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HOMENAGEM A ROBERTO CARDOSO DE OLIVEIRA UMA VIDA A SERVIÇO DA ACADEMIA  Roberto Cardoso de Oliveira, 78, um dos mais proeminentes antropólogos latino-americanos, morreu em 21 de julho de 2006, em Brasília, Brasil. Nasceu em São Paulo, onde se graduou em Filosofia (1953) pela Universidade de São Paulo. Em 1966, obteve o seu grau de Doutor em Ciências, com a tese Urbanização e Tribalismo: a integração dos (índios) Terena em uma sociedade de classes. Iniciou os seus trabalhos de campo, em 1954, com os índios Terena, no Mato Grosso do Sul, e Tikuna, no Amazonas, como etnólogo do Museu do Índio, Rio de Janeiro. Em 1959, transferiu-se para o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde, no ano seguinte, criou o Curso de Teoria e Pesquisa em Antropologia Social, a sua primeira experiência em uma bem-sucedida carreira de formador de novos antropólogos. Em 1968, finalmente cria o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Ainda na década de 1960, coordenou, juntamente com David Maybury Lewis, o Harvard Central Brazil Research Project, em convênio com o Museu Nacional, responsável por diversas pesquisas entre índios do Brasil Central, realizadas por antropólogos americanos e brasileiros. Em 1972, transferiu-se para a Universidade de Brasília, onde foi o principal responsável pela criação de um novo Programa de Pós-Graduação em Antropologia. 420 , Goiânia, v. 4, n.1, p. 419-423, jan./jun. 2006. Em 1976, assumiu a direção do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília. Em 1986, partiu para a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp – São Paulo) para, mais uma vez, criar um novo programa de pós-graduação, o Doutorado em Ciências Sociais. Em 1995, aposentou-se na Unicamp e retornou para a Universidade de Brasília como Pesquisador Associado do Centro de Estudos e Pesquisas da América Latina e Caribe (Cepac). Lá permaneceu até o seu falecimento. Em 52 anos contínuos de atividade acadêmica, publicou 18 livros e dezenas de artigos. Entre os livros, destacam-se O processo de assimilação dos terena (1960); o índio e o mundo dos brancos; a sociologia do Brasil Indígena; Identidade, etnia e estrutura social e o diário e suas margens: viagem aos territórios Terena e Tikuna. Foi presidente da Associação Brasileira de Antropologia (1984-1986), da Associação Latino-Americana de Antropologia (1993-1997), e vice-presidente da International Union of Anthropological and Ethnological Sciences (1983-1988). Roberto Cardoso de Oliveira deixou quatro filhos, entre eles Luis Roberto Cardoso de Oliveira, PhD em Antropologia pela Harvard University; oito netos; e sua esposa Gilda Cardoso de Oliveira, com quem era casado desde 1953. O texto seguinte foi escrito por Roberto DaMatta, logo em seguida à morte de Roberto. Exprime a dor de quem foi um de seus primeiros alunos. ROBERTO CARDOSO DE OLIVEIRA1 Roberto DaMatta2 Nós, seus primeiros alunos, o chamávamos escondido de “RCO”. Era um segredo de polichinelo, porque ele sabia e gostava, já que a redução do nome às iniciais era uma forma de institucionalização; uma admissão precoce da perenidade que ele, naquela época jovem, tanto almejava. Nas aulas e nos seminários, discutíamos com o Roberto que, nas suas intervenções, jamais dispensava a moldura filosoficamente 421 , Goiânia, v. 4, n.1, p. 419-423, jan./jun. 2006. inspirada, disciplina que o havia formado e com a qual teve uma ligação profunda até sua morte na sexta-feira, dia 21 de julho. Entretanto, o tratamento sem formalismo e a saudável camaradagem brasileira não significavam nenhuma ultrapassem da sua autoridade de mentor intelectual, que constituía seu modo de ser. Eram algo que fazia parte natural de sua vida, como as asas são parte de um passarinho. Sendo eu também um Roberto, mas aluno, logo descobri que o nome era exclusivo. Contentei-me então em ser conhecido como Matta, nome de guerra mais do que perfeito (ainda que exagerado!) porque, entre outras funções, não deixava dúvidas sobre quem era o Roberto naquele grupo. Voltando pesaroso de suas exéquias em Brasília, vi a nota fúnebre que reiterava a melancólica realidade, sua morte, aos 78 anos. Um sujeito sentado do outro lado do minúsculo corredor que nos espreme nos aviões, com um jornal farfalhante em punho, lia coincidentemente a mesma página, e eu percebi quando ele passou os olhos pela nota. Eis o sal da vida: para ele, um patético obituário; mas, para a história da Antropologia brasileira, uma perda irreparável e, para seus familiares, ex-alunos, discípulos e amigos, uma catástrofe. Uma reviravolta em nossa paisagem emocional, feita de pessoas que são casas, porões, escadas, cercas, poços, camas, mesas e paisagens. Algumas nos cercam e limitam, outras nos acolhem e amparam; algumas são nossa perdição, muitas, nosso alento e nosso farol. Na paisagem de minha vida, Roberto Cardoso de Oliveira fica como um alicerce e um iluminado farol. Desde que o conheci, quando tinha meus vinte anos, nele encontrei o professor-pesquisador que pretendia ser. Na primeira visita que fiz a seu apartamento recheado de livros, no Leme, vendo-o ao lado de sua esposa, Gilda, e dos filhos, descobri nele o futuro que também haveria de ter. Finda a visita, percebi que Roberto me havia dado mais do que conselhos profissionais e um par de ensaios com dedicatória – os primeiros que recebi, pois, naquele encontro, sabendo ou não, ele havia alicerçado minha vida. Falo disso na tentativa de revelar o carisma de Roberto Cardoso de Oliveira. Esse sinal dos grandes mestres e dos corajosos criadores 422 , Goiânia, v. 4, n.1, p. 419-423, jan./jun. 2006. de instituições, pois, além de pescar pesquisadores, abrindo neles a chaga incurável da obrigação de escrever e de estudar, Roberto foi o intrépido criador de programas de Antropologia no Museu Nacional, em Brasília e em Campinas. Foi um raríssimo exemplo de professor capaz de ensinar e de fundar instituições. Ele dizia que era preciso tocar e carregar o piano... Exercício necessário neste Brasil, que até hoje gosta de repetir, com vilania, que quem sabe faz e quem não sabe ensina! No fundo – eis uma das revelações da morte –, Roberto nos ensinava a trabalhar para as causas perdidas, as únicas pelas quais vale a pena lutar: o estudo desinteressado das sociedades tribais, o ensino honesto de teoria social, a luta infindável contra o obscurantismo e a ignorância, o amor pela vida acadêmica, apesar das condições pífias da vida universitária no Brasil. De sua boca – vejam que espanto! –, ouvi muitas vezes um “eu estava estudando”, dito com o candor do aprendiz, para quem cada livro é um tesouro. Não é meu intento revelar as contribuições de Roberto Cardoso de Oliveira, o nosso amado RCO, para as Ciências Sociais e, nelas, para a Antropologia Social, termo que ele introduziu no Brasil sob o olhar patrulhador dos colegas mais antigos que, com razão, viam nisso a ameaça da inovação transformadora. Essas coisas chatas que nos obrigam a aprender e a enxergar o mundo de outro modo. O que quero, nestas linhas, é tentar explicitar a personalidade marcada pela obsessão do estudo, da pesquisa e da escrita. É honrar o caráter vincado por uma invejável integridade moral, que me fazia projetar nele uma figura mítica conhecida de minha mãe. Um militar que ela descrevia como magrinho, pequeno, aparentemente frágil – exatamente como era o nosso professor –, mas dotado de uma força moral capaz de enquadrar a mais selvagem desordem. É por isso que o desaparecimento físico de Roberto Cardoso de Oliveira é uma catástrofe. Um rebuliço que obriga o exercício maior de ultrapassar o mero esquecimento, porque, no caso do Roberto, não basta esquecê-lo; é preciso desesquecê-lo. Para tanto, só existe um meio: canibalizá-lo. Colocá-lo dentro dos nossos 423 , Goiânia, v. 4, n.1, p. 419-423, jan./jun. 2006. corações para que sua força moral e sua sede de saber sobrevivam e se multipliquem, ao lado do seu amor pela Antropologia Social e de sua imorredoura energia criativa. Notas 1 Publicado originariamente no dia 26 de julho nos jornais O Estado de São Paulo e o Globo. A publicação na revista Habitus foi autorizada pelo Autor. 2 Antropólogo, foi professor no Museu Nacional da UFRJ, Professor Emérito na Universidade de Notre Dame, Indiana-EUA. Atualmente, é professor associado da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. * Antropólogo. Professor na Universidade Católica de Goiás. Professor Emérito na Universidade de Brasília. Foto de Roberto Cardoso de Oliveira Fonte: Acervo da Associação Brasileira de Antropologia 

Autor do texto : Roque de Barros Laraia 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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