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Os anos que vão do governo de Itamar Franco até o fim do segundo mandato de Lula foram o mais longo período de estabilidade, crescimento, confiança e liberdade que vivemos

Desde que Pero Vaz de Caminha escreveu a carta famosa ao rei de Portugal, seu patrão, os intelectuais brasileiros se entorpecem com o que é o Brasil. Muitas vezes, confundem, ao longo de sua obra, o que é com o que devia ser o Brasil. São tantas as pistas falsas, que essa confusão bem que se justifica. A verdade nunca é um bloco mineral indivisível, pedra de um só átomo; mas uma praia a que se chega descalço, pisando do cascalho grosso à areia fina, expondo os pés às diferenças.

A partir de tantos mitos, que nós mesmos criamos para identificar o país, nossas melhores cabeças pensaram o Brasil como uma civilização nova e transformadora. Somos a nação que mais importou escravos africanos em todo o mundo; e, no entanto, inventamos o mito da democracia racial. Nossa história é uma construção de golpes de Estado e guerras internas; e, no entanto, alimentamos a mentira de que tudo entre nós se resolve cordialmente, no papo. 

Leandro Karnal, professor de história na Unicamp, lembrou outro dia na televisão que até a Independência fora uma espécie de golpe, arquitetado entre o pai colonizador (Dom João VI) e o filho libertador (Dom Pedro I). Seguiram-se a esse outros golpes, como o da República, em 1889; o do Estado Novo, em 1937; a deposição de Vargas, em 1945; o do general Lott, em 1955; a tentativa de Jânio Quadros, em 1961; o golpe militar, em 1964; o do Ato V, em 1968; entre tantos outros, antes e depois desses, à revelia da Constituição de cada época. Assim como tantas guerras civis acabaram com o rigoroso aniquilamento das forças populares em luta, como em Palmares, nos Farroupilhas, no Contestado, em Canudos, na Revolução Constitucionalista de 1932, em tantos outros momentos que nossa história oficial subestima ou simplesmente elude.

As crises brasileiras não são nunca superadas, elas apenas se diluem, à espera da próxima. Entre uma e outra, raramente temos muito tempo para respirar afim de voltarmos à construção da nação que pensamos construir, o país do futuro que não chega nunca. Ou que já passou. Os 18 anos que vão do governo de Itamar Franco até o fim do segundo mandato de Lula foram o mais longo período de estabilidade, crescimento, confiança e liberdade que vivemos em toda a história republicana. Esse período terminou com a súbita chegada de uma das maiores depressões, do mais rigoroso sentimento de impotência. Nessa crise atual, é impossível identificar onde está a esperança.

Eu tinha 14 anos de idade, quando vivi minha primeira crise política nacional. Na manhã de 24 de agosto de 1954, acordei tarde e, para minha surpresa, encontrei meu pai na sala, a ouvir o “Repórter Esso” na Rádio Nacional, em estado febril. Perguntei por que ele não tinha ido trabalhar e por que não me haviam acordado para ir ao colégio. Minha mãe me disse que, naquele dia, não teria aula. O presidente Getúlio Vargas havia se suicidado no Palácio do Catete, e o país se encontrava em polvorosa. Passei o resto do dia jogando sinuca no Bar Hindu, na esquina de minha rua, tentando desvendar, em meus pensamentos, o sentido daquilo. Afinal de contas, política devia ser mesmo uma coisa séria, capaz de provocar o suicídio de um homem poderoso, o maior mito popular na história do país. A política podia ser uma coisa trágica.

A partir dali, passei a acompanhar, com interesse cada vez maior, as sucessivas crises políticas. Em algumas, me tornei um militante e, em todas, tinha sempre alguém ou um lado pelo qual torcer. Hoje sei que, em alguns casos, podíamos até estar errados, a torcer pelo vilão. Mas tínhamos um lado pelo qual torcer sinceramente. Desta vez, não. Desta vez, não temos por quem torcer, nesse caos de corrupção, mentiras e incompetência, com as quais todos os lados estão comprometidos. Só me resta chorar pelo Brasil.

Neste século XXI, o sonho com um projeto para o Brasil parece cada vez mais distante. Tínhamos um certo cabedal para isso, na imensidão de nosso território com uma só língua, nas misturas étnicas que tornaram nosso povo o único exemplo de civilização luso-afro-ameríndia, no desejo humanista de nossas relações. Pensamos construir, em cima dessa originalidade, alguma coisa que fosse não apenas nos mudar, mas mudar também o mundo, como num milagre que nossa presença operasse.

 

Emílio Odebrecht, líder da empreiteira mais poderosa do Brasil, envolvida em pixulecos, propinas e comissões, com seu filho Marcelo preso por corrupção, reuniu 120 executivos de sua empresa para declarar publicamente que reconhece os erros cometidos. O empresário afirmou que a Odebrecht pretende pagar pelo que fez e não será mais omissa. Se os políticos corrompidos fizessem o mesmo que o corruptor, quem sabe poderíamos voltar a acreditar na recuperação moral do país.

Cacá Diegues é cineasta 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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