educação Projeto reduz idade para criança frequentar escola
Proposta, já aprovada no Senado, divide opiniões ao diminuir de seis para cinco anos a entrada de alunos no ensino fundamental
Isabel Vilela
Carlos MouraCBD.A Press - 7510
A Escola Classe da 305 Sul já tem estudantes de cinco anos entre os alunos do ensino fundamental
A Câmara dos Deputados discutirá em audiência pública nesta quarta-feira o Projeto de Lei nº 4142008, que propõe a antecipação do acesso de alunos ao ensino fundamental. A proposta, de autoria do senador Flávio Arns (PSDB-PR), altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), diminuindo de seis para cinco anos a idade de entrada das crianças no primeiro ano fundamental. Aprovado no Senado, o texto agora tramita na Câmara, e se tiver voto favorável na Comissão de Educação e Cultura, segue para sanção presidencial.
Mas o projeto é polêmico. Para vários setores da sociedade ainda há muito o que se discutir. A Rede (1)Nacional Primeira Infância, por exemplo, não aceita a proposta e vai apresentar um manifesto durante a audiência pública realizada pela comissão da Câmara. “A rede é contra a antecipação do ensino fundamental para os cinco anos de idade porque é um direito da criança a educação infantil até o término do 5º ano. Ele começa, por lei, aos seis anos. Se você antecipa, a criança vai entrar muito nova e perder a experiência pedagógica adequada a essa fase do desenvolvimento”, defende Vital Didonet, membro da Organização Mundial para Educação Pré-Escolar (Omep) e coordenador da secretaria executiva da Rede Nacional Primeira Infância.
No meio acadêmico, muitos pesquisadores partilham da ideia de que as crianças não estão preparadas para ingressar no ensino fundamental aos cinco anos. A Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) publicou carta de repúdio ao projeto de lei e o grupo de estudos e pesquisas em educação infantil da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) também se manifestará da mesma forma na audiência pública. O autor do projeto, Flávio Arns, defende que a alteração é necessária para colocar a LDB em conformidade com a Constituição, depois da Emenda nº 53, de 2006, que tornou obrigatória a educação infantil. “A Constituição diz de maneira bastante clara que a educação infantil vai até cinco anos”, defende Arns.
Polêmica Para o senador, a proposta é benéfica aos novos estudantes. “O que a lei fez foi apenas tornar a pré-escola obrigatória. Isso significa que a criança, ao entrar no conteúdo propriamente dito de alfabetização, já vai ter tido um ano de educação escolar, se acostumando com a escola, os professores, os diálogos, o material escolar, o que fará com que ela tenha mais chances de sucesso quando estiver na segunda série”, justifica Arns. O presidente da Federação Nacional de Escolas Privadas, José Augusto de Mattos Lourenço, afirma que a questão também é constitucional. “No fundamental de nove anos a única mudança que houve foi de nomenclatura. O aluno estava na 8ª e foi para o 9º ano, mudou só a etiqueta do livro. O que se chamava pré-escola passou a se chamar fundamental do 1º ano”, explica.
Porém, o Ministério da Educação diz que o argumento é baseado em uma interpretação não adequada da emenda. “Nossa visão é de que uma criança com cinco anos é uma criança de cinco anos, 11 meses e 30 dias”, diz o diretor de Concepções e Orientações Curriculares para a Educação Básica do MEC, Carlos Artexes Simões. O ministério determina que sejam matriculadas no ensino fundamental crianças que completem seis anos até 31 de março do ano letivo. A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) também defende a instituição da data de corte na legislação brasileira. “A ampliação do ensino fundamental para nove anos se deu para que a gente pudesse reestruturar e ter um tempo maior para alfabetizar melhor as crianças”, justifica o presidente da entidade, Carlos Eduardo Sanches.
1 - Encontro A Rede Nacional Primeira Infância é formada por 74 organizações da sociedade civil, do governo, do setor privado, de outras redes e entidades multilaterais. O grupo, com outras instituições, irá promover amanhã, na Assembleia Legislativa do estado de São Paulo, um ato público para discutir o projeto de Flávio Arns. Além disso, durante o encontro, a Rede vai analisar as consequências da aprovação da proposta e será distribuída aos deputados paulistas uma carta contra a inclusão de crianças de cinco anos no ensino fundamental.
Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.