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Marcos Almeida Pfeifer - Jornalista

Reprodução: Correio Braziliense 

A raça negra chegou no Brasil escravizada. Crueldade e infâmia que denotam a condição social desfavorável do povo negro em relação ao colonizador e demais povos que vieram formar a nossa nação — com exceção do povo indígena, que aqui estava, natural desta terra e que ainda sofre com a exploração do sistema hegemônico. O povo negro sofre diásporas desde que aqui chegou, no século 16, famílias foram destruídas e pessoas dos mesmos grupos étnicos, separadas para evitar a comunicação, união e possibilidade de resistência e rebelião.

Pessoas de várias nações africanas foram misturadas nos engenhos e senzalas, e, nessa nova diáspora, nasceu uma nova nação, codificada pelo sincretismo com os santos católicos, a cultura dominante do colonizador, além dos saberes culturais dos povos nativos. E o tempo foi revelando a beleza das danças, cantos e culto aos orixás africanos trazidos na alma, plantados pelo candomblé, núcleo de culto espiritual, preservação e desenvolvimento da cultura negra no Brasil, cujas raízes geraram as folhas e frutos do que somos hoje enquanto expressão social e cultural.

É preciso silêncio. Para tentar escrever sobre a raça negra e sua diáspora aqui no Brasil, é preciso se conectar com o tempo e escutar o silêncio que conecta as almas. O violão e a voz do cantor e compositor Mateus Aleluia são instrumentos adequados para se chegar ao entendimento de que a humanidade é uma só. Sua pesquisa musical conecta Brasil e Angola, nos traz também o povo iorubá, do antigo Daomé e atual Nigéria. Ao ressoar em cada um de nós o som da Mãe África, estaremos combatendo o racismo e nos reconhecendo enquanto humanidade. Como diz a escritora nigeriana Chimamanda Adichie, "histórias precisam ser contadas".

Grande parte da sociedade brasileira vive, atualmente, uma diáspora, e aqui tomo emprestado o significado do termo, que designa a dispersão de um povo por preconceito ou perseguição étnica, política ou religiosa, para ajudar na constatação de que sofremos uma diáspora cultural e mental. O incentivo ao individualismo provocado pelo capitalismo extremo em voga no país levou à miopia do confronto com os avanços sociais e culturais, bem como o ataque à democracia, fazendo com que a maioria votante nas eleições presidenciais de 2018 (a maior ausência/abstenção de eleitores da nossa recente história democrática) elegesse alguém que defende a ditadura, a tortura e, publicamente, agrediu mulheres, verbal e fisicamente, quando deputado nas dependências do plenário e da Câmara em Brasília. Estamos sofrendo uma diáspora em que a impunidade preservou o atual presidente da República de processos por falta de decoro parlamentar e penais por agressão à mulher.

Com a diáspora do nosso senso humano vimos a saída da Presidência de uma mulher honesta que buscava, minimamente, reparar o desequilíbrio social num país ainda tão desigual. E, de quebra, vimos regredirem os direitos humanos e sociais por meio da ação de setores que, hoje, estão distribuídos no Executivo Federal e no Congresso Nacional. Como fomos abrir mão do canto da liberdade, da democracia e da justiça social e apontar para nós a arma letal do individualismo e do autoritarismo?

Quem sabe, uma grande parte da sociedade possa estar sentindo um pouco, do muito da infâmia e exclusão que o povo negro vem sentindo e sofrendo desde que aqui chegou no século 16? E, assim — utopia de quem escreve esse texto —, exercer a empatia, colocar-se no lugar do outro e começar a desconstruir o racismo estruturado em nosso meio social. Quem sabe, pelo sofrimento sob vários aspectos, os quais um "governo" como este submete às pessoas, inclusive de estratos sociais um pouco mais elevados, que são atingidas pelo aumento dos preços dos combustíveis, alimentos e serviços (impactando no poder aquisitivo) e pelo desdém à necessidade de vacinação e à imunização contra a covid-19, sejam suscitadas questões como cuidados básicos com o ser humano.

Quem sabe o convívio diário com um governo que provoca níveis impensáveis de desumanidade gere essa diáspora na alma das pessoas e, desta maneira, percebam a beleza de terem sonhado a solidariedade, a justiça social e os valores dos direitos humanos nos tempos que se seguiram à promulgação da Constituição Federal. Quem sabe, ao encontrarmos o sombrio de nossa face coletiva, possamos ver o reflexo da luz da liberdade e da beleza cultural do nosso povo, reconhecendo a ascendência negra que marca a nossa expressão sociocultural, o nosso jeito, o nosso ser. E que esse reconhecimento abra as comportas para a promoção da igualdade racial? Quem sabe?

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2022/02/4986621-artigo-diasporas-e-cultura-negra.html

 

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Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

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