Aprovada mudança no currículo do ensino médio
Carga horária vai aumentar, serão criados eixos interdisciplinares, e
alunos poderão escolher 20% das matérias
BRASÍLIA

O Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou ontem, por unanimidade,
proposta do Ministério da Educação que promove uma reviravolta no
currículo das escolas de ensino médio. Disciplinas tradicionais, como
português, matemática e histórica, darão dar lugar a eixos
interdisciplinares.

Os alunos terão liberdade para escolher 20% das matérias, e a carga
horária vai aumentar das atuais 2.400 horas em três anos (800 por ano)
para 3.000 (1.000 por ano).

O objetivo é tornar as escolas mais atraentes para os jovens.

O MEC considera que o ensino médio vive uma crise de identidade, e que
o problema vai além da falta de qualidade.

Prova disso seria o desinteresse de parte da juventude pelo modelo de
ensino predominante na rede pública. Nas escolas técnicas federais,
porém, as vagas são tão disputadas que é preciso fazer vestibulares.

— A escola tem que corresponder à expectativa dos estudantes — disse
ontem o ministro Fernando Haddad.

Num primeiro momento, o MEC vai financiar projetos inovadores
apresentados por governos estaduais. Os repasses começam no ano que
vem e serão limitados a cem escolas públicas. O investimento federal
oscilará, ao todo, entre R$ 50 milhões e R$ 100 milhões, segundo
Haddad. O dinheiro será divido pelas cem escolas, o que sugere um teto
médio de R$ 1 milhão por colégio.

O ministro evita dizer que o projeto Ensino Médio Inovador é a grande
aposta do MEC para tornar as escolas atraentes. Ele não quer melindrar
os governos estaduais, que são responsáveis por 85% das matrículas.
Por lei, o ministério não tem poder para interferir nas redes dos
estados, e depende da adesão voluntária.

Assim, a ideia é somar esforços para mudar o atual modelo, abrindo
espaço para que cada rede proponha soluções distintas, desde que
sintonizadas com o espírito da reforma.

Enquanto Haddad se esforçava para passar a ideia de que o Ensino Médio
Inovador é apenas uma entre as muitas iniciativas de diversificação do
ensino, a secretária de Educação Básica, Maria do Pilar Lacerda, foi
mais direta: “Esperamos que essa proposta seja acompanhada e avaliada
e possa se tornar uma política universal”, escreveu ela, em texto
divulgado pelo MEC.

De acordo com Haddad, o Conselho Nacional de Educação fez alterações
na proposta original. Uma delas, segundo ele, foi dar liberdade aos
estados para apresentar propostas inovadoras, desde que adequadas a
regras definidas pelo ministério, como o aumento da carga horária e a
possibilidade de que os alunos escolham parte das disciplinas.

De início, o ministério pretendia também selecionar as cem escolas com
piores resultados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A intenção
foi deixada de lado a pedido do Conselho Nacional de Secretários de
Educação (Consed).

Segundo Haddad, o argumento é que a transição para o novo modelo
poderia ser mais fácil em outras escolas que não as piores no Enem.

Com 97,6% das crianças e jovens de 7 a 14 anos na escola, o Brasil
vive situação bem diferente na faixa dos 15 aos 17 anos: apenas 82,1%
estudavam em 2007, segundo o IBGE. O pior é que somente 48% deles
frequentavam o ensino médio.



As principais alterações
As redes públicas que aderirem ao plano do MEC poderão sugerir outras
inovações curriculares.

A seguir, o que mudará no ensino médio, de acordo com a proposta do
Ministério da Educação:

CURRÍCULO: As disciplinas tradicionais serão substituídas por eixos
interdisciplinares: trabalho, ciência, tecnologia e cultura.

CARGA HORÁRIA: Passa das atuais 2.400 horas em três anos (800 horas
por ano) para 3.000 horas (mil horas por ano).

FLEXIBILIDADE: 20% da grade curricular terão caráter optativo, ou
seja, serão escolhidas pelos alunos, de acordo com seus interesses.

LEITURA: Todo o currículo do ensino médio deverá ser centrado no
desenvolvimento da capacidade de leitura.

ESCOLA ATRAENTE: Haverá incentivo a atividades culturais, esportivas,
de preparação para o mundo do trabalho e de participação social dos
alunos.

VERBAS: O MEC vai liberar de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões em 2010, e
planeja financiar o projeto em cem escolas.

O Globo, 1 jul. 2009.


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