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 Eu queria saber muitas coisas e ter lido muitos livros para escrever uma crônica definitiva sobre a eleição do Trump. Minha crônica definitiva sobre a eleição do Trump destrincharia as motivações profundas do eleitorado norte-americano e daria um prognóstico preciso do futuro –não sei se otimista ou desolador.

"Calma, não é nada, o gamão institucional formulado pelos 'Founding Fathers' abaixará o topete do bufão". Ou: "Comecem a estocar Miojo e atum, amigos, pois o Demo de 'comb over' vai encabeçar um neofascismo global, vai espargir ogivas nucleares pela terra, vai encorajar reversões em todas as políticas pró-minorias ao redor do mundo e vai se comportar de tal maneira em relação às mulheres que os 'Bunga Bungas' do Berlusconi em breve parecerão as homilias do papa Francisco".

Minha crônica definitiva sobre a vitória do Trump seria um retrato tão amplo do nosso tempo que traria, no vácuo, explicações para a vitória do Dória e do Crivella, o impeachment da Dilma, os caninos do Bolsonaro, o silêncio da Marina e revelaria o sentido oculto de 2013. De quebra, faria uma tomografia no juiz Sérgio Moro: um revolucionário que está desafiando o status quo e moralizando a política brasileira ou um ególatra sectário que atropela a lei de acordo com seus objetivos, interessado apenas na corrupção do PT e seus aliados?

 Aqui, na crônica que eu queria escrever, eu entraria com uma análise matadora sobre os erros e acertos da esquerda brasileira nas últimas décadas, sem ser indulgente com o Mensalão, o Petrolão ou a recessão nem cobrir com lama e óleo os inegáveis avanços sociais.

Aí faria uma crítica à direita, mas separaria os verdadeiros liberais que acreditam na iniciativa privada para melhorar a vida das pessoas daqueles que hoje, como no século 19, usam argumentos do liberalismo –o Estado não deve se meter nos negócios privados- para defender a manutenção da escravidão.

A escravidão me lembraria da passagem do Joaquim Nabuco musicada pelo Caetano Veloso, de onde eu saltaria pro Spike Lee, pro Charlie Parker e chegaria no Pelé. De Pelé pra Carlos Alberto, de Carlos Alberto pra Neymar, de Neymar pro coque do Firmino, que sugeriria um comentário sobre o lenhador da Federal. O lenhador nos enviaria ao Canadá, país para onde milhares de americanos pretendem fugir desde a vitória do Trump e que acabou de perder um de seus filhos mais ilustres, o cantor e escritor Leonard Cohen.

A minha crônica definitiva sobre a vitória do Trump terminaria bem longe do Trump, com os pés mergulhados nas águas azuis da ilha grega em que Cohen viveu e se apaixonou por sua musa, Marianne. Eu citaria uns versos bem bonitos escritos pra ela, unindo temas aparentemente tão antagônicos como Deus e sexo, amor e liberdade, e os versos contaminariam retroativamente toda a crônica, feito o azul subindo por uma tirinha de papel mergulhada em anilina.

O azul do Leonard Cohen, o azul tanto da sua melancolia sagrada quanto do mar da Grécia se sobreporia aos antagonismos da política, aos ódios ancestrais ou de ocasião, à toda pequenez.

 

Hoje eu acordaria, iria à padaria comprar o café da manhã e um senhor me cumprimentaria. "Moro aqui no bairro. Não gosto quando você escreve sobre política, mas com essa eu concordei. Parabéns". Nos apertaríamos as mãos e nos desejaríamos um bom domingo: assim eu gostaria que terminasse a minha crônica sobre o Trump. 

Fonte : Mário Prata na FSP, 13/11/2016

Ilustração : Adams Carvalho

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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