PEREIRA, Ana Dilma de Almeida. Uma reflexão sobre regras variáveis do Português Brasileiro no processo de formação continuada de Professores Tutores do estado do Maranhão. In: V CONGRESSO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LINGÜÍSTICA – ABRALIN, 2007, Belo Horizonte-MG. Caderno de Resumos. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, 2007. p.40-41.


Pretendo apresentar algumas análises de atividades de reflexão lingüística com regras variáveis freqüentes em nossas comunidades de fala, realizada por Professores Tutores do Programa Pró-Letramento no estado do Maranhão, participantes de um processo de formação continuada em Alfabetização e Linguagem. Esse trabalho compõe uma pesquisa qualitativa de natureza etnográfica e colaborativa, (sócio)lingüisticamente orientada, desenvolvida em um curso de formação continuada de Professores da Educação Básica. Nosso objetivo é verificar como os responsáveis pelo processo de formação de professores da Educação Básica reconhecem a importância dos conhecimentos (sócio)lingüísticos, ampliam suas concepções e modificam sua agenda na formação de Professores na área de Alfabetização e Linguagem.
Observando a realidade na qual estão inseridos os Tutores do Programa Pró-Letramento, tenho conduzido minha pesquisa de acordo com os pressupostos de Bortoni-Ricardo (2005a, p.144): “As escolas de zona rural ou de periferia atendem a uma clientela com características socioculturais específicas, que se distinguem das características da clientela das escolas urbanas dos bairros de classe média, principalmente no que se refere ao repertório lingüístico. Estas especificidades não são devidamente contempladas nos livros didáticos nem tampouco nas propostas curriculares... Alguns desses professores são membros da comunidade onde trabalham, outros são ‘forasteiros’, com background cultural diferente. Tanto uns quanto outros, porém, precisam aprender a identificar as características sociolingüísticas e culturais de seus alunos, de forma sistemática. Esta identificação é pré-requisito para a implementação de estratégias pedagógicas e interacionais que sejam sensíveis aos traços culturais dos alunos e proporcionem melhores resultados de aprendizagem”.
Nesse sentido, a adoção de uma pedagogia culturalmente sensível é essencial no processo da educação em língua materna. “Da perspectiva de uma pedagogia culturalmente sensível aos saberes dos alunos, podemos dizer que, diante da realização de uma regra não-padrão pelo aluno, a estratégia da professora deve incluir dois componentes: a identificação da diferença e a conscientização da diferença” (Bortoni-Ricardo, 2004a, p.42).
E várias pesquisas lingüísticas comprovam que, de fato, o professor não sabe lidar especialmente com os problemas advindos das produções textuais escritas de seus alunos, em especial, os problemas ortográficos. Bortoni-Ricardo (2004b) considera: “Na modalidade escrita a variação não está prevista quando uma língua já venceu os estágios históricos da sua codificação. A uniformidade de que a ortografia se reveste garante sua funcionalidade. Toda variação fonológica de um discurso oral (inclusive e principalmente a de natureza regional) se reduz a uma ortografia fixa e invariável, cuja transgressão não é uma opção aberta para o usuário da língua. Assim, o texto escrito pode ser lido e entendido por falantes com os mais diferentes antecedentes regionais. Estamos pois diante de dois estatutos bem distintos. Ensinamos nossos alunos a usar os recursos da variação oral para tornar sua fala mais competente, preservando contudo suas características sociodemográficas,  e ensinamos nossos alunos a usar a ortografia: a grafia normatizada, fixada, canônica”. Bortoni-Ricardo (2004b) ainda destaca que o professor alfabetizador precisa “fazer a distinção entre problemas na escrita e na leitura que decorrem da interferência de regras fonológicas variáveis e outros que se explicam simplesmente pela falta de familiaridade do alfabetizando com as convenções da língua escrita”.
Dessa forma, durante a pesquisa, os Tutores do Pró-Letramento, provenientes de São Luís e mais onze municípios do interior do Maranhão, analisaram com propriedade os fenômenos lingüísticos presentes em diversos textos de circulação social, confirmando que “os chamados ‘erros’ que nossos alunos cometem têm uma explicação no próprio sistema da língua. Portanto, podem ser previstos e trabalhados por meio de uma abordagem sistêmica” (Bortoni-Ricardo, 2004a, p.100). Ao considerar que as duas características principais das línguas são a variação e a mudança, o professor terá condições de promover a educação em língua materna, especialmente nas séries iniciais, com vistas a alfabetizar letrando ou letrar alfabetizando (Soares, 2004). Assim, foi possível verificar nesta investigação que os Professores Tutores mesmo ainda não tendo total domínio da metalinguagem utilizada para análise dos fenômenos lingüísticos, já têm consciência das seguintes categorias de erros postuladas por Bortoni-Ricardo (2005b, p.54):

1. Erros decorrentes da própria natureza arbitrária do sistema sistema de convenções da escrita
2. Erros decorrentes da interferência de regras fonológicas categóricas no dialeto estudado.
3. Erros decorrentes da interferência de regras fonológicas variáveis graduais.
4. Erros decorrentes da interferência de regras fonológicas variáveis descontínuas. 
Erros decorrentes da transposição dos hábitos da fala para a escrita


Referências Bibliográficas
BORTONI-RICARDO, S. M. (2004a). Educação em língua materna – a sociolingüística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial.
______ (2004b). O estatuto do erro na língua oral e na língua escrita. Texto veiculado (via e-mail) no Laboratório de Sociolingüística I – LIVUnB, coordenado por Stella Maris Bortoni-Ricardo. Brasília: UnB.
______ (2005a). Tem a sociolingüística efetiva contribuição a dar à educação. In: Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolingüística e Educação. São Paulo: Parábola Editorial, p.127-146.
______ (2005b). Análise e diagnose de erros no ensino da língua materna. In: Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolingüística e Educação. São Paulo: Parábola Editorial, p.53-59.
SOARES, M. (2004). Alfabetização e letramento: caminhos e descaminhos. Pátio, revista pedagógica. Ano VIII, n. 29, fevabril 2004, p. 18-22.

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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