Preparava-me para dormir, mas resolvi abrir uma vez mais o Facebook. Me esperava a triste notícia do falecimento do grande linguista brasileiro Luiz Antônio Marcuschi. Todos nós que convivemos com ele durante as décadas incansáveis em que ele trabalhou pela Linguística nacional e particularmente pelo Programa de Pós-Graduação na UFPE , fomos beneficiados pelo seu trabalho honesto, intensivo e generoso.
Eu o conheci quando ele estava retornando do doutorado na Alemanha. Visitou o UnB e reuniu-se com meu orientador de mestrado, Ulf Baranow, e comigo. Seu trabalho de tese era uma releitura da teoria dos códigos - restrito e elaborado – de Basil Bernstein. Em Brasília, já estava a meio caminho de Pernambuco, onde se estabeleceu. Mas Marcuschi era do Brasil todo. Representou a área na Capes e no CNPq, trabalhou muito junto ao MEC e ao MCT. Conheceu todos os programas de PG e, até mesmo , a pesquisa de cada colega. E era generoso: em seus livros e artigos dedicava longos parágrafos a apresentar essas pesquisas.
Liderou com Ingedore Koch uma linha de investigação sobre Análise da conversação e sobre a dicotomia oral e escrito, no Projeto NURC .
Sua postura diante das centenas de teses e dissertações que avaliou era de buscar o lado positivo do trabalho, ao tempo em que sugeria mudanças que o pudessem melhorar.
Seus livros visavam a um trabalho imediato e realista que pudesse de fato ensinar os leitores a ler, escrever , pesquisar e preparar os neo pesquisadores . Difícil encontrar uma tese de mestrado dos anos oitenta , noventa e dois mil, que não mencione Marchuschi na bibliografia, em particular as que trabalham com a leitura e a escrita, e os gêneros textuais.
Depois que ele adoeceu, tive ainda oportunidade de visitá-lo duas vezes Mas era difícil ver alguém com uma mente privilegiada como ele preso em um corpo impotente.
Ao reunir essas palavras muito espontâneas, sei que não farei jus à importância de Marcuschi para a Linguística e para a educação no Brasil. Mas faço questão de juntar a minha voz à de todos que lamentam a sua morte e reconhecem a sua importância.