Meu artigo na revista VEJA dessa semana fala sobre a coitadização do nosso professor - um discurso infantilizador de alguns, que trata o professor brasileiro como um pobre coitado, uma vítima - objeto, e não sujeito, de sua ação.

Parte desse discurso, rotineiramente proferido por membros da categoria e suas lideranças sindicais, diz respeito à desvalorização social do professor. Diz-se que a carreira de professor é desmerecida pela sociedade, e que a baixa auto-estima resultante dessa estigmatização está entre as causas do insucesso docente e do fracasso da nossa educação. Parece-me que é um caso de, na melhor das hipóteses, causalidade reversa.

Digo na melhor das hipóteses porque efetivamente não acredito que a profissão de professor seja vítima de preconceito. Pelo contrário, aliás. Onde quer que eu vá, vejo manifestações de apreço e encorajamento aos professores. Há uma série de prêmios, regionais e nacionais, destinados à categoria. Seguidamente jornais, revistas e programas de TV se referem aos professores como heróis. Quando acontece alguma agressão a professores ela logo vira destaque e é vista com espanto e reprovação. Acredito que a sociedade brasileira entende o papel fundamental do professor na formação de seus filhos. Pesquisa realizada pelo Inep (acesse a pesquisa) com os pais de alunos revelou que 83% dos entrevistados acreditam que os professores estão preocupados em ensinar e dar boas aulas, 77% diz que o professor tem paciência para tirar dúvidas dos alunos, 89% declaram que o professor é atencioso com os pais. Quando os pais são instados a dar notas para os professores de seus filhos, estes recebem uma avaliação exemplar: 8,6 para a qualidade do ensino e 8,4 para o conteúdo ensinado.

Essa já seria uma avaliação lisonjeira para qualquer profissão, mas no caso da educação brasileira, que é um fracasso indiscutível, ela é verdadeiramente miraculosa. Os professores brasileiros têm uma situação privilegiada: mesmo sendo os principais responsáveis pelo ensino, não recebem praticamente nenhuma condenação pelo seu fracasso, que recai todo sobre os próprios filhos (os alunos) e os governantes. Deve ser um caso único em que o pai vitima o filho, já vitimado pelo péssimo ensino que recebe.


Se há, em alguma região do país ou contexto específico, reclamações dirigidas aos professores que os façam sentir-se desvalorizados, só podemos dizer que é de se esperar. Poucas categorias profissionais no país apresentam resultados tão decepcionantes como a dos trabalhadores do ensino. E em nenhum outro caso esse desempenho é tão importante para o país. Durante décadas imperou a visão de que os problemas educacionais eram todos exógenos aos profissionais do ensino - causados pelas supostas faltas de interesse e de investimento da sociedade ou por problemas do próprio aluno. Atualmente, com as avaliações às quais o sistema educacional está sujeito, essa visão tornou-se insustentável. É absolutamente transparente que, com os mesmos níveis de recurso e atendendo pais e alunos dos mesmos estratos sociais, escolas diferentes têm resultados muito distintos. Sinal de que a escola, e o que os profissionais fazem dentro dela, importam - e muito - para o desempenho do aluno.

Está na hora de os nossos professores pararem de demonizar o Outro - governantes, diretores, políticos, pais, neoliberalismo, alunos - pelo insucesso da escola. Não vamos chegar a lugar nenhum com transferência de responsabilidades. E não se trata aqui de atribuir culpas - essa linguagem cabe nos confessionários religiosos, não em discussões de políticas públicas. Não interessa o que passou. O que importa é o que podemos fazer daqui pra frente. Tenho certeza de que se os professores tiverem o desprendimento de aceitarem realizar uma instrospecção honesta e conseguirem identificar suas carências, a sociedade brasileira - por meio de seus representantes eleitos, mas não apenas eles - saberá estender-lhes a mão, sem recriminações, e ajudar-lhes na melhoria das nossas escolas.

 

 

 

 

TESTE DE CONHECIMENTOS

Carreira do professor

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