Arnild Van de Velde
De Frankfurt, Alemanha

Duas semanas depois de dominar o noticiário político da Alemanha, em razão das acusações de plágio em seu trabalho de doutorado, o Ministro da Defesa da Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg (CSU), 39, entregou o cargo na manhã desta terça-feira. A renúncia, que no fim de semana passado já era esperada nos bastidores, contrariou a opinião pública: uma pesquisa telefônica dos meios de comunicação revelou que 85% dos entrevistados consideraram a decisão um erro. Para os consultados, a questão da falsidade ideológica, que agora mancha o currículo do ex-ministro, não representaria um impedimento para sua continuidade no cargo, que ele ocupava há um ano e meio.

"Cheguei ao meu limite", declarou zu Guttenberg ao final do pronunciamento de renúncia. Um limite que ele, de início, tentou estender, como antes outros políticos envolvidos em escândalos pessoais durante seus mandatos. Por exemplo, o ex-presidente americano Bill Clinton, por ocasião do caso Monica Lewinsky. Usando do expediente clássico, Karl Theodor zu Guttenberg, um jovem barão de Munique, sul da Alemanha, amado e odiado por sua origem, aparência, ternos bem cortados e bela esposa, a princípio, negou tudo. Mais tarde, durante sua despedida, ele por fim admitiria não ter sido "nomeado para se defender, mas para defender o País".

A trajetória acadêmica de zu Guttenberg teria sido um mero detalhe de seu perfil não tivesse o professor doutor da Universidade Bremen, jurista Andreas Fischer-Lescano, 38, se interessado pelo tema do trabalho de doutorado do ex-ministro. "Por curiosidade", declarou Fischer-Lescano em entrevista do dia 16 de fevereiro, ao jornal Der Freitag.

Ao ler o documento de 393 páginas, algumas passagens chamaram sua atenção pelo grau de dificuldade para o nível da dissertação. Ao jogar os trechos nas buscas da google, Andreas Fischer-Lescano descobriu que as reais fontes de grande parte do trabalho eram outras que não o cérebro privilegiado do aristocrata formado pela Universidade de Bayreuth, no sul da Alemanha. Na época, Fischer-Lescano irritou-se com nota "suma cum laude", concedida a zu Guttenberg . Para reparar o erro, o professor "caça-plagiadores", como ele acabou apelidado, recomendou anular o título, descontinuar a impressão do material ou eventualmente incluir a citação das fontes como mandam as normas.

Seis dias depois, na terça, 22 de fevereiro, a Universidade de Bayreuth anunciou a decisão favorável à anulação, retirando do nome de Karl Theodor zu Guttenberg a cobiçada abreviatura "Dr.". Enquanto isso, o Judiciário cobrava do governo coerência e "clareza de posição", uma vez que a chanceler Angela Merkel mantinha silêncio sobre o caso. zu Guttenberg caíra em desgraça no auge de sua popularidade e consequente impacto sobre o governo como um todo, parte devido a seu carisma pessoal e associações que alimentam o homem comum - origem nobre, beleza e emanação, sua "Ausstrahlung", como na sonora palavra do alemão - parte devido à promessa de reforma das forças armadas e de seu orçamento, metas que ele não chegou a completar.

Na internet, as redes sociais cumpriam seu papel. "GutenPlag Wiki" , o site criado para investigar e documentar o plágio anuncia em sua mais recente atualização (15h05 desta terça-feira, hora da Alemanha)uma taxa de identificação de plágios de 82,44%. Das 393 páginas do documento, 324 já foram analisadas. Enquanto isso, a comunidade científica fazia circular uma carta-protesto, que chegou às mãos da chanceler Merkel na segunda, 28 de fevereiro, com vinte mil assinaturas.

Durante uma visita à CeBit, a mais importante feira de informática do mundo, realizada anualmente em Hannover ,norte da Alemanha, Merkel comentou a decisão de seu ex-ministro: "Aceitei-a com o coração pesado", disse.

Antes de assumir o Ministério da Defesa, Karl Theodor zu Guttenberg havia sido o mais jovem Ministro da Economia (entre fevereiro e outubro de 2009) da Alemanha. No último ano, tornara-se a estrela do governo da República e o bem-amado do povo, apesar de um ou outro nariz torcido em sua direção. Embora o ainda não se faça idéia sobre quem será seu substituto, o apoio popular faz uma coisa ser dada como certa - a triunfante volta de zu Guttenberg ao cenário político, tão logo a poeira tenha baixado.