Entrevista
Para a docente do Instituto de Psicologia da UnB Regina Pedroza, a falta de prestígio da profissão só mudará com o aumento do salário e a elaboração de uma política educacional para o país

rodolfo borges
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Daiane SouzaUnB Agência
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Como faz sentido seguir uma carreira em que só se mostra descontentamento?”

Estudo recente da Fundação Lemann e do Instituto Futuro Brasil indica que apenas 5% dos melhores alunos do ensino médio querem ser docentes do ensino básico. O dado, baseado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), é discutível, mas indicativo do desprestígio da figura do professor no Brasil.

“Dentro da sala de aula, o professor está reclamando de salário, da falta de condições de trabalho, da falta de educação dos alunos, da falta disso, daquilo, sempre da falta. Como faz sentido para esses alunos seguir uma carreira em que só se mostra descontentamento?”, analisa a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Regina Pedroza. Ela ministra a disciplina Fundamentos de Desenvolvimento e Aprendizagem, freqüentada por todos os alunos de licenciatura da universidade.

Em entrevista concedida ao UnB Notícias, a professora discute a validade da pesquisa, mas concorda que é preciso valorizar o ofício do professor. “Não dá para querer que um professor seja capaz de sobreviver com o salário que anda recebendo. Tem muito mais para ser feito. Todo político fala sobre a importância da educação, mas não existe uma política educacional no país”, reclama.

UnB NOTÍCIAS - Por que a falta de interesse dos alunos pela docência?
REGINA PEDROZA - É preciso discutir os parâmetros escolhidos para dizer quais são esses “melhores” alunos. Será que quem tira a melhor nota será também o melhor professor? Estamos querendo antecipar uma escolha profissional para ainda mais cedo. A gente já faz isso quando o aluno escolhe sua profissão a partir de seu curso na universidade.

UnB NOTÍCIAS - Que outra formação deveria ser levada em conta? REGINA PEDROZA - Trabalho com a formação da pessoa do professor. Minha tese de doutorado mostra a necessidade de trabalhar com a questão da personalidade. Ela falta desde sempre na nossa formação enquanto sujeitos. Somos mais formados para a lógica do mercado de trabalho, para nos adaptar à sociedade regida pela lógica do mercado. Dizemos também que deveria haver uma formação da sensibilidade, de valores morais, de solidariedade. Isso é contraditório.

UnB NOTÍCIAS - Por que os alunos não se vêem como professores ?
REGINA PEDROZA - Há modelos de professores. Na sala de aula, o professor está reclamando do salário, da falta de condições de trabalho, sempre da falta. Como faz sentido para esses alunos seguir uma carreira em que só se mostra descontentamento?

UnB NOTÍCIAS - Como chegamos a essa situação?
REGINA PEDROZA - Historicamente, quando surgiram as primeiras escolas no Brasil, os professores do ensino básico eram mulheres, “tias”. Não precisavam de salário, bastava essa oportunidade de sair de casa. Mas o que diferencia o Brasil dos outros países é a estupidez da diferença entre classes sociais. É difícil pensar que apenas 5% da população brasileira têm acesso à educação. E a maioria está onde os professores têm menos condições.

UnB NOTÍCIAS - Como valorizar os docentes? Basta aumentar o salário?
REGINA PEDROZA - Não. Aumentar o salário com certeza é importante. Mas tem muito mais para ser feito. É preciso um compromisso político-pedagógico. Na UnB, durante a criação dos cursos noturnos, falou-se da importância de criar as licenciaturas. E isso aconteceu. Acredito que uma política pedagógica dentro das universidades e dos centros de formação poderia ajudar uma pessoa a optar pela profissão, acompanhado de salário e condições de trabalho.

UnB NOTÍCIAS - As universidades contribuem para melhorar a situação?
REGINA PEDROZA - A desvalorização existe também dentro da universidade. Em áreas como Matemática, Física e Química, há um preconceito contra quem vai para a licenciatura, para ser professor, em vez de ir para a área de pesquisa.

UnB NOTÍCIAS - Como melhorar a formação do professor?
REGINA PEDROZA - A formação do professor é extremamente importante, mas apenas ela não garante a qualidade. A gente precisa de políticas públicas que possam começar a mudar essa visão sobre o que é ser professor. No primeiro dia de aula da minha disciplina, peço para os alunos escreverem uma redação com o tema “por que ser ou não ser professor”. O resultado é interessante: a maioria está na licenciatura, mas não quer ser professor.

UnB NOTÍCIAS - As bolsas de iniciação à docência podem alterar essa mentalidade?
REGINA PEDROZA - É um começo. Quem sabe, dar uma bolsa incentive os estudantes a trabalhar com a licenciatura. Na UnB, já demos um passo muito grande com as bolsas de extensão. Ensinar é permitir, a partir de possibilidades que você apresenta, que o outro vá em busca de seu próprio aprendizado.

UnB NOTÍCIAS - Há registro de seis agressões por semana contra os docentes em Ceilândia e Taguatinga. Recentemente, espancamentos de professores ganharam os jornais. Existem culpados nessas histórias?
REGINA PEDROZA - Não. Para mim, não existem bandidos ou mocinhos. Com toda essa complexidade da nossa sociedade, com essas diferenças sociais, como se pode falar de violência ou não? A questão é relacional.

UnB NOTÍCIAS - O professor brasileiro é respeitado?
REGINA PEDROZA - Não. Por uma série de problemas. Paulo Freire falava: “professora, sim, tia não”. E perguntava: “você já viu alguma passeata de tias? Alguma tia reivindicando salário?”. Está no imaginário das pessoas que ser professor é um sacerdócio, uma vocação. Não dá mais para se sustentar nessa doação toda.

UnB NOTÍCIAS - Que motivos daria para um jovem ser professor hoje?
REGINA PEDROZA - Digo a todos os meus alunos que sejam professores. Falo tanto que, nas colações de grau, alguns deles que decidem não seguir essa carreira vêm me dar satisfação. Eu acredito que possa, como professora, participar da mudança do mundo.

Categoria pai: Seção - Entrevistas

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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