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CÓDIGO DAS CELAS
A gíria que saiu da marginalidade para dominar as ruas e a mídia
Presídios, periferias e delegacias já não têm mais controle sobre a gíria ligada ao universo criminal, que se espalha pela mídia e pelo cotidiano do cidadão comum
Luciano Segura
Apalavra “gíria” (argot, em Francês) foi relacionada em 1628 à “confraria dos indigentes, dos mendigos”. Mais tarde, seria definida por Charaudeu e Maingueneu (consultar o Dicionário de Análise do Discurso, Contexto, 2004) como a linguagem específica de um grupo social que a utiliza, até mesmo como forma de manutenção desse conjunto do qual faz parte.
Trata-se, de fato, de um mecanismo identitário que transcende a noção de código secreto. Além de ser uma linguagem que foge à compreensão daqueles que nela não estão inseridos, a gíria estabelece também uma maneira de identificar participantes desse mundo e garantir a unidade da comunicação. Em outras palavras, as gírias distinguem quem é quem. Inicialmente, as gírias ligam-se a atividades marginais, de baixo prestígio, muitas vezes escusas e sempre mais desvalorizadas quanto à norma culta. Várias nascem entre os jovens, e entre eles perambulam até ser substituídas, extintas ou incorporadas à linguagem comum, quando tomam, com propriedade, lugar de destaque – preferidas, não raramente, em vez de outras já consagradas.
A maioria dos grupos sociais desenvolve termos ou expressões particulares a seu universo. Tais termos são uma espécie de especialização da linguagem.
Isto é, especificam uma idéia a ser transmitida dentro de um conjunto e para um grupo. Depois, expandido em uso, o vocábulo segue para a linguagem do cidadão comum, quando assimilada pela sociedade.
Xilindró na mídia
É claro que a expansão desses termos para a linguagem comum depende da mídia, responsável por eleger os termos que ultrapassarão fronteiras territoriais e se cristalizarão (alguns, é claro) na linguagem de todas as pessoas. Nem todas as gírias, entretanto, alcançam o público comum, e isso as torna, em geral, pouco valorizadas. Por serem ligadas a grupos marginais à sociedade passam a ser também a sua marca. E é nesse contexto que encontramos as gírias do crime.
O estigma das expressões particulares de determinado grupo social é tão marcante que seus próprios integrantes chegam a negá-las quando em ambientes estranhos ao seu.
Mas atualmente, nas prisões, o jargão oficial – se é que se pode chamar assim – denota muito mais do que um simples mecanismo de defesa.
“Se hoje se empregam mais gírias é porque hoje a agressividade natural desse vocábulo corresponde melhor ao clima de agressão às instituições tradicionais e porque hoje se reconhece nesse fenômeno vocabular uma fonte muito importante de criatividade do léxico popular”, é o comentário do professor de Português da USP Dino Pretti, citado por Léa Poiano Stella em sua tese Tá Tudo Dominado: A Gíria das Prisões (PUC-SP, 2003).
Esse jargão carcerário, em especial se origina quase sempre de palavras do cotidiano dos presidiários submetidas à necessidade de comunicação. Assim, havendo a necessidade e a oportunidade, surge uma palavra nova ou reinvestida de significado.
Curiosamente, muitas vezes esse mesmo vocábulo, restrito a um meio específico, perpassa as fronteiras lingüísticas e alcança o dia-a-dia das pessoas, incorporando-se a ele (veja o quadro “Linguagem da malandragem”). Para isso, com freqüência recebe um empurrãozinho da mídia.
Avançar a esse nível ou contexto social não quer dizer, contudo, receber prestígio. Também não raras vezes a expressão marginal é ridicularizada ou empregada para destoar do contexto a que pertence e gerar efeito de humor. Um exemplo inesquecível da introdução de termos da linguagem policial e criminosa (universos que, naturalmente, trocam muitos termos entre si) é o jornal paulista Notícias Populares, responsável por inigualáveis manchetes como “Presunto cai na frente de pinguço”. O NP, como também era conhecido, foi fechado em 2001 pelo grupo Folha da Manhã, mas revolucionou a linguagem jornalística no Brasil e inspirou outras mídias e jornais, como o Diário do Litoral, ou Diarinho, ainda na ativa em Santa Catarina.
Capivara de metáforas
A metaforização é, entre tantos, um processo comum para o surgimento das gírias dentro das prisões. A partir de um elemento “A”, transmite-se a carga semântica para “B”. “Beca”, inicialmente usada para designar “calça”, passa a referir-se a “bunda”, como exemplifica a pesquisadora Maria de Lourdes Rossi Remenche em As Criações Metafóricas na Gíria do Sistema Penitenciário do Paraná (UEL, 2003).
Vários são os exemplos desse processo, mas destacam-se os ligados às drogas. Quanto à maconha, encontram-se “a boa” (de boa qualidade), “bagulho” (a de qualidade ruim, mas que pode também significar apenas a droga, por esvaziamento de sentido), “beque” (quando já vem no formato de cigarro), entre diversas formas como “fino”, “haxixe”, “lasca”, “pepita”, “tarugo”, “tablete”, “tijolo”, e outras. Em relação à cocaína não é diferente: “batizada”, “brilho”, “brizola, “brize”, “farinha”, “poeira”, “sal”, “jesus”.
Maria de Lourdes discute ainda como as gírias surgem, baseadas em metáforas, e como passam a compor um universo semântico tão específico, como o das prisões. Ela aponta, por exemplo, que dos 109 vocábulos coletados em sua pesquisa, 66 (60%) referem-se à violência, 29 (27%) ao vício e 24 (14%) ao sexo. Ela também separa em processos metafóricos distintos as construções vocabulares (zoomorfizações, antropomorfizações e reificações).
A autora registra alguns processos bastante curiosos, como a construção de “branca” – uma analogia simples e direta com a cocaína – ao lado de “brizola” – porque, na década de 80, o então governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, envolveu-se num grande escândalo quando sua filha foi presa por porte ilegal dessa droga.
Não escapam a esse processo as analogias que estabelecem relação entre a sensação e o causador da sensação: “dar um tapa na cara” é “puxar um baseado”, ou seja, fumar maconha. A comparação é entre o estado em que o indivíduo ficaria após o tapa no rosto e o efeito da droga. O barulho do estampido de um tiro de revólver, por sinédoque, passa a representá-lo quando um indivíduo diz que vai “puxar o berro”.
Outro processo que merece atenção é o da transposição do número para a pessoa. O empréstimo do artigo do Código Penal referente ao crime do presidiário passa a ser atribuído à pessoa que cometeu tal delito: o “doze” é uma maneira de identificar o traficante, preso com base no Artigo 12 do Código. Assim acontece com o famoso “um-sete-um”: o Artigo 171, que classifica o estelionato.
Mais uma metáfora de origem curiosa é “cabrito”, gíria que percorre boa parte do território nacional. Todavia, parece ter sido o Nordeste brasileiro seu berço. “Cabrito” recupera a idéia do animal que, quando roubado, dificilmente é encontrado, e o mesmo se daria com os carros. Hoje, além de carro roubado, quer dizer também adulterado. Processo parecido sofreu “capivara”, que se refere à ficha criminal – para os indivíduos – ou ao histórico – quanto aos veículos. É um tipo de documento difícil de ser conseguido pelo cidadão comum, mas de fácil acesso às autoridades. Talvez a origem disso venha do regionalismo “capivara”, significando “indivíduo tolo que quer passar por esperto” e, por ampliação de sentido, ao que pode ser facilmente encontrado pela polícia.
Tatuagens e linguagens
Em diversas culturas, a tatuagem aparece como forma de reconhecimento e identificação. Para ter uma idéia, cerca de 200 sociedades indígenas do Brasil mantêm a pintura corporal como expressão individual e coletiva. A linguagem icônico-verbal encontra vazão também nas tatuagens do universo criminal. Nas cadeias, principalmente, elas denotam a identidade do preso, agora assumida, indicando o crime cometido, o posto social que ocupa, sua importância no sistema. Como se fossem, em certos anfíbios, a sua coloração, um claro aviso de seu grau de perigo. São de comunicação e de identificação entre os indivíduos.
Segundo o advogado paranaense Cezinando Vieira Paredes, de 30% a 35 % da população carcerária têm algum sinal.
Tatuagens fazem parte de um universo de ferramentas comunicativas ainda maior, que o mundo criminal usa e ao qual tem acesso.
Dependendo da intenção, um criminoso pode apropriar-se de um discurso político-ideológico para reivindicar direitos, ou expressar-se religiosamente para convencer de seu arrependimento (veja os quadros “Os segredos dos desenhos”, “Justificando os fins” e “O senhor é o meu pastor”). Há também o processo inverso, quando adolescentes ou artistas, por exemplo, usam a gíria criminosa com intenções diversas, desde a necessidade auto-afirmativa até o desejo de identificação social – como no caso do hip hop, que disseminou (e dissemina) esse léxico criminal pelo País por meio de um arsenal midiático, incluindo rádio, TV, internet, CDs, shows, moda, e outros.
Pode ser difícil afirmar, entre essas duas esferas, quem promoveu quem e tornou os criminosos Fernandinho Beira-Mar e Marcola tão populares quanto personalidades do rap como Racionais MCs e MV Bill. Nesse contexto, não se pode esquecer a própria escalada da violência que assola o Brasil e há anos já fez desse ambiente algo quase corriqueiro. Para além das grades de uma cela ou das bocas de tráfico, a gíria da criminalidade passou a fazer parte do cotidiano do brasileiro comum. E honesto•
OS SEGREDOS DOS DESENHOS
Entre as tatuagens que se encontram nas prisões, há vários desenhos para designar uma mesma idéia. Outras, em compensação, identificam coisas específicas, que ainda podem ter significado variado dependendo do lugar. Seguem alguns exemplos:
• Pontos: normalmente encontrados nas costas das mãos, costumam ter o mesmo significado em todos os locais do País, pelo menos até o quinto sinal. Um ponto significa punguista (batedor de carteira); dois, estupro; três, tráfico; quatro, furto; e cinco, roubo. Se formarem um círculo com mais quatro pontos do lado de fora, representam chefe de quadrilha.
• Números: é comum os presos trazerem numerações nas mãos, normalmente nos dedos, referindo-se quase sempre a uma data importante para eles, como a morte de um companheiro de cela.
• Religiosidade: nem sempre denotam a fé em si. É o caso da cruz, quando tatuada no meio das costas, que indica um sujeito bastante perigoso e inconseqüente. A imagem de Jesus, usada no peito, identifica praticante de latrocínio; se nas costas, um pedido de proteção. À imagem do diabo cabe o significado de matador. Nossa Senhora Aparecida, tatuada próxima dos ombros, em tamanho reduzido, quer dizer “praticante de latrocínio”. Se estiver tatuada no peito, “desejo de proteção”. Em tamanho grande, nas costas, avisa que o preso foi violentado na prisão e praticou crime de estupro. A estrela de Salomão é reservada a quem deseja livrar-se de bruxarias. A estrela de oito pontas serve de amuleto para evitar prisões.
• Coração: é outro desenho muito comum. Se for desenhado com uma flecha transpassada, significa que seu portador é um homossexual passivo. Se trouxer, além disso, os dizeres “Amor de Mãe”, seu portador provavelmente foi abusado na cadeia.
Linguagem da malandragem
abasteci a caveira: tomei uma bebida, uma cachaça
agá: dar cobertura; simular
avião[zinho]: aquele que repassa as drogas, vende ou transporta
barca: viatura (as maiores, como a Blazer)
berro: revólver
bicuda: faca
bomba: celular dentro dos presídios; o mesmo que “diretinho”
bonde: carro para a transferência do preso
borracha grande: ônibus
bota-fora: advogado
braço: pessoa de confiança (talvez redução de “braço direito”)
brincar demais: facilitar demais; “dar bobeira”
brinquedo: arma
cabrito: veículo adulterado; detento que é obrigado a manter relações sexuais com outros presos
cabrocha: mulher
cano: revólver
caôca: dar atenção; prestar atenção
capa-preta: juiz
cascão: guarda ruim
casinha: emboscada
cavala: mulher bonita
central: central telefônica
chico doce: pedaço de madeira improvisado para surras
choca: bebida fermentada feita dentro da cadeia
cimento: cocaína
colar o brinco: dar tapa na orelha
colar: aproximar-se de uma mulher
comarca: cama
come-quieto: homossexual que mantém relacionamento sexual
como o meu era nenhum: como não tinha dinheiro...
corrida correria: perseguir; fazer; trabalhar; traficar; realizar algo
corujar: observar; espiar
cria: pessoa nascida na favela
da atividade: olheiro
dar mala: dispensar
dar um boi: perdoar; liberar; soltar
dar um güento: roubar
dezesseis: viciado
doze: traficante
duque-catorze: aquele que violenta homens
duque-treze: estuprador
barriguda bem morta: cerveja bem gelada
ele virou logo América: ficou vermelho como sangue
encomendar a tchôla: contratar prostitutas para as festas nos pavilhões
enquadrar: tirar satisfação; acuar; ameaçar
espim: faca improvisada
esquinar: ficar parado em esquinas, à espera de algo
estoque: arma improvisada
dar a dica: cortejar uma mulher
faculdade: penitenciária
fazer de arma: assaltar
fazer: matar
fechar o paletó: matar
feinha: esposa
ferro: arma curta
ficar na fé: adeus; até logo
fissura: desejo incontrolável
fita: qualquer atividade (“estou na fita”)
freio de camburão: ladrão conhecido pela polícia
funça: agente penitenciário
funcionário: integrante da quadrilha
gambé: polícia
gancho: celular
ganso: informante da polícia
geral: revista nas celas
grampo: algemas
grinfa: seringa
ir para o piano: ser torturado
jacaré: aquele que assalta os próprios companheiros nas celas
lampiana: faca
laranja: aquele que assume a culpa no lugar do outro
linha: central telefônica clandestina
macaca: metralhadora
mocozar: esconder
muquiar: esconder
no fim do carretel: no fim da linha; no ponto final
parada: assalto (resolver uma parada = fazer um assalto)
passarinho: informante
patuá: negócio; questão; problema
pela ordem: tudo bem; tudo ok
perdigão: preso que trabalha como guarda
perereca: fogão artesanal para esquentar comida
pino: fuga (estou de pino = estou foragido;
vou dar um pino = vou fugir)
porco: guarda da cadeia
presunto: defunto
preto: maconha
psicopata: tarado sexual
pular a fogueira: assaltar
pular: furtar ou assaltar
quebrada: lugar comum ao criminoso, geralmente periférico
quebrar a perna: prometer algo e não cumprir
ratão: relações sexuais durante as visitas coletivas
ripado: condenado
samango: policial militar
talarico: homem que paquera a mulher do outro
tatu: túnel de fuga
tereza: corda feita de lençol
tranca: castigo; isolamento
treme-treme: motel
treta: briga; problema
truta: membro da quadrilha
vaca: sirene
vai rodar: vai morrer
vazar: fugir
xis-nove: informante
xis: cela; xadrez
zebrar: dar errado; falhar
O SENHOR É O MEU PASTOR
A necessidade de preservação e manutenção dos códigos entre a gíria de determinado grupo – como o dos criminosos – não impede que seus falantes conheçam outras “línguas”. Estudos realizados no meio carcerário revelam que os presos, em avaliação para liberdade condicional, muitas vezes trazem já decorado um discurso eficiente para a obtenção do privilégio. É o caso daqueles que se apresentam aos avaliadores como “convertidos” a alguma religião mesmo sem o ser. Vestidos socialmente, com o terno “de domingo”, óculos (às vezes, escuros), sapatos lustrosos, repetem o discurso da salvação, do arrependimento, do abandono de hábitos ruins como bebidas e drogas, da noção de culpa social e da vontade de fazer parte da sociedade para poder auxiliá-la. Tais discursos são um problema a partir do momento em que, repetidos quase mecanicamente, não mais indicam arrependimento algum.
Não se pode generalizar, mas dominar as falas necessárias para a liberdade também faz parte do conhecimento da cadeia, podendo até “formar” especialistas em determinadas leis – como ocorre, aliás, com muitos tipos de criminosos. Eles são treinados por pastores ou por advogados para muitas vezes dissimular o esperado pelos avaliadores. Como diz Léa Poiano Stella, “o detento possui ampla noção da situação em que deve usar a linguagem gíria, pois não faz uso dela na comunicação com profissional autorizado ou habilitado a opinar, dar parecer ou atestar sua conduta dentro do sistema prisional. O detento tem conhecimento de que a gíria representa um empecilho para a obtenção de benefícios ou a redução de pena, porque a linguagem especial está diretamente ligada à conduta criminosa. Evitando seu uso, o preso pretende se mostrar regenerado da vida marginal (...)”.
JUSTIFICANDO OS FINS
Cada vez mais, o discurso dos criminosos tem se inflamado com noções – nem sempre claras – de esquerda, muitas vezes de maneira panfletária.Assim surgem as “ideologias do crime”, cujas bases estão cada vez mais dissimuladas em ideais de luta popular. Tais “ideologias” são mantidas por grupos organizados e dispostos a praticar a violência para alcançar seu objetivo.
Diferentemente dos “operários” das organizações criminosas, seus líderes lêem muito e, em geral, fazem questão de exibir sua erudição. Assim, a fim de dar espaço ao “grito dos oprimidos”, propõem uma “revolução”, cuja base é a “libertação” social, para a qual todos devem estar preparados. Os chefões do crime dizem buscar a “conscientização” dos “excluídos”, para quem o Governo tem fechado os olhos. E conseguem seguidores fiéis, de modo quase religioso, dispostos a lutar pelo seu líder.
Em ataques planejados, a cidade de São Paulo foi palco de crimes em 2006 cometidos contra autoridades oficiais. “Só os policiais serão atacados”, dizia-se. No entanto, ouviam-se boatos sobre tiros contra estações de metrô, faculdades e bancos. Mais tarde, a mídia ressaltou: “não houve vítimas civis; só os policiais foram atingidos”. Se por um lado os ataques assustavam a população, receosa em sair de casa; por outro, deixavam clara a luta do “nós-contra-eles”, que a população não precisaria seguir.
Ganharam, assim, uma espécie de simpatia “torta”, de quem queria ver, nessa luta, alguma espécie de “justiça”. Isso tudo ocorre sob o véu da política de classes: os discursos que motivaram os operários a lutar por seus direitos hoje perpassam as paredes de presídio e criam pseudo-heróis, como Marcola, líder do PCC que chega a ser admirado por parcelas da comunidade e temido pelas autoridades.
Essa visão estabelece a idéia de que há fronteiras invisíveis separando classes sociais, bairros e cidades. Tais fronteiras são ultrapassadas pela mídia – especialmente a TV –, que cria pontes para o discurso de uma determinada região (principalmente Rio de Janeiro e São Paulo) se propagar para as outras. Há também, dessa forma, a contaminação de costumes e de linguagens, assim como a expansão de um modelo considerado ideal. Esse parâmetro começa a ser seguido e desejado. Algumas vezes, para moradores de regiões mais pobres – ou pertencentes a classes de menor poder aquisitivo –, a ligação com o crime se faz presente e razoável em face da possibilidade de alcançar seus desejos, abonados pela idéia de que “é errado, mas é o único caminho”. É nesse contexto que as gírias específicas, quase “jargões de trabalho”, passam a ser conhecidas pela população.