Já dei à luz com dor.

Já dei de mamar.

Já ensinei, e ao ensinar aprendi.
Já criei gado.
Já amei o homem certo e o homem errado,
e então o errado ficou certo.
Já saltei sem paraquedas.
Já pranteei o amado que partiu.
Já vi as grandes cidades que o homem construiu
e as vilas envoltas em paz.
Já li livros que me encheram de luz
e escrevi outros, com boa vontade.
Já me abri nua para o sol e tiritei de frio sob a neve.
Já comi iguarias finas e arroz com feijão e ovo frito.
Já tive medo, até que me entreguei à bússola do meu corpo.
Me extasiei diante de grandes inteligências e me encantei com a humildade.
Já aprendi a rezar.
Já aprendi a dançar.
Já decorei os nomes dos filhos de Jacó e de todos os afluentes do Amazonas.
Já me indignei com a crueldade e a injustiça.
Já me dispus a mudar o mundo.
Já tive vontade de me mudar de meu país.
Já tive vontade de nunca sair de meu país.
Já andei a cavalo,
Já andei de bicicleta,
mas só andei de moto uma vez.
Já amei e fui exigente.
Já amei e fui generosa.
Já aspirei o aroma da rosa
E o perfume francês.
Já vesti vestidos de costureira e o de grife internacional.
Já visitei muitos hotéis, dos mais simples aos resorts.
Já fiquei feliz comigo mesma
e já me critiquei duramente.
Aprendi a fazer autocrítica.
Já experimentei desânimo e alegrias.
Dores e prazer.
E depois de tudo,
sei que vale a pena viver.

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