CRÍTICA

/SUBTITULO

TITULOVítima de excessos visuais, 'Dois Irmãos' é banquete indigesto/TITULO

// BEGIN /BEGIN TEXTO

SILAS MARTÍ

DE SÃO PAULO

DATA14/01/2017/DATA HORA02h25/HORA

noindexPRINT:EXCLUDE

Compartilhar1,6 mil

<div class="buttons"></div>

 

 

 

Mais opções

/PRINT:EXCLUDEnoindex

noindexPRINT:EXCLUDE ad-180x150-1

PUBLICIDADE

 

/ad-180x150-1 /PRINT:EXCLUDE/noindex

"Dois Irmãos" é exuberante -e isso é bom e péssimo. Está no fio da navalha entre a glória e um banquete indigesto.

É inegável o talento de Luiz Fernando Carvalho para arquitetar universos visuais transbordantes, de cores saturadas e floreios cênicos. Mas sua adaptação do romance de Milton Hatoum para as telas deixa a impressão que o diretor se tornou vítima de seus próprios excessos.

Sua inclinação para a hipérbole em cada fotograma afoga a trama nos primeiros episódios da série. É um martírio atravessar as cenas ultracoreografadas, de gestual exagerado, quase operístico, que estabelece as bases da saga dos gêmeos Omar e Yaqub.

 

Divulgação

 

 

Bárbara Evans em cena da minissérie 'Dois Irmãos'

Não há silêncios, sutilezas. Os personagens vivem das lágrimas às gargalhadas. Tudo é estridente -da trilha sonora que convoca toda uma orquestra para pontuar cada diálogo às cores berrantes dos cenários e do figurino.

Sequências dispensáveis, como o flashback que mostra como Halim e Zana se apaixonaram, engrossam o caldo tóxico de clichês e tornam ainda mais arrastados os momentos iniciais da trama.

Em sua primeira metade, "Dois Irmãos" mostra como Carvalho, filmando um roteiro de Maria Camargo, pôs o efeito plástico acima dos ossos da narrativa, sacrificando ritmo e estrutura. É como se do livro original vazassem para a tela só os adjetivos.

Nesse sentido, as estratégias visuais do diretor lembram as de cineastas como Baz Luhrmann, Wes Anderson ou Wong Kar Wai, que alicerçam suas narrativas no impacto visual, mas às vezes põem em risco a trama -caso de Luhrmann, que conseguiu asfixiar "O Grande Gatsby" com uma bela echarpe de seda.

Não que não haja beleza em "Dois Irmãos". Ela existe, talvez até em excesso, a começar pelo elenco -Cauã Raymond em dose dupla, Juliana Paes e seus olhos. E se torna magnética na direção de arte, das taças de cristal dos rega-bofes amazônicos aos papéis de parede, vestidos, vitrolas, azulejos, automóveis e chapelões.

Na superfície, sequências como a de uma festa de Carnaval ou o quebra-quebra detonado por Omar na boate Acapulco enchem os olhos, valendo como um espetáculo visual independente da narrativa. Vista como um catálogo de estilos vintage e móveis retrô, a minissérie é um desbunde.

Mas ela só avança enquanto narrativa depois da passagem de tempo que marca a troca de elenco, quando Paes cede o papel de matriarca para uma ótima Eliane Giardini e Raymond calça os sapatos do bom -e animalesco- estreante Matheus Abreu. É como se o avançar dos anos injetasse mais adrenalina no enredo.

Talvez na segunda metade da trama, que vai ao ar na semana que vem, os verbos passem para o primeiro plano, no lugar de adjetivos indecorosos.

DOIS IRMÃOS 

QUANDO na Globo, de seg. a sex., às 22h15

Categoria pai: Seção - Blog