Quem são esses brasileiros analfabetos residentes no DF?
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International Mother Language Day (novo) Folha de SP dia 21/02/10 Governo importa método cubano de alfabetização Programa é baseado em 65 aulas em vídeo, recorde para cursos do tipo, que costumam durar de seis a oito meses ANÁLISE No
afã de superar baixos índices de alfabetização, Estados adotam métodos
aligeirados que comprometem a qualidade e a relevância da aprendizagem Programa foi criado durante a década de 1990 DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O
método Sim, eu posso foi criado em Cuba no final da década de 1990,
quase quatro décadas depois de o país praticamente eliminar o
analfabetismo -hoje 99,8% da população sabe ler e escrever, segundo a
Unesco, o braço da ONU para a educação.
Técnicos de Cuba foram enviados aos Estados ondeo Ministério da Pesca implementa o projeto; despesas são pagas pelo Brasil
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após
anos de resultados tímidos no combate ao analfabetismo, o governo Lula
resolveu importar de Cuba uma tentativa de atacar o problema. Há dois
meses, o governo federal utiliza um método importado da ilha caribenha
para ensinar pescadores a ler e escrever.
O programa -chamado Sim,
eu posso, ou Yo, sí puedo, no original- promete alfabetizar uma pessoa
após 65 aulas em vídeo, um tempo recorde para cursos do tipo, que
costumam durar de seis a oito meses.
Para implantar o método,
técnicos cubanos foram enviados aos cinco Estados onde o projeto está
sendo implementado pelo Ministério da Pesca e Aquicultura.
O governo de Raúl Castro cedeu os filmes e enviou os consultores. O Brasil paga as despesas deles no país.
Para
Maria Luiza Gonçalves Ramos, que coordena o programa, a principal
vantagem do Sim, eu posso é que ele se adequa ao tempo dos pescadores:
como eles passam longos períodos no mar ou no rio, tendem a abandonar
cursos de alfabetização mais extensos.
Já o Sim, eu posso pode ser
encaixado no período de defeso, em que a pesca é proibida e que dura em
média três meses. Depois, são feitos "círculos de cultura", com
objetivo de consolidar o aprendizado.
Trazido ao Brasil em 2005, em
um projeto-piloto do Ministério da Educação no Piauí que acabou não
tendo seguimento, o Sim, eu posso também é utilizado pelo MST
(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e será aplicado neste ano em
Fortaleza e João Pessoa.
Vantagens
Para a coordenadora
de educação do movimento, Maria Cristina Vargas, uma das principais
vantagens do método é que ele possibilita que lugares com pouca
estrutura, ou com educadores menos qualificados, tenham acesso às
mesmas condições de locais mais favorecidos, uma vez que a aula
acontece pelo vídeo.
Por outro lado, críticos apontam que o método
não vai muito além da decodificação do alfabeto. Antonio Ferreira
Sobrinho, professor da UFPI (Universidade Federal do Piauí) que
acompanhou o projeto-piloto no Piauí, avalia que o método tira o aluno
do estágio mais primário do analfabetismo, mas, diferentemente de
outros programas, não enfatiza leitura e interpretação de textos. Esse,
segundo ele, foi um dos motivos para o projeto não continuar no Estado
-além do custo de aparelhos de TV e DVD.
Timothy Ireland,
especialista em educação da Unesco (ligada à ONU) e à frente do
departamento de Educação de Jovens e Adultos do MEC na época, também
diz que não adianta os alunos aprenderem rápido com o Sim, eu posso se
não continuarem estudando depois -com o tempo, esquecem o que
aprenderam.
De acordo com ele, a avaliação da aplicação do método no
Piauí indicou que a eficácia da iniciativa estava mais ligada ao fato
de os alfabetizadores terem tido treinamento prévio e acompanhamento ao
longo do programa do que ao método em si. Cerca de 80% dos que
participaram dos cursos foram considerados alfabetizados.
Embora
venha ganhando espaço no país nos últimos anos, o Sim, eu posso é ainda
minoritário entre os métodos de alfabetização usados no Brasil e tem
uma abrangência pequena.
Sem continuidade, método perde eficácia
MOACIR GADOTTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O
"Documento de Incidência da Sociedade Civil", preparado pelo Conselho
Internacional de Educação de Adultos e discutido na 4ª Conferência
Internacional de Educação de Adultos da Unesco, realizada em Belém, no
início de dezembro de 2009, fez um apelo aos Estados "para superar e ir
além das iniciativas baseadas em alfabetização a curto prazo e
campanhas de pós-alfabetização".
No afã de superar baixos índices
de alfabetização, Estados vêm adotando métodos aligeirados que
comprometem a qualidade e a relevância da aprendizagem. As políticas
devem ser articuladas no marco da aprendizagem ao longo de toda a vida.
Sem políticas estruturantes de longo prazo, intersetoriais e integrais,
não conseguiremos eliminar o analfabetismo. Os promotores do chamado
método cubano "Yo, sí puedo" (Sim, eu posso) sustentam que podem
alfabetizar em 35 dias. Como um processo de alfabetização intensivo,
ele se utiliza de cartilhas e é marcadamente instrucionista. Podemos
reconhecer a sua eficácia, mas não podemos deixar de apontar, também,
suas limitações pedagógicas. A avaliação, por exemplo, não pode se
constituir apenas de uma prova final ou da cópia de uma carta.
Como
um instrumento inicial de promoção da alfabetização, ele pode ter
efeitos positivos. Contudo, sem uma continuidade, esse método, a médio
prazo, perde a eficácia inicial. As campanhas gerais, notadamente com
voluntários e na base de muita mídia, desconsideram os diferentes
contextos regionais e a diversidade cultural dos aprendizes. A
utilização de novas tecnologias não deve quebrar a relação pedagógica.
Nada substitui o alfabetizador.
A alfabetização é multifacetada.
Não há uma só alfabetização como não há nenhum método milagroso.
Existem várias alfabetizações: digital, cívica, ecológica, política...
Há conhecimentos sensíveis, técnicos, simbólicos. O combate ao
analfabetismo não se reduz à política de escolha de um método. A
educação de adultos, a começar pela alfabetização, é um direito que
deve ser garantido a todos e com qualidade.
MOACIR GADOTTI é professor da Faculdade de Educação da USP e diretor do Instituto Paulo Freire
A primeira experiência foi
realizada no Haiti, com aulas via rádio. Posteriormente, o método foi
desenvolvido em vídeos que, de acordo com o governo cubano, chegaram a
28 países. Nos últimos anos, os governos de Bolívia, Equador e
Venezuela se declararam livres do analfabetismo após campanhas de
alfabetização que utilizaram o Sim, eu posso.
O método parte do
princípio de que os analfabetos têm alguma familiaridade com o sistema
numérico. Ao longo de todo o curso, então, cada letra será associada a
um número: A é 1, E é 2 e assim por diante.
Nas primeiras aulas, os
alunos aprendem a representar os números e, em seguida, as vogais. O
vídeo mostrará, por exemplo, a palavra "casa", com o número 1 abaixo
das duas letras A. Em seguida, na versão brasileira, vêm as consoantes,
que segundo os cubanos, são mais usadas em português: L, R e F.
Novela
As
aulas tentam se assemelhar a uma novela, em que, além da professora,
estrelam cinco alunos e um comentarista, personagem encenado pelo ator
Chico Diaz.
No Sim, eu posso, o educador que está na sala de aula
atua mais como um facilitador da aprendizagem do aluno, tirando dúvidas
e corrigindo exercícios. A professora mesmo é a que aparece no vídeo.
Ao
todo, são 65 "episódios". Considerando-se que seja exibido mais de um
vídeo por dia, a promessa é alfabetizar em sete semanas -o tempo,
porém, varia de acordo com o local onde é adotado. Ao final do curso, o
aluno deve escrever uma carta.
Em avaliação do método feita em 2006,
a Unesco diz que é uma "estratégia valiosa para lutar contra o
analfabetismo", mas tece diversas críticas: problemas "de caráter
técnico e político" dificultam uma avaliação externa dos resultados; a
autoavaliação feita por Cuba carece de "autocrítica" já que o regime
comunista gosta de propagandear seus supostos feitos e o sistema
explora pouco os vínculos da língua com a cultura e não aproveita a
contribuição de outros métodos.