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18 de Julho de 2016

Por  

Mário  Sabino

Eu me pergunto por que brasileiros adoram chorar, fenômeno francamente observável entre atletas.

Em 2008, em Pequim, eu estava na entrevista coletiva de César Cielo, que havia acabado de conquistar a medalha de ouro olímpica nos 50 metros livres. Ladeado por dois nadadores franceses, prata e bronze, o sujeito desatou a chorar para a surpresa dos rivais e dos jornalistas estrangeiros. “Por que ele está chorando se acabou de ganhar o ouro?”, me indagaram.

Eu poderia ter dito que as lágrimas eram por causa do esforço de uma vida, das dificuldades que Cielo teve de enfrentar para chegar à vitória suprema, mas respondi que ele chorava porque era brasileiro -- e brasileiros choram copiosamente na alegria e na tristeza. Apesar de estranha, era a resposta mais honesta a ser dada naquele momento.

É claro que estrangeiros vertem lágrimas quando ganham ou perdem, mas a frequência do choro entre nós é bem mais alta do que o admissível ou suportável. Ontem, por exemplo, a seleção de vôlei masculina foi derrotada pela Sérvia na disputa pelo título da Liga Mundial -- e teve marmanjo em quadra chorando para chuchu, apesar de o time ser vencedor em inúmeros campeonatos e torneios.

De tanto me perguntar sobre o assunto, criei a teoria de que os brasileiros choram muito porque sofrem do que chamaria de “complexo de bebês”. Na falta de linguagem, bebês desatam a chorar por ser a única maneira de chamar a atenção para algum desconforto. Em nossa afasia nacional, temos um enorme déficit de linguagem para tudo, inclusive para explicar e expressar objetivamente perdas e conquistas.

O “complexo de bebês” comporta igualmente um permanente estado de desamparo. Quando perdemos, queremos voltar para o colo da mamãe distante ou imaginária. Pior: quando ganhamos, também. É como se nos fosse vedado andar com as nossas próprias pernas, ser independentes. Afinal de contas, quem cresce não tem mais o colo materno para aninhar-se. O choro demonstra, dessa forma, a necessidade de continuarmos infantis.

Brasileiros adoram chorar e gostam de ver outros brasileiros debulhando-se em lágrimas. A televisão é prova disso: quando há gente chorando em noticiários ou programas de auditório, a audiência dispara. Eu cheguei a pensar que se tratava de sadomasoquismo, mas hoje acho que gostamos de ver refletido no outro a incapacidade de julgarmos racionalmente e a vontade de chafurdarmos no retardamento psicológico.

Eu duvido de que amealharemos dez medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio, mas tenho certeza de que vamos chorar bastante.

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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