Da fala à escrita: o         que o alfabetizador precisa saber para mediar essa transição  

Estamos assistindo, no Brasil, a uma discussão relativamente nova sobre métodos de alfabetização. Há poucos anos essa discussão se circunscrevia aos círculos acadêmicos que acumularam, nas últimas décadas, reflexão sobre o processo de alfabetização e métodos que o implementam e aos educadores adeptos dos modelos teórico-metodológicos disponíveis.

Em anos recentes a discussão sobre esses métodos chegou à imprensa, embalada pelo alarme que vêm causando os resultados de testes domésticos e internacionais que aferem a capacidade de ler com boa compreensão e de escrever que nossos alunos apresentam.

Os resultados desses sistemas nacionais de avaliação_ inicialmente o SAEB, depois aperfeiçoado na Prova Brasil _ são muito ruins e há bastantes evidências de que esses resultados  decorrem de problemas no processo de alfabetização.

 

Podemos dizer que os métodos de alfabetização conhecidos distinguem-se entre si pelo foco na forma ou o foco no significado do texto. Em outras palavras: a lógica do primeiro é “bottom-up” ( de baixo para cima), enquanto a do segundo é “top-down” ( de cima para baixo). Os que se baseiam na forma iniciam-se com o trabalho fônico que explora a relação entre som e letra, começando por padrões silábicos mais simples e gradualmente progredindo para os mais complexos. A ênfase no significado preconiza que os alunos sejam, desde o início de sua escolarização, confrontados com sentenças completas e pequenos textos de modo a desenvolverem estratégias de inferência que lhes permitam construir o significado desses textos. Nesse processo eles são encorajados a elaborarem hipóteses sobre a relação entre os sons da língua oral e a representação gráfica.

Nos anos 1980 o desenvolvimento da teoria psicogenética, baseada na psicologia piagetiana, transformou o método construtivista de Emília Ferreiro e associados quase que em uma proposta hegemônica nas políticas de alfabetização. Na década seguinte, os países mencionados, Estados Unidos e Reino Unido, à luz de resultados de avaliação de grande escala, começaram a questionar os possíveis efeitos negativos desse método, certamente não pelo que ele propõe: a construção de textos significativos pelos alfabetizandos, mas pelo que ele negligencia: a explicitação da relação entre os sons da língua oral e sua representação escrita. Lesley Clark (1999:11) observa que a National Literacy Strategy, 1998 (documento equivalente aos nossos Parâmetros Curriculares Nacionais), de responsabilidade do DfES – Department for Education and Skills, na Inglaterra, foi elaborado para confrontar uma área crucial de fragilidade causada pela falta de trabalho fônico explícito, contextualizado e progressivo em um passado recente. Ela enfatiza ainda que “a habilidade de identificar padrões e similaridades em sons é um indicador-chave do êxito futuro na alfabetização”. Mas acautela que a ênfase política exagerada no método fônico tradicional pode levar a um retrocesso.

Na última década, o Governo brasileiro iniciou alguns projetos de educação a distância para capacitação dos professores do Ensino Fundamental, inclusive professores de alfabetização. Nesta palestra descrevo um projeto desenvolvido no MEC-Fundescola, com apoio do Banco Mundial, no qual atuei como uma das autoras de fascículos denominados “Cadernos de Teoria e Prática”. Trata-se do Programa de Apoio da Leitura e Escrita – Praler cujo objetivo é fornecer recursos para os professores trabalharem com os alunos das séries iniciais que têm dificuldade na leitura e na escrita. O projeto se vale de pressupostos do método construtivista, incentivando a produção de textos orais e escritos pelos alunos e a sua construção de hipóteses que os ajudem a refletir sobre a linguagem oral e escrita, suas especificidades e zonas de interferências. Não negligencia, entretanto o trabalho explícito sobre a relação entre o componente fônico da língua e sua representação na escrita alfabética.

Na primeira parte da palestra, vou focalizar  justamente duas unidades, de um total de dezoito do Projeto Pra-Ler., que foram elaboradas visando a desenvolver a percepção da relação entre fonema e grafema na consolidação das habilidades de alfabetização.

Na produção das  unidades, o acervo de conhecimento acumulado no campo da sociolingüística variacionista me foi de grande valia. Suplementei a aplicação desse conhecimento, todavia, com alguns princípios que considero cruciais para a adoção de pedagogia de base sociolingüística.


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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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