Quem são esses brasileiros analfabetos residentes no DF?
O Projeto Leitura, tem como objetivo vencer um dos maiores desafios encontrados pelos professores e amantes da literatura: Criar o hábito da leitura.
Projeto LEF Confira artigos, trabalhos, Vídeos, Fotos, projetos na seção do Letramento no Ensino Fundamental.
http://www.unb.br/noticias/unbcliping-tv2/2009/Jul/13/769334.wmv Novo em 'Artigos' Analfabetismo Infantil Artigo de Marcos Bagno publicado na Revista Caros Amigos PAÍS EMERGENTE, EDUCAÇÃO SUBMERSA... http://www.marcosbagno.com.br/conteudo/arquivos/art_carosamigos-abr09.htm
Marcos Bagno - Abril de 2009
A
Coreia do Sul tem uma população 7 vezes menor que a dos Estados Unidos.
No entanto, a cada ano, ela forma o mesmo número de engenheiros que os
EUA. Num programa internacional de avaliação, os sul-coreanos ficaram
com o 1o lugar em solução de problemas, 1o em leitura, 3o em matemática
e 7o em ciência. Em 1945, a taxa de alfabetização no país era de 22%,
hoje é de 99%. É o que acontece quando uma nação mobiliza todos os seus
recursos em favor da educação. Corta.
Em 2007, divulgou-se o INAF
(Indicador de Analfabetismo Funcional): 75% dos brasileiros entre 15 e
64 anos são incapazes de ler e interpretar adequadamente um texto
simples. Se somos hoje quase 200 milhões, significa que 150 milhões são
analfabetos funcionais, isto é, pessoas que tiveram acesso à
escolarização mas não desenvolveram plenamente as habilidades de
leitura (e de cálculo também), o equivalente às populações somadas da
França e da Alemanha.
Esses dados não seriam suficientes para
escandalizar nossas classes dirigentes? Não. A história da nossa
formação social mostra que, há meio milênio, as classes dirigentes
brasileiras não só não se escandalizam como tiram o máximo proveito
desse abismo social que separa o pequeno círculo dominante da
monumental maioria de classes subalternas. Os dados do analfabetismo
funcional "coincidem" com os da distribuição (distribuição?) de renda
em nosso país, a mais injusta do planeta.
O desenvolvimento
econômico do Brasil nos últimos anos e sua crescente importância no
panorama internacional - comprovada pela sigla BRIC, iniciais dos
"países emergentes" - em nada se fazem acompanhar de um desenvolvimento
social que mereça o mesmo destaque. Somos uma nação onde o elemento
africano tem um profundo impacto na nossa história musical, religiosa,
culinária, afetiva, linguística etc., mas continuamos profundamente
racistas. Somos o país em que as desigualdades de salários entre homens
e mulheres é das maiores do mundo. Temos um genocídio diariamente
praticado contra os adolescentes pobres, negros em sua maioria,
eliminados por traficantes e pela polícia. Um sistema carcerário que
arrancou lágrimas do observador da Anistia Internacional, que o
qualificou de "inferno". E, é claro, uma forte liderança entre os
países mais corruptos.
Mais sinistro é comprovar, como as pesquisas
vêm mostrando, que a maioria do nosso professorado também se inclui
naquele apavorante índice de analfabetismo funcional. Procurados hoje
em dia pelos estudantes de origem mais humilde e de baixíssimo
letramento, os cursos de licenciatura continuam desconhecendo a
realidade social de seu alunado, e vão diplomando milhares de pessoas
sem habilitações mínimas para exercer a profissão docente. Já coletei
centenas de textos escritos por professores da rede pública do Distrito
Federal (maior renda per capita do país) e me surpreendi com sua quase
absoluta incapacidade de escrever vinte linhas sobre o próprio ofício.
Enquanto
nossas elites governantes ficam se divertindo com BRIC pra lá e G-20
pra cá, incomodadas apenas com as altas e baixas das bolsas, 75% dos
brasileiros se veem desde sempre excluídos de qualquer progresso real
no plano da cidadania. É triste viver num país emergente com uma
educação submersa...