Indez    Bartolomeu Campos de Queirós

 

 Nunca é tarde para se conhecer um bom livro. Ganhei de minha aluna de doutorado, Celina  Josetti, na ultima  aula do semestre, um exemplar do livro  Indez, do escritor mineiro, Bartolomeu Campos de Queirós. É um livro de ficção para o público leitor infanto-juvenil, mas poderia ser um livro de Etnografia sobre uma comunidade familiar do interior de Minas.

O autor já é um veterano no gênero, vencedor do Prêmio Orígenes Lessa - Melhor Livro Para Jovens – FNLIJ; Prêmio Jabuti - Melhor Autor de Livro Juvenil – CBL, Prêmio Internacional de Literatura Infantil - Brazilian Book Magazine - Best Book for children,

 e pertence à  Lista de Honra do IBBY - Infantil entre os 100 melhores do mundo  (http:www.caleidoscopio.art.brbartolomeuqueiroslivros.htm ( acesso em 11122006). É natural de Papagaio, no interior de Minas, mas vive em Belo Horizonte.

 

Fui ao dicionário conferir o significado de “indez”. Segundo o Houaiss, é um ovo que se deixa em um ninho descoberto, como chamariz  para  novas posturas da galinha. É nesse sentido que o autor usa a palavra.

A narrativa é um primor, mas encantou-me principalmente a forma como o autor nos põe em contato com a riquíssima cultura interiorana de tradição oral.  Para nós, professores, interessa sobretudo como o Antônio, o menino protagonista, vai naturalmente somando às suas experiências domésticas de mundo as práticas sociais letradas, adquiridas em casa e na escola.

 

Antônio não só se divertia procurando os ninhos das galinhas legornes, cuja plumagem às vezes a mãe pintava com anilina para que elas colorissem o quintal de arco-íris. Comia junto com os irmãos a bandeira brasileira construída no prato com alimentos coloridos: chuchu, arroz com gema e o azul do esmaltado do prato, 

Certa vez engoliu piabas vivas para  aprender a nadar depressa e teve forte infecção intestinal. Acompanhou o resguardo da mãe, quando nasceu a caçula e podia comer os pedaços da galinha que  não eram aproveitados na canja, menos os pés, porque os pés não se pode comer um só, sob o risco de na vida só espalhar e não ajuntar.

Brincava de chicotinho queimado, boca de forno, pai Francisco entrou na roda, de passar anel...

Tomava óleo de rícino e vermífugos. Foi mordido por escorpião. Tomou banho no sangue de tatu para limpar a  pele das pústulas da varicela e carregou no pescoço um guizo de cascavel para deixar de fazer  xixi na cama.

  Aprendeu a rezar e  e a cantar para fazer primeira comunhão. Recitava de cor os dez manamentos. Ajudava a montar o presépio, envolvia-se com os festejos juninos, divertia-se no primeiro de abril, com as peças que a mãe lhes pregava; comia biscoitos assados no forno de barro, tudo isso entremeado com  os reis , as fadas e os mágicos dos castelos encantados das histórias que lhe contavam e que depois ele mesmo aprendeu a ler, quando também já sabia tabuada de vezes.

Conhecia os movimento de rotação e de translação, Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral, e imaginava a calmaria, que ajudou a descobrir o Brasil, vestida de branco. Já o oceano, ele sabia que era azul como o céu e que só tinha uma margem, de tão grande, porque havia uma gravura na parede. Também na parede do quarto estava o santo anjo do senhor, meu zeloso guardador, protegendo duas crianças de cair no despenhadeiro.

  Assim ia crescendo e à medida que crescia sua imaginação ultrapassava as montanhas  que circundavam a casa,  na busca dos outros mundos que ele ia conhecendo nos livros.

Um dos livros clássicos que descreve como as crianças, no seu círculo primário de sociabilização, vão conciliando práticas culturais orais e letradas,  é o Ways with Words, de Shirley Brice-Heath, etnografia ambientada em comunidades rurais nas Carolinas do Norte e do Sul, nos Estados Unidos, nos anos 70.

Aconselho os educadores brasileiros, antes de lerem esse clássico , que se familiarizem com os livros de Bartolomeu Campos de Queirós. Além do Indez , há outros com temática semelhante.   Essa leitura  há de  ajudá-los a entender melhor como se dá , dia após dia, a transição da criança, da cultura tradicional da família,  para a cultura letrada que a espera na escola.

 

 

 

 

 

 

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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