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Emergência da Sociolinguística no Brasil e Tendências Contemporâneas.

A Sociolinguística é um ramo dos estudos da linguagem que teve origem na chamada Linguística Estruturalista do século XX, mas que não adotou um de seus pressupostos herdados do suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) e influenciados por Émile Durkheim (1858-1917): o de que há que se fazer uma distinção entre o fato social, a língua, e sua manifestação, a fala. A primeira, por ser social e compartilhada é homogênea e, portanto, podia ser estudada e descrita, enfatizando-se as oposições que se estabeleciam em seu interior. Já a fala seria a província da variação e era infensa a regularidades.

Os estudiosos que vieram a ser chamados de sociolinguistas estavam em busca de regularidades também na fala heterogênea, isto é, no uso que os indivíduos fazem da língua. Muitos deles simplesmente descartaram a dicotomia saussuriana língua e fala, bem como a outra, chomskiana, competência e desempenho, que faz uma releitura daquela.

Tal busca emergiu principalmente nos Estados Unidos, nas décadas de 1960 e 1970, quando aquele país assistia às reivindicações da população afro-americana, que deram origem à postulação dos Direitos Civis, depois transformados em lei. leis. Nesse contexto, é fácil entender por que os primeiros trabalhos de Sociolinguística se voltaram à descrição da variedade do inglês usada pela população estigmatizada. A intenção era demonstrar que tal variedade era regida por regras linguísticas sistemáticas e previsíveis, que podiam ser identificadas por meio de análises estatísticas, até então não utilizadas nos estudos da linguagem.

Foi com essa tradição que a Sociolinguística aportou no Brasil, ainda na década de 1970, onde encontrou solo fértil para seu desenvolvimento, pois em nosso país a língua do colonizador europeu, nos primeiros séculos, em contato com línguas aborígines e outras tantas transplantadas à força da África, espalhou-se pelo grande território da colônia, onde o letramento era restrito a uma pequena elite. Aqui o Português foi objeto de muitas mudanças, seguindo um curso distinto da língua da metrópole. Tornou-se uma língua geograficamente hegemônica e nessa condição convive com dezenas de línguas minoritárias, faladas pelas etnias indígenas e algumas comunidades bilíngues, apresentando um claro panorama diglóssico. O domínio da variedade urbana culta está associado à distribuição de renda e ao acesso ao letramento.

Brasil é um dos países mais adiantados na pesquisa sociolinguística, que tem grande aceitação, tanto por parte dos que se dedicam prioritariamente a ela, como por parte daqueles estudiosos que a associam a outros paradigmas.

Cabe, pois, fazer a pergunta que dá título a estas considerações. Vou procurar respondê-la apoiando-me em minha própria reflexão sobre o Português do Brasil, na qual têm um grande espaço, além dos estudos quantitativos, aqueles baseados na tradição etnográfica qualitativa. Acredito mesmo que exista hoje em todo o país uma vertente vigorosa de Sociolinguística Educacional.

Começo por afirmar que a Sociolinguística tem direito a entrar na sala de aula, pois a educação faz parte de sua gênese.

Afirmo, em seguida, que seu tratamento pedagógico deve respeitar três axiomas.

1.    Partir sempre do uso para a teorização.

2.    Partir do oral para o escrito.

3.    Expandir o conhecimento de mundo dos alunos, do local para o universal.

Passo a comentá-los.

É normal que linguistas e outros estudiosos tenham um grande apreço pela teoria que estudaram ao longo da vida. Não nego que a Linguística teórica seja importante e a base para a compreensão dos fenômenos da linguagem humana e das centenas de línguas naturais. Ao professor, porém, que está em sala de aula, ou vai entrar nela, para alfabetizar e desenvolver a leitura e escrita de seus alunos, interessam principalmente os usos da língua: as formas como ela é empregada, suas variedades, seus múltiplos gêneros textuais, as diferenças entre modalidade oral e escrita. Por isso entendo que a Sociolinguística tem de penetrar na sala de aula discutindo esses usos com os professores. Uma boa maneira de fazer isso é identificando para eles as regras variáveis presentes em toda a comunidade de fala brasileira e aquelas mais produtivas na área onde a escola está situada. Algumas lhes são completamente opacas, habituados que estão, os professores, a identificar apenas os chamados “erros de gramática”, tão condenados pela sociedade brasileira, que tem grande apreço pela “correção da língua”. Entre as regras variáveis que se deve levar aos professores, cabe referir as que seguem regularidades, como a supressão de consoantes em posição de final de palavra, a queda do /r/ marcador de formas verbais e do /s/, morfema de plural. A variação das vogais médias /e/ e /o/. A redução dos ditongos formados pela semivogal /i/ em contextos em que o uso já consagrou forma monotongada (beijo, freira, treino, caixa, etc.).

Ao discutir esse primeiro axioma, é bom reiterar que cabe à escola ampliar os usos linguísticos de seus alunos, dando a eles a oportunidade de acesso aos modos de falar de maior prestígio social. Ignorar certas variantes estigmatizadas na fala dos alunos, para evitar-lhes constrangimentos, é uma ‘jabuticaba’ que surgiu de leituras equivocadas, e que provavelmente não é encontrada em outras sociedades, que valorizam a cultura letrada e os códigos linguísticos em que ela se expressa. Não se pode esquecer, porém, que qualquer intervenção do professor para “corrigir” o aluno tem de se processar com muita sensibilidade e respeito. É o que temos chamado de pedagogia culturalmente sensível.

Nosso segundo axioma prevê que o trabalho pedagógico com a Sociolinguística em sala de aula siga um movimento do oral para o escrito.

Como dizia o já saudoso Marcuschi, todos falam e só alguns escrevem.

É na oralidade dos alunos que os professores deverão identificar traços linguísticos que lhes servirão de balizas, tanto na produção das aulas quanto na antecipação de dificuldades. Essas balizas vão conduzir o professor em seu trabalho com a língua escrita, na leitura e na produção de textos.

O terceiro axioma não é muito discutido na literatura técnica. Ficou proposto assim: Expandir o conhecimento de mundo dos alunos, do local para o universal.

Um trabalho escolar informado pela Sociolinguística tem o compromisso de acolher os alunos com suas especificidades socioculturais. Partindo dessa realidade, cabe aos professores mostrar-lhes novos horizontes.

Ainda são altos os índices de analfabetismo e analfabetismo funcional no Brasil (cf. www.ipm.org. br). São grandes, pois, as probabilidades de que os professores recebam em suas aulas estudantes oriundos de famílias não alfabetizadas. Ora, nesses casos a vida familiar e social fica muito circunscrita às experiências locais. Caberá à escola criar para os alunos novas experiências mediadas pela cultura letrada.

Dou um exemplo, fui com alguns adolescentes, com esse perfil, ao cinema para vermos um filme de seu interesse: “Tarzã”. Na fase preparatória do passeio revimos informações sobre a obra original homônima, identificamos em um globo e em um mapa mundi o Congo, atual República do Congo. Depois identificamos a Bélgica e falamos do processo de colonização por que passou o país africano, o que nos conduziu naturalmente à colonização de Portugal no Brasil e às populações autóctones brasileiras, refletindo também nos custos humanos tanto na República do Congo quanto no Brasil. Nos encontro seguinte, os alunos trouxeram redações sobre o filme. (cf. www.stellabortoni.com.br).

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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