Salvar a língua?


Causa espanto a aprovação de projeto de lei que restringe o uso de palavras e expressões estrangeiras em anúncios publicitários, informações comerciais, meios de comunicação e documentos oficiais. Com o aval da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, a matéria segue para o plenário. Transposta mais essa etapa, irá à sanção presidencial. O texto já foi submetido ao Senado, onde sofreu as alterações ora abonadas pelos deputados.

A proposta, plena de boas intenções, peca pelo desconhecimento da realidade. As línguas são sistemas abertos. Influenciam e são influenciadas. Quanto maior o contato com idiomas estrangeiros, maior o aporte, que enriquece e amplia as possibilidades de compreensão e expressão por meio da palavra. Cinema, música, rádio, televisão, livros, jornais, revistas, internet aproximam os povos e estimulam o intercâmbio. Como manter-se impermeável ao convívio?

O trânsito lingüístico, intensificado pelas ferramentas tecnológicas de comunicação e facilidades oferecidas no ir e vir de pessoas, não constitui tendência moderna. Desde que o homem se locomove comunica-se com os demais. Como separar o genuinamente nacional do estrangeiro? Mais: as áreas de inovação tecnológica e científica nem sempre têm vocábulos correspondentes no português. Como proceder? Há que levar em consideração, também, a cultura. O Brasil terá de cassar, ou traduzir com letras de igual destaque, como determina o projeto, palavras como show, shopping, abajur, marketing, futebol, garagem?

Aldo Rebelo, autor da proposta, alega que a legislação visa à promoção e defesa do idioma. A intenção é meritória, mas o caminho parece equivocado. Proibir a língua de respirar é como proibir o vento de soprar. A melhor defesa do idioma reside no domínio do idioma. É aí que o país falha. Embora seja disciplina obrigatória ao longo do ensino fundamental e médio, o português não se tornou familiar à maioria dos cidadãos. Exames nacionais e internacionais dão triste atestado à educação brasileira: os alunos, que freqüentaram as salas de aula anos a fio, são incapazes de escrever, ler e entender um texto.

De um fato ninguém duvida. A língua é patrimônio por que todos devem zelar. Zelo não significa clausura, mas a ampliação das possibilidades oferecidas pela fala e pela escrita. Melhorar a qualidade do ensino, qualificar professores, oferecer material didático moderno e atraente é a arma que defenderá a língua. Ela formará cidadãos aptos a usufruir os recursos que a fonética, o léxico, as flexões e a sintaxe oferecem e, em conseqüência, conquistará defensores da riqueza da qual ninguém quererá abrir mão. (Correio Braziliense)

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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