Resenha por Stella Maris Bortoni-Ricardo
Referência: BONNEFOY, Miguel. O Inventor. Tradução de Julia da Rosa Simões. São Paulo: Vestígio, 2023.
Este é o segundo livro que lemos do franco-venezuelano Miguel Bonnefoy. O primeiro foi “Herança”. Em “O Inventor” ele se dedica à biografia de Augustin Mouchot [1825 - 1912], que desenvolveu a tecnologia para o aproveitamento da energia solar.
O autor é um grande observador das feições humanas. De Napoleão III ele escreveu: “/.../ um velho bochechudo, cansado do poder, cheio de aflições, com uma bengala na mão, acompanhado pelo cachorro cor de chumbo oferecido por um dos seus camareiros /.../ com a fronte baixa, ele contemplava com os seus olhos claros, 40 anos de glórias e desastres”.
Já a esposa do biografado ele descreve como “grosseira, invejosa, sempre colérica, aquela mulher de coração seco que ninguém, em nenhum momento, jamais vira sorrir /.../ de pernas tão curtas que, sob o vestido manchado com o sangue das galinhas, ela parecia um grande cogumelo de pernas tortas”.
Estamos tão acostumados às placas de aquecimento solar que é difícil imaginarmos um mundo sem esse recurso, mas ele de fato só foi patenteado em 1866. O primeiro motor solar era equipado com uma caldeira cilíndrica de vidro que alimentava uma pequena máquina a vapor. Com essa estrutura, foi apresentado ao Imperador e depois desaparecido durante o Cerco de Paris de 1870, no transcurso da Guerra Franco-Prussiana.
A história do inventor foi romanceada, mas nem por isso deixa de contribuir para o nosso melhor entendimento dos avanços científicos da França no século XIX.