, e igualmente importante, vem a capacidade de selecionar professores e funcionários. Em uma escola particular, o diretor pode contratar e promover os melhores. Se todas as escolas que hoje são públicas fossem privatizadas, porém, essas duas vantagens desapareceriam. Se você tem de trabalhar com todos os alunos e todos os professores, obviamente você não consegue selecionar os melhores.

Países de sucesso educacional têm
uma educação majoritariamente pública e de qualidade

Quando você pára pra pensar, é notável que tantos países do mundo eduquem tantos milhões de jovens todos os anos, ao longo de séculos, e o façam de maneira tão semelhante. Da Rússia stalinista à Inglaterra thatcheriana, a educação é uma atribuição do Estado, e a grande maioria da matrícula está em instituições públicas ou pelo menos financiadas pelo poder público. Mas alguém já disse que aquilo que sempre foi considerado certo em todos os lugares têm todas as possibilidades de estar errado, então muitos empreendedores (políticos e econômicos) resolveram desafiar a experiência histórica e criar mecanismos diferentes de administração e financiamento educacional. No Chile, há a escola subvencionada, em que as famílias dos alunos recebem um voucher. Nos EUA, se experimentam há anos com as escolas charter. Por enquanto, nenhuma dessas alternativas se mostrou exitosa, e os países de grande sucesso educacional têm uma educação majoritariamente pública e de qualidade.

Acredito que o Brasil deva trilhar o mesmo caminho. Precisamos reformar a escola pública e fazer com que ela funcione, ao invés de acreditar que uma privatização seria a bala de prata que salvaria a educação brasileira. Escola não é fábrica e professor não é operário. Precisamos ser pragmáticos e adotar aquilo que dá certo. De fetiches ideológicos já temos que chega em Brasília. Fonte: Veja online

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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