Cultura Escrita: entre o regular e o específico

Judith Kalman

“Se pin tan.cazas”. A pesquisadora Judith Kalman, do Centro de Investigação e de Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional do México, fala do momento em que se deparou com esse letreiro escrito a mão como seu ‘mito de origem’. A princípio, ela encarou o texto apenas como a oferta de um serviço. Em seguida, passou a refletir sobre a provável baixa escolaridade de quem o escreveu – a grafia padrão em espanhol é “Se pintan casas”. Em uma terceira leitura, passou a considerar, de modo mais amplo, o contexto de produção daquele texto, o que motivou seu interesse pela dimensão social da língua escrita, atualmente tema central de seus estudos.

Esse relato acima foi apresentado pela pesquisadora em conferência do II Colóquio Internacional sobre Letramento e Cultura Escrita, organizado pelo Ceale em agosto. Após a palestra, Judith Kalman concedeu esta entrevista ao Portal Educativo Ceale, em que fala sobre sua nova perspectiva de estudos, que leva em conta a instabilidade das práticas sociais de leitura e escrita. “Devemos buscar o equilíbrio entre a regularidade dos textos e o que há de específico.” Fala também sobre a importância de se abordar os conflitos sociais na escola e nos livros didáticos e sobre a ampliação do conceito de alfabetização. Entrevista realizada pela pesquisadora do Ceale Zélia Versiani e pelo repórter Vicente Cardoso Júnior.

Por que o pressuposto da instabilidade é importante para o estudo das práticas sociais de leitura e escrita?
Eu penso que a instabilidade é a condição normal de produção e não uma exceção. A tendência é ver a língua escrita como a parte estável, mas, de fato, se você compara um título de propriedade da Idade Média, por exemplo, com um título de propriedade de agora, vai se dar conta de que há transformações, pode ser que contenham aspectos parecidos, mas vão aparecer mudanças. Se pensarmos unicamente em práticas estáveis, vamos limitar nossa visão. Buscando a estabilidade, tudo que não cabe dentro da forma regularizada, fica de fora. Se quisermos ter uma visão inclusiva de cultura escrita, devemos buscar aqueles aspectos que não estão dentro da noção de algo estável, devemos buscar o movimento e tratar de entender elementos que estão contidos em um texto. E isso pode nos ajudar a compreender as mudanças na língua escrita e em seu uso, porque a língua escrita também evolui, mais devagar que a oral, mas também evolui.

#QUEBRA#

Você fala de “textos em movimento” e “movimento nos textos”. Qual a diferença entre essas duas noções?
Não são idéias que já conclui, são idéias que ainda estou pensando. Com “textos em movimento”, estou buscando uma maneira de expressar o que ocorre quando um texto passa de uma situação de produção a outro espaço de interpretação, o que faz com que os parâmetros de validez e as expectativas mudem de um lugar a outro, gerando uma construção de significado distinta. Vemos isso muito claramente quando se tem relações assimétricas de poder. É a idéia do texto que viaja. Quando os europeus chegam para conquistar e colonizar a América, chegam com seu livro, a Bíblia, e buscam impor sua leitura de uma maneira particular, mas as populações locais indígenas se apropriaram do livro e o inseriram em suas próprias práticas – isso é o texto em movimento. Sobre o “movimento nos textos”, o exemplo que discutimos foi o de um ofício que, à primeira vista, cumpre todos os requisitos formais: a linguagem, a estrutura da página, o uso da folha timbrada de uma instituição, a presença de assinaturas. Mas visto mais de perto, notam-se recursos da língua escrita que não são próprios de cartas formais, são elementos que foram importados para lá. Então, há um movimento nesse texto porque ele se transforma, já não há a forma estável. E se você vê com cuidado cartas produzidas em condições institucionais, percebe que sempre há transformações, nunca é uma réplica.

#QUEBRA#

Cada contexto de produção e de interpretação pode ser considerado único?
A resposta é sim e não. Cada vez que fazemos uso da língua, trata-se de práticas rituais, práticas como essas são uma tradição. Mas quando nos encontramos em uma situação específica, sempre há elementos das práticas que vão ser realçados mais do que outros. São realçados certos aspectos do texto e é realçada a própria relação dos atores e dos escritores. Isso não quer dizer que é caótico, que qualquer novidade ocorre sempre. Por exemplo, hoje, quando dei minha conferência, escolhi um estilo informal, relaxado, mas poderia ter feito uma conferência rigorosa e acadêmica, seguindo um formato em que expusesse cada conceito, me referisse a autores contrapondo-os a outros. Qualquer uma das duas fórmulas estava dentro dos limites do que se esperava. O que é diferente do que ocorreria se eu passasse a dançar e a cantar; isso ninguém esperaria. Eu faço minhas escolhas dentro de certos limites e, quando não, se torna muito estranho para todo mundo. Se vamos falar da singularidade, também devemos olhar o que é redundante no uso da linguagem e o que é novo, no sentido de único em cada situação.

O problema é como chegar ao equilíbrio entre a regularidade dos textos e o específico. Eu não acho que devemos derrubar bruscamente tudo o que tem certa regularidade, mas buscar um equilíbrio. Temos que dimensionar as coisas. Reconhecer o que há em um texto, em certo uso da linguagem, que nos permite tomá-lo como tal, buscando apontar o que há de inesperado nele e como explicar que aquilo esteja ali.

#QUEBRA#

Você falou em sua palestra da impossibilidade de inserir uma entrevista com o dono da Televisa em um livro didático que produzia. [Na entrevista, o dono da maior cadeia de televisão do México se refere às classes populares de maneira pejorativa, desprezando o nível cultural do público de seus programas.] Isso seria um exemplo da dificuldade que a escola tem em incorporar certos textos importantes para uma formação crítica dos alunos?
Eu creio que é um exemplo de muitas coisas. É um exemplo de um discurso público que expressa uma intencionalidade, mas que está limitada. Há a possibilidade de oferecer materiais para uma formação crítica, mas somente certos materiais, que têm que ser aprovados após discussão com a Secretaria de Educação Pública. Nesse caso muito particular, houve pouca discussão, houve poucas possibilidades de argumentar a favor ou contra. É contraditório o Estado dizer que vamos fazer as crianças críticas, que vamos falar com elas dos meios de comunicação, que vamos fazê-las entender ideologia, e na primeira tentativa de se fazer essa crítica a partir do material didático, não há permissão. Fizemos um material que possibilitaria abordar o texto com seriedade, com respeito, mas dizendo: “esta é uma pessoa muito poderosa e fala das classes populares de uma maneira forte. Estão falando de vocês, e vocês que opinem sobre isso”. Eles que decidam se aquilo lhes importa ou não, isso é fazê-los críticos.

Então, você tem um discurso oficial, que vai por um lado, mas junto há um controle férreo de como isso se materializa. Isso ocorreu porque era um livro de texto da Secretaria de Educação Pública. Não quer dizer que um professor não possa levar essa mesma revista em que aparece a entrevista para a aula e trabalhar com ela. Mas isso não é uma coisa usual, e uma das formas de ajudar os professores a realizar esse movimento em suas práticas é oferecer os materiais. Vendo de uma perspectiva acadêmica, nos pareceu que aquele era o artigo que mais deveria estar nos livros didáticos, porque foi um texto que teve muita circulação, porque é um artigo muito citado, porque é uma forma de incluir os alunos em um discurso. Eu penso que não devemos ter medo de trabalhar com coisas que podem causar controvérsia, a controvérsia é saudável. Em especial para as crianças que vivem em zonas marginais, rurais, indígenas, este é um tipo de prática de linguagem incomum em suas comunidades, e essa é uma forma de ampliar seu horizonte.

Mas não é fácil, eu entendo. Os livros foram publicados após encontrarmos alternativas, mas esse me parece mesmo um exemplo muito ilustrativo da dificuldade de realizar esse tipo de discussão. Esse artigo circulou por todos os lados, e o que se dizia era que todos podiam lê-lo, mas não na escola. Eu perguntava: “por que na escola não?” E isso não é nada comparado com os conflitos que eles vão encontrar fora da escola. Os conflitos que vivemos hoje em dia são muitos, profundos e violentos, e aqui temos uma pequena mostra verbal que, gostem ou não, são apenas palavras.

#QUEBRA#

Como a noção de alfabetização tem sido ampliada no México?
Eu creio que, de um tempo para cá, talvez desde o princípio dos anos 90, o termo ‘alfabetização’ nos incomoda, e isso porque seu significado mais conhecido e mais difundido é o da alfabetização de letras e sons. Realmente, a preocupação da alfabetização, de alguma maneira, está na apropriação do código, mas, dentro disso, há muitas maneiras de pensar. A língua escrita é utilizada para uma variedade de coisas e, cada vez que fazemos uso da leitura e da escrita, estamos criando e recriando cultura escrita.

Uma das formas de ampliarmos essa idéia de alfabetização é pensarmos em termos de cultura escrita. O negativo de mudar de termo é que nem todo mundo sabe do que se está falando, mas o negativo de seguir usando um termo amplamente difundido é que ele se presta a muitos mal-entendidos e à criação de expectativas falsas. Ele está vinculado a muitos mitos sociais. Um mito é o de que uma sociedade com 40% de sua população alfabetizada vai chegar à prosperidade. Olhando para a América Latina, para qualquer país que já alcançou esse índice, vemos que uma afirmação desse tipo não é sustentável. E, como essa, há muitas. Eu creio que há uma carga ideológica muito forte ligada à idéia de alfabetização, e que uma das formas de melhorar nossa compreensão e de ampliar e diversificar o que se entende por alfabetização é buscar outros modos de dizer. Depende muito do que você quer dizer: podemos falar de língua escrita, de alfabetização, de cultura escrita, de iletrismo ou de ser ou não letrado. Eu creio que não há um único termo e o melhor mesmo é ter uma espécie de ‘caixa de ferramentas’ de muitas palavras que podem nos ajudar a falar com mais precisão.

Publicado em 23092008
09.2008-006N

“Se pin tan.cazas”. A pesquisadora Judith Kalman, do Centro de Investigação e de Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional do México, fala do momento em que se deparou com esse letreiro escrito a mão como seu ‘mito de origem’. A princípio, ela encarou o texto apenas como a oferta de um serviço. Em seguida, passou a refletir sobre a provável baixa escolaridade de quem o escreveu – a grafia padrão em espanhol é “Se pintan casas”. Em uma terceira leitura, passou a considerar, de modo mais amplo, o contexto de produção daquele texto, o que motivou seu interesse pela dimensão social da língua escrita, atualmente tema central de seus estudos.

Esse relato acima foi apresentado pela pesquisadora em conferência do II Colóquio Internacional sobre Letramento e Cultura Escrita, organizado pelo Ceale em agosto. Após a palestra, Judith Kalman concedeu esta entrevista ao Portal Educativo Ceale, em que fala sobre sua nova perspectiva de estudos, que leva em conta a instabilidade das práticas sociais de leitura e escrita. “Devemos buscar o equilíbrio entre a regularidade dos textos e o que há de específico.” Fala também sobre a importância de se abordar os conflitos sociais na escola e nos livros didáticos e sobre a ampliação do conceito de alfabetização. Entrevista realizada pela pesquisadora do Ceale Zélia Versiani e pelo repórter Vicente Cardoso Júnior.

Por que o pressuposto da instabilidade é importante para o estudo das práticas sociais de leitura e escrita?
Eu penso que a instabilidade é a condição normal de produção e não uma exceção. A tendência é ver a língua escrita como a parte estável, mas, de fato, se você compara um título de propriedade da Idade Média, por exemplo, com um título de propriedade de agora, vai se dar conta de que há transformações, pode ser que contenham aspectos parecidos, mas vão aparecer mudanças. Se pensarmos unicamente em práticas estáveis, vamos limitar nossa visão. Buscando a estabilidade, tudo que não cabe dentro da forma regularizada, fica de fora. Se quisermos ter uma visão inclusiva de cultura escrita, devemos buscar aqueles aspectos que não estão dentro da noção de algo estável, devemos buscar o movimento e tratar de entender elementos que estão contidos em um texto. E isso pode nos ajudar a compreender as mudanças na língua escrita e em seu uso, porque a língua escrita também evolui, mais devagar que a oral, mas também evolui.

Você fala de “textos em movimento” e “movimento nos textos”. Qual a diferença entre essas duas noções?
Não são idéias que já conclui, são idéias que ainda estou pensando. Com “textos em movimento”, estou buscando uma maneira de expressar o que ocorre quando um texto passa de uma situação de produção a outro espaço de interpretação, o que faz com que os parâmetros de validez e as expectativas mudem de um lugar a outro, gerando uma construção de significado distinta. Vemos isso muito claramente quando se tem relações assimétricas de poder. É a idéia do texto que viaja. Quando os europeus chegam para conquistar e colonizar a América, chegam com seu livro, a Bíblia, e buscam impor sua leitura de uma maneira particular, mas as populações locais indígenas se apropriaram do livro e o inseriram em suas próprias práticas – isso é o texto em movimento. Sobre o “movimento nos textos”, o exemplo que discutimos foi o de um ofício que, à primeira vista, cumpre todos os requisitos formais: a linguagem, a estrutura da página, o uso da folha timbrada de uma instituição, a presença de assinaturas. Mas visto mais de perto, notam-se recursos da língua escrita que não são próprios de cartas formais, são elementos que foram importados para lá. Então, há um movimento nesse texto porque ele se transforma, já não há a forma estável. E se você vê com cuidado cartas produzidas em condições institucionais, percebe que sempre há transformações, nunca é uma réplica.

Cada contexto de produção e de interpretação pode ser considerado único?
A resposta é sim e não. Cada vez que fazemos uso da língua, trata-se de práticas rituais, práticas como essas são uma tradição. Mas quando nos encontramos em uma situação específica, sempre há elementos das práticas que vão ser realçados mais do que outros. São realçados certos aspectos do texto e é realçada a própria relação dos atores e dos escritores. Isso não quer dizer que é caótico, que qualquer novidade ocorre sempre. Por exemplo, hoje, quando dei minha conferência, escolhi um estilo informal, relaxado, mas poderia ter feito uma conferência rigorosa e acadêmica, seguindo um formato em que expusesse cada conceito, me referisse a autores contrapondo-os a outros. Qualquer uma das duas fórmulas estava dentro dos limites do que se esperava. O que é diferente do que ocorreria se eu passasse a dançar e a cantar; isso ninguém esperaria. Eu faço minhas escolhas dentro de certos limites e, quando não, se torna muito estranho para todo mundo. Se vamos falar da singularidade, também devemos olhar o que é redundante no uso da linguagem e o que é novo, no sentido de único em cada situação.

O problema é como chegar ao equilíbrio entre a regularidade dos textos e o específico. Eu não acho que devemos derrubar bruscamente tudo o que tem certa regularidade, mas buscar um equilíbrio. Temos que dimensionar as coisas. Reconhecer o que há em um texto, em certo uso da linguagem, que nos permite tomá-lo como tal, buscando apontar o que há de inesperado nele e como explicar que aquilo esteja ali.

Você falou em sua palestra da impossibilidade de inserir uma entrevista com o dono da Televisa em um livro didático que produzia. [Na entrevista, o dono da maior cadeia de televisão do México se refere às classes populares de maneira pejorativa, desprezando o nível cultural do público de seus programas.] Isso seria um exemplo da dificuldade que a escola tem em incorporar certos textos importantes para uma formação crítica dos alunos?
Eu creio que é um exemplo de muitas coisas. É um exemplo de um discurso público que expressa uma intencionalidade, mas que está limitada. Há a possibilidade de oferecer materiais para uma formação crítica, mas somente certos materiais, que têm que ser aprovados após discussão com a Secretaria de Educação Pública. Nesse caso muito particular, houve pouca discussão, houve poucas possibilidades de argumentar a favor ou contra. É contraditório o Estado dizer que vamos fazer as crianças críticas, que vamos falar com elas dos meios de comunicação, que vamos fazê-las entender ideologia, e na primeira tentativa de se fazer essa crítica a partir do material didático, não há permissão. Fizemos um material que possibilitaria abordar o texto com seriedade, com respeito, mas dizendo: “esta é uma pessoa muito poderosa e fala das classes populares de uma maneira forte. Estão falando de vocês, e vocês que opinem sobre isso”. Eles que decidam se aquilo lhes importa ou não, isso é fazê-los críticos.

Então, você tem um discurso oficial, que vai por um lado, mas junto há um controle férreo de como isso se materializa. Isso ocorreu porque era um livro de texto da Secretaria de Educação Pública. Não quer dizer que um professor não possa levar essa mesma revista em que aparece a entrevista para a aula e trabalhar com ela. Mas isso não é uma coisa usual, e uma das formas de ajudar os professores a realizar esse movimento em suas práticas é oferecer os materiais. Vendo de uma perspectiva acadêmica, nos pareceu que aquele era o artigo que mais deveria estar nos livros didáticos, porque foi um texto que teve muita circulação, porque é um artigo muito citado, porque é uma forma de incluir os alunos em um discurso. Eu penso que não devemos ter medo de trabalhar com coisas que podem causar controvérsia, a controvérsia é saudável. Em especial para as crianças que vivem em zonas marginais, rurais, indígenas, este é um tipo de prática de linguagem incomum em suas comunidades, e essa é uma forma de ampliar seu horizonte.

Mas não é fácil, eu entendo. Os livros foram publicados após encontrarmos alternativas, mas esse me parece mesmo um exemplo muito ilustrativo da dificuldade de realizar esse tipo de discussão. Esse artigo circulou por todos os lados, e o que se dizia era que todos podiam lê-lo, mas não na escola. Eu perguntava: “por que na escola não?” E isso não é nada comparado com os conflitos que eles vão encontrar fora da escola. Os conflitos que vivemos hoje em dia são muitos, profundos e violentos, e aqui temos uma pequena mostra verbal que, gostem ou não, são apenas palavras.

Como a noção de alfabetização tem sido ampliada no México?
Eu creio que, de um tempo para cá, talvez desde o princípio dos anos 90, o termo ‘alfabetização’ nos incomoda, e isso porque seu significado mais conhecido e mais difundido é o da alfabetização de letras e sons. Realmente, a preocupação da alfabetização, de alguma maneira, está na apropriação do código, mas, dentro disso, há muitas maneiras de pensar. A língua escrita é utilizada para uma variedade de coisas e, cada vez que fazemos uso da leitura e da escrita, estamos criando e recriando cultura escrita.

Uma das formas de ampliarmos essa idéia de alfabetização é pensarmos em termos de cultura escrita. O negativo de mudar de termo é que nem todo mundo sabe do que se está falando, mas o negativo de seguir usando um termo amplamente difundido é que ele se presta a muitos mal-entendidos e à criação de expectativas falsas. Ele está vinculado a muitos mitos sociais. Um mito é o de que uma sociedade com 40% de sua população alfabetizada vai chegar à prosperidade. Olhando para a América Latina, para qualquer país que já alcançou esse índice, vemos que uma afirmação desse tipo não é sustentável. E, como essa, há muitas. Eu creio que há uma carga ideológica muito forte ligada à idéia de alfabetização, e que uma das formas de melhorar nossa compreensão e de ampliar e diversificar o que se entende por alfabetização é buscar outros modos de dizer. Depende muito do que você quer dizer: podemos falar de língua escrita, de alfabetização, de cultura escrita, de iletrismo ou de ser ou não letrado. Eu creio que não há um único termo e o melhor mesmo é ter uma espécie de ‘caixa de ferramentas’ de muitas palavras que podem nos ajudar a falar com mais precisão.

Publicado em 23092008
09.2008-006N