A Brasília que não lê

Quem são esses brasileiros analfabetos residentes no DF?

Leia Mais

Projeto Leitura

O Projeto Leitura, tem como objetivo vencer um dos maiores desafios encontrados pelos professores e amantes da literatura: Criar o hábito da leitura.

Leia Mais

Projeto LEF

Projeto LEF Confira artigos, trabalhos, Vídeos, Fotos, projetos na seção do Letramento no Ensino Fundamental.

Leia Mais


Ranking : http://www.webometrics.info/top100_continent.asp?cont=latin_america

 

Leiam em 'Artigos'Só 1% das universidades obtém conceito máximo no MEC

 

Leiam  Senadores querem dedicação exclusiva para professor da educação básica

 

Assistam à palestra O Falar Candango - UnB, Auditório da Reitoria, 18 de setembro, 15 h

 

 http://www.youtube.com/watch?v=ePZiZzYjPnc

http://www.youtube.com/watch?v=HSzl1CuKECY

A construção de Brasília é um marco na história brasileira. Na segunda metade da década de 1950, o médico mineiro que foi eleito presidente da República, Juscelino Kubitschek, decidiu transferir a capital federal do litoral sudeste para o centro do Brasil. A nova capital foi construída durante o seu mandato e inaugurada em 21 de abril de 1960.

A construção de uma cidade moderna e planejada, erguida em uma área rural, remota e de difícil acesso, deu  início a um novo tempo e  acelerou o processo de urbanização no País. Para Brasília convergiram brasileiros de todos os quadrantes, dispostos a criar aqui uma sociedade urbana e de vocação cosmopolita, onde haveriam de conviver brasileiros de todas as regiões.

É justamente a diversidade na origem dos brasileiros que se estabeleceram em Brasília a característica mais especial da cidade. É uma cidade plural, onde se manifesta, por excelência, a vocação pátria de convivência harmoniosa das diferenças.

Ainda na época da sua fundação, o dialetólogo baiano Nelson Rossi, que àquela altura tinha vindo lecionar na recém-criada Universidade de Brasília, previa que a nova capital haveria de se tornar um laboratório para estudos de falares em contato. Mas a preocupação de acompanhar a deriva da língua portuguesa na comunidade de fala que aos poucos se foi constituindo e se ampliando no Distrito Federal somente voltaria à agenda de pesquisadores locais no começo dos anos de 1980.

Em 1983, concluí meu doutorado, em que investiguei o processo de urbanização de migrantes de origem rural, oriundos de Minas Gerais, e radicados na cidade de Brazlândia – DF. Esse estudo mostrou a tendência à acomodação linguística no repertório desses migrantes, que gradualmente iam perdendo os seus traços dialetais mais típicos. Mostrou também que no processo há uma forte influência do fator intergeracional: as novas gerações, nascidas em Brasília ou que para cá foram trazidas ainda em tenra idade, usavam uma linguagem muito distinta daquela de seus pais, tios e avós. Nesse processo, a escolarização tinha relevante papel. Mostrou ainda que essa acomodação segue trilhas distintas para homens e mulheres.  

A partir desse primeiro trabalho vieram outros que examinaram diversos aspectos sociolinguísticos na comunidade de fala do Distrito Federal. Essas pesquisas sempre despertaram grande interesse da população e os pesquisadores passaram a ser muito requisitados para dar entrevistas a jornais, rádio e TV locais. Os jornalistas sempre traziam uma pergunta: “Brasília tem seu próprio sotaque?”

Estão reunidos neste livro alguns artigos que foram produzidos sobre este tema: O falar candango, alguns deles resultados de dissertações de mestrado defendidas na UnB nas últimas décadas do século XX e no início do século XXI.

À medida que a pesquisa prosseguia, comecei a levar em conta a articulação de três movimentos, que expressam bem o que Brasília exibe na fala e na cultura de seus residentes. São eles: do rural para o urbano; do oral para o letrado; e do regional para o suprarregional.

A questão do rural para o urbano é muito relevante, pois Brasília foi construída em uma área de rica e tradicional cultura rural, com a qual a cidade rompe na medida em que ela própria representa a urbanização. A cidade, de fato, foi fundada em um período em que o Brasil todo experimentava uma rápida transição de um modus vivendi rural para o urbano. 

Diferentemente dos países industrializados há mais tempo, a urbanização no Brasil não aconteceu de maneira linear, mas sim de forma intermitente, que se intensificava em alguns períodos. Entre os períodos de urbanização mais intensa relevam-se o início do século XIX, quando a corte portuguesa se instalou no Rio de Janeiro, e a década de 1950 com o boom da cultura cafeeira em São Paulo e o surto de industrialização que se seguiu à Primeira Guerra Mundial. Foi nessa década que Brasília foi construída e se transformou em um ícone do processo de urbanização por que passou o país. Somente na década de 1970 o país viveria outro período de intensiva urbanização.

O segundo movimento a que me referi – a passagem de uma cultura oral para uma cultura letrada – é paralelo ao processo de urbanização, que implicou, no Distrito Federal, a criação de um sistema escolar amplo, púbico e privado,  e a implantação de outras instituições promotoras do letramento. Quanto ao terceiro movimento – do regional para o suprarregional – ele é consequência do próprio processo de convivência de brasileiros de todas as regiões, pois, como está bem consolidado na literatura sociolinguística, o contato favorece os amálgamas a expensas das distinções.

Brasília segue um curso de desenvolvimento distinto de outras jovens capitais no Brasil, como Belo Horizonte e Goiânia, que são bem representativas da fala e da cultura dos respectivos estados. Em Brasília não assistimos à perpetuação da cultura circundante, muito embora os estados que a rodeiam funcionem como polos de emigração para a capital.

Brasília é hoje uma região metropolitana com a população de 9.680.621 distribuída em área de 1.760.734 km² onde se encontram 298 municípios. Sua participação no PIB nacional é de 6,91%. Esses números do IBGE a colocam entre as três maiores regiões metropolitanas no país, atrás somente de São Paulo e do Rio de Janeiro. De fato a região de influência da capital federal vai muito além das 29 regiões administrativas do DF e das 22 cidades do Entorno, segundo o estudo intitulado, “Regiões de influência das cidades” divulgado pelo IBGE em 2008 e publicado no Correio Braziliense em 19 de outubro de 2008. Para estabelecer as regiões de influência no país, o IBGE levou em conta três fatores: a subordinação das cidades à cidade polo, o impacto empresarial e econômico e a oferta de produtos e serviços. Das 12 grandes redes de influência definidas pelo instituto, Brasília é a que possui o mais alto PIB per capita, R$ 25,3 mil.

            A transformação de Brasília em uma grande região metropolitana é notável considerando-se que a cidade ainda não completou meio século de existência. Mas com esse crescimento vieram também as mazelas que afligem as grandes cidades brasileiras, agravadas, no caso de Brasília, pelo histórico problema brasileiro da má distribuição de renda, que se reproduziu em Brasília, muito embora, segundo o Plano Diretor de Lúcio Costa, toda a comunidade devesse conviver no mesmo espaço, sem a formação de guetos. A utopia socialista de sua concepção já foi rompida no próprio período da construção, quando foi necessário prover acampamentos para abrigar os operários, reservando-se o chamado Plano Piloto para moradia dos funcionários públicos. Os acampamentos, de provisórios passaram a assentamentos permanentes e precariamente urbanizados e muitos outros foram surgindo no decorrer dessas cinco décadas, acompanhando a pressão migratória.

De acordo com o Índice de Gini, coeficiente utilizado pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) para mensurar as diferenças entre ricos e pobres, entre sete grandes cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Brasília e Goiânia, nessa última se constatou a maior concentração de renda, no que foi seguida de perto por Brasília.

Este volume está organizado em três seções que correspondem, grosso modo, aos três movimentos mencionados. A primeira parte – Estudos de dialetologia urbana sobre características da fala do Distrito Federal – reúne pesquisas referentes à difusão dialetal, mais propriamente à passagem do regional para o suprarregional. O livro O falar candango foi organizado por Stella Bortoni, Vera Freitas e Ana Vellasco e será publicado pela Editora da Universidade de Brasília.

 

Categoria pai: Seção - Blog

Pesquisar

PDF Banco de dados doutorado

Em 16 de setembro de 2024, chegamos a 2.133 downloads deste livro. 

:: Baixar PDF

A Odisseia Homero

Em 16 de setembro de 2024, chegamos a  8.101 downloads deste livro. 

:: Baixar PDF

:: Baixar o e-book para ler em seu Macintosh ou iPad

Uma palavra depois da outra


Crônicas para divulgação científica

Em 16 de setembro de 2024, chegamos a 15.529 downloads deste livro.

:: Baixar PDF

:: Baixar o e-book para ler em seu Macintosh ou iPad

Novos Livros

 





Perfil

Nasci no remoto ano de 1945, em São Lourenço, encantadora estação de águas no sul de Minas, aonde Manuel Bandeira e outros doentes iam veranear em busca dos bons ares e águas minerais, que lhes pudessem restituir a saúde.

Leia Mais

Publicações

Do Campo para a cidade

Acesse: